Gn 37.1-4,11,18,23,24,28
INTRODUÇÃO
Um dos males que prejudicam a convivência entre as pessoas,
seja na família, entre amigos, entre cônjuges e até irmãos na igreja é o ciúme
doentio. Nesta lição traremos uma definição de ciúme; destacaremos o ciúme como
zelo e como uma obra da carne; traremos exemplos bíblicos de relacionamentos
atingidos por este comportamento; e, por fim, concluiremos pontuando três
virtudes que nos ajudam a vencer este mal, evitando assim seus danos e
conservando relacionamentos saudáveis.
I. DEFINIÇÃO DO TERMO CIÚME
O dicionário define ciúme como: “estado emocional complexo que
envolve um sentimento penoso provocado em relação a uma pessoa de que se
pretende o amor exclusivo” (HOUAISS, 2001, p. 734). No AT a palavra
hebraica “qinah” tem como ideia básica o profundo ardor emocional.
Pode ser o ardor: a) do ciúme (Nm
5.14; Ct8.6), b) do zelo (Nm 25.11;
Is 42.13; 63.15), ou c) da ira (Ez
35,11; 36.6). No NT a palavra grega é “zelos”, que pode ser usada no bom
sentido do zelo (2Co 7.11; 9.2; 11.2), ou no mau sentido do ciúme ou inveja (Rm
13.13; 1Co 3.3). Um sinônimo, “phthonos”, é sempre empregado quando
se deseja transmitir o sentido de inveja (Mt 27,18; Fp 1.15) (PFEIFFER, 2007,
p. 426).
II. O QUE A BÍBLIA DIZ
SOBRE O CIÚME
1. O ciúme divino.
O
ciúme de Deus é o ciúme daquele que ama e exige atenção exclusiva, adoração e
fidelidade do seu povo (Êx 34.14; Nm 25.11; Dt 32.16-21; J1 2.18; Zc 1.14;
8.2). Deus quer exclusividade do seu povo, que é chamado de povo seu (Sl 100.3;
Tt 2.14); e, propriedade peculiar (1Pe 2.9). Ele não nos divide com os ídolos
(Ez 8.3,5; Mt 6.23); nem com o mundo (2Co 6.14-18; Tg 4.4,5); nem com o diabo
(Cl 1.13); nem com o pecado (1Co 6.19,20).
2. O ciúme humano.
Segundo
dicionário exegético Vine, em nível de relacionamento humano, “qãnã”,
derivado de “qinah” tem sentido “fortemente
competitivo”. Em seu ser mais positivo, a palavra quer dizer: “ser
cheio de zelo ou ciúme justo” (2002, p. 304 – acréscimo nosso). Fica
claro que o ciúme humano pode ser positivo ou negativo. Ele é benéfico quando
expressa zelo, cuidado e carinho a outrem. O ciúme é negativo quando não pensa
no outro, mas em si mesmo, passando a ser uma obra da carne, listada em Gálatas
5.20, chamada de “emulações”,
traduzida na ARA de “ciúme”. É um dos
pecados que se manifestam nas relações interpessoais e que segundo Paulo: “os
que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus” (Gl 5.21).
III. ÁREAS EM QUE O CÍUME
HUMANO PODE APARECER
1. Entre os cônjuges.
Tem
sido uma das principais causas de conflito no matrimônio: “porque o amor é forte como a
morte, e duro como a sepultura o ciúme” (Ct 8.6). Geralmente, o ciúme
entre os cônjuges se dá por desconfiança de uma das partes, seja com motivo ou
sem motivo. Quando sem motivo, torna o relacionamento tempestuoso, pois o
cônjuge ciumento, desconfia em todo tempo, achando que seu amado(a) está se
envolvendo com outro. No AT quando um esposo tinha ciúmes da esposa e
desconfiava de sua lealdade, a conduzia ao sacerdote, para um julgamento. A
questão não se tratava de adultério comprovado, pois as leis concernentes a
esta condição eram claras e prescreviam a pena de morte (Lv 20.10). Este
regulamento relacionava-se com situações em que não se podia comprovar a
infidelidade (Nm 5.13,29) ou em que a conduta da esposa despertava suspeitas
(Nm 5.14). O sacerdote não poderia julgar precipitadamente, mas orientado por Deus
procurava a solução para este problema (Nm 5.16). Infelizmente, não são poucos
os casamentos que se dissolvem, por causa do ciúme descontrolado. O melhor
remédio para isso, é o autocontrole sobre os ímpetos e o amor, pois: “[...]
o
amor não se irrita, não suspeita mal” (1 Co 13.5). Em outra tradução,
diz: “o amor não arde em ciúmes” (ARA).
2. Entre amigos.
Infelizmente
o ciúme pode atingir as amizades e até destruí-las. Saul e Davi são um exemplo
disto. No começo, sempre que se encontrava afligido pelo espírito mal, Saul
mandava, chamar Davi para lhe trazer alívio com sua música (1Sm 16.17-23), mas
com o passar do tempo, ao ver a prosperidade de Davi, como guerreiro, Saul
começou a sentir ciúmes pelos comentários do povo (1Sm 18.6-8). Preocupado em
se manter no trono, Saul, viu Davi, a quem antes tratava como pai ao filho,
como uma ameaça, como nos mostra o texto bíblico: “E, desde aquele dia em
diante, Saul tinha Davi em suspeita” (1Sm 18.9). Seu ciúme era tão intendo, que
gerou inveja e ódio, ao ponto de Saul empreender forças para matar Davi (1Sm
18.10). Davi, porém, nem deixava de tocar a harpa para aliviar Saul (1Sm
19.9,10), e, nas vezes que teve a chance de se vingar não o fez (1Sm 24.6,10),
porque seu coração não nutria rancor, mas perdão. Quando Saul faleceu, Davi
lamentou amargamente (2Sm 1.11,12).
3. Entre parentes.
O
ciúme também pode atingir a família e trazer consigo grandes males, a exemplo
da família de José. A fidelidade de José a Jacó e os presentes que ganhava de
seu Pai, fizeram com que seus irmãos tivessem ciúmes, de forma que a
convivência se tornou turbulenta: “e não podiam falar com ele pacificamente”
(Gn 37.4). Somando-se a isso, José contou-lhes as revelações que recebia da
parte de Deus, pensando ser compreendido, mas o texto bíblico diz que: “o
aborreciam ainda mais” (Gn 37.5b). O ciúme descontrolado, fez com que
os irmãos, em vez de copiar o bom testemunho de José como filho, para ter o que
ele tinha, quisessem eliminá-lo a fim de acabar com os projetos de Jacó e de
Deus sobre ele (Gn 37.18-20). Para aliviarem a consciência, não o mataram, mas
o venderam para o Egito e forjaram sua morte para enganar Jacó, seu pai (Gn
37.26-34). A despeito da maldade dos filhos de Jacó, José sobreviveu e se
tornou um instrumento de livramento para toda a sua casa, no tempo da
gravíssima fome. Quando exaltado, José não se vingou dos seus irmãos, antes os
perdoou e lhes poupou a vida, pondo-os sob os seus cuidados no Egito (Gn
45.1-11).
4. Entre irmãos na fé.
Na
convivência como irmãos na igreja, precisamos ter cuidado para que o ciúme não
venha nos assaltar e, assim, minar a unidade fraternal que Deus tanto requer
(Ef 4.3; Cl 3.14). Talvez um caso típico de ciúmes, entre irmãos na fé, seja o
de duas cooperadoras do ministério de Paulo: Evódia e Síntique. Essas duas
mulheres eram proeminentes membros daquela igreja, as quais, possivelmente,
estavam reunidas para orar quando Paulo pregou o evangelho pela primeira vez em
Filipos (At 16.13,14). Aparentemente elas estavam enfrentando um conflito de
ordem pessoal e o apóstolo tenta resolver este problema quando diz: “sintam
o mesmo no Senhor”, ou seja, aquelas mulheres deveriam estar em
perfeita harmonia (Fp 2.2; 4.2), pois muitas vezes é possível crer em Jesus,
trabalhar pelo seu Reino, ser útil na obra do Senhor e ainda assim, ter algum
desentendimento com companheiros que estão envolvidos na mesma causa (At
15.2,7,39). Mas não existe desculpas para continuar sem a reconciliação (2Tm
4.11).
IV. RESULTADOS DO CIÚME NA FAMÍLIA DE JOSÉ
Vejamos,
agora, alguns dos resultados danosos do ciúme na família de José:
- Perda da comunhão (Gn 37.4): “Vendo, pois, seus irmãos que seu pai o amava mais do que a todos eles [...] não podiam falar com ele pacificamente”.
- Ódio (Gn 37.5,8): “Teve José um sonho, que contou a seus irmãos; por isso o odiaram ainda mais” “Por isso ainda mais o odiavam por seus sonhos e por suas palavras”.
- Inveja (Gn 37.11): “Seus irmãos, pois, o invejavam; seu pai, porém guardava este negócio no seu coração”.
- Conspiração (Gn 37.18): “E viram-no de longe e, antes que chegasse a eles, conspiraram contra ele para o matarem”.
- Homicídio (Gn 37.20a): “Vinde, pois, agora, e matemo-lo, e lancemo-lo numa destas covas [...]”
- Mentira (Gn 37.20): “[...] e diremos: Uma fera o comeu; e veremos que será dos seus sonhos”
- Violência (Gn 37.23): “E aconteceu que, chegando José a seus irmãos, tiraram de José a sua túnica [...].
- Antipatia (Gn 37.24): “E tomaram-no, e lançaram-no na cova; porém a cova estava vazia, não havia água nela”.
- Indiferença (Gn 37.25): “Depois assentaram-se a comer pão [...]”.
- Frieza (Gn 37.27,28): “Vinde e vendamo-lo a estes ismaelitas [...]. E venderam José por vinte moedas de prata [...]”.
- Falta de temor (Gn 37.31,31): “Então tomaram a túnica de José, e mataram um cabrito, e tingiram a túnica no sangue. [...] mandando levá-la a seu pai, e disseram: Temos achado esta túnica [...]”.
- Tristeza (Gn 37.34,35b): “Então Jacó rasgou as suas vestes, pôs saco sobre os seus lombos e lamentou a seu filho muitos dias. [...] Porquanto com choro hei de descer ao meu filho até à sepultura. Assim o chorou seu pai”.
V. A SOLUÇÃO PARA VENCER O CIÚME
1. Maturidade.
O
Houaiss define maturidade como: “estado do que atingiu o seu desenvolvimento
completo”. A maturidade mental, emocional e espiritual não ocorre de
modo rápido e instantâneo, mas progressivamente em Cristo (Cl 1.28,29). A
medida em que o crente se desenvolve mental, emocional e espiritualmente, vai
deixando para trás comportamentos carnais e vai crescendo em maturidade e se
tornando adulto. O crente maduro não sente ciúmes dos outros, ele aprender a
controlar seus impulsos e está confiante no Senhor de que o que ele recebeu de
Deus deve ser cuidado com zelo. O marido que ama a esposa, seu coração está nela
confiado e vice-versa (Pv 31.11). Ele não se incomoda com o sucesso alheio,
pois sabe que Deus pode fazer o mesmo ou mais com ele, caso queira (Rm 9.16).
2. Autocontrole.
No
grego, a palavra temperança é “enkráteia”, que significa: “moderação,
temperança, equilíbrio, autocontrole, domínio próprio”. A palavra vem
do grego cuja raiz significa: “pegar, segurar, designa uma pessoa que
segura a si mesma, que se mantém no pleno controle de si mesmo sobre os
próprios desejos e paixões” (1Co 7.9; Tt 1.8; 2.5; 2Pe 1.6) (LOPES,
2011, p. 250). Ser temperante é ter uma vida equilibrada, é viver com
moderação. Isto significa que devemos evitar os extremos de comportamento ou
expressão, conservando os apropriados e justos limites. O único caminho para
nos libertarmos do ciúme doentio é deixar-nos ser guiados por intermédio do
poder recebido do Espírito Santo (Rm 8.9; Ef 4.23,24; Cl 3.3-8).
3. Amor.
Do
grego “agape”, como substantivo aparece 116 vezes, e como verbo “agapao”
aparece 142 vezes no NT (CHAMPLIN, 2004, p. 139); trata-se de: “uma
virtude que predispõe alguém desejar o bem de outrem; uma preocupação altruísta”.
Assim como as demais virtudes, é o Espírito Santo que produz o fruto em nós;
que nos capacita a cumprir o segundo maior mandamento da lei (Lv 19.18; Mc
12.31). O apóstolo João enfatizou a importância do amor na dimensão horizontal
(1Jo 4.7,8,12,20). É pelo amor ao próximo que somos conhecidos como discípulos
(Jo 13.35). Portanto, quem ama o seu esposo(a); o seu irmão(ã) de sangue, ou
irmão na fé, não arde em ciúmes contra ele, pois “o amor não faz mal ao próximo; de
sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm 13.10).
CONCLUSÃO
Como
pudemos ver, o ciúme é extremamente danoso às relações interpessoais. A
maturidade, o autocontrole e o amor, são virtudes necessárias e que nos farão
suplantar esta obra da carne.
REFERÊNCIAS
Ø ARRINGTON, French L.; STRONSTAD, Roger. Comentário Bíblico Pentecostal.
CPAD.
Ø BEACON. Comentário Bíblico Romanos a 1e 2 Coríntios.
CPAD.
Ø LOPES, Hernandes Dias. Gálatas: A carta da liberdade cristã.
Hagnos.
Ø VINE, W.E, et al. Dicionário Vine: o significado exegético e
expositivo das palavras do AT e do NT. CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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