2Co. 4.11-18
INTRODUÇÃO
Nesta
lição, faremos a distinção entre homem interior e exterior, pontuaremos o
significado do sofrimento na teologia paulina em 2 Coríntios, mostraremos as
causas pelas quais sofremos, além de indicar a perspectiva paulina sobre o
consolo e a alegria em meio ao sofrimento, e por fim, mostraremos como manter a
renovação cotidiana do homem interior.
I. DEFINIÇÃO DE “HOMEM INTERIOR” E “HOMEM EXTERIOR”
Segundo
Kistemaker (2004, p. 225), os dois termos que Paulo emprega são inclusivos e
totalmente abrangentes. Incluem tudo o que é ligado à existência humana de todo
crente. O ser exterior (homem exterior) está exposto a “tentações, perigos e
putrefação”, enquanto o ser interior (homem interior) é renovado
pela comunhão diária com Cristo, e é fortalecido pelo Espírito Santo.
Esse processo de renovação tem seu início na regenera ção e é completado na
consumação. Para Paulo, a conversão na estrada de Damasco marcou o começo de seu
novo eu (comparar com Rm 6.6; 7.22; Ef. 3.16). A passagem de 2Co 4.16, se relaciona não apenas com Paulo e seus contemporâneos, mas também com
cada crente. Criado à imagem de Deus, o novo eu é transformado
progressivamente pelos princípios do conhecimento espiritual, da verdadeira
justiça e de santidade (Ef. 4.24; Cl 3.10).
II. O SIGNIFICADO DO SOFRIMENTO EM 2 CORÍNTIOS
Para
Schreiner (2020, pp. 86,90), Paulo começa essa carta explicando seus
sofrimentos apostólicos. Deus permite aflições em sua vida e o fortalece para
suportá-las, de forma que ele, como apóstolo, possa por sua vez fortalecer outros
que estejam sofrendo (2Co 1.3-7). Paulo explica que Deus “nos consola na
aflição”, de sorte que ele, como apóstolo, pode “confortar os que estiverem
passando por aflições por meio do consolo com que somos confortados por Deus” (2Co 1.4). As aflições de Paulo são para “consolo e salvação” deles (2Co 1.6).
Deus consola Paulo em seu sofrimento e Paulo, por sua vez, consola os
coríntios. Paulo com apóstolo transmite consolo e salvação a seus convertidos
de modo sem igual através do sofrimento.
Portanto,
as dores do apóstolo são o meio pelo qual o Espírito de Deus é derramado na
vida dos convertidos. Paulo atua como corolário da cruz de Cristo, no sentido
que seu sofrimento é caminho da salvação para os coríntios, assim como o
sofrimento é o caminho pelo qual o poder do salvador de Deus é liberado:
“Porque ele foi crucificado na fraqueza, mas vive pelo poder de Deus” (2Co
13.4) e, “Graças sejam dadas a Deus que sempre nos conduz à morte em Cristo e
manifesta através dele o aroma do seu conhecimento por toda a parte” (2Co 2.14).
A reflexão
que o apóstolo faz sobre seu sofrimento, nos ajuda a compreender como ele pode
dizem em Efésios que é o prisioneiro de Cristo por causa dos gentios (Ef. 3.1;
Fl 1.7) e que seus sofrimentos são para a glória deles (Ef. 3.13), uma vez que
Paulo entende suas aflições como um meio escolhido por Deus para a salvação dos
gentios (2Tm 2.9,10).
IV. PERSPECTIVA PAULINA SOBRE O CONSOLO E ALEGRIA EM MEIO AO SOFRIMENTO
A
Bíblia nos mostra claramente que o servo de Deus não está imune às tribulações.
Mas, ensina também que podemos obter regozijo e consolo divino, mesmo em meio
às aflições da vida, como veremos a seguir:
1. Paulo
sabia muito bem o que era padecer, pois, como vimos anteriormente, ele
enfrentou diversos tipos de aflições. No entanto, tinha convicção que jamais
seria desamparado: “Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não
desanimados. Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não
destruídos” (2Co 4.8,9);
2. Paulo
ensina também que é possível o crente regozijar-se, mesmo em meio ao sofrimento:
“Regozijo-me
agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de
Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja” (Cl 1.24). A Epístola aos
Filipenses, por exemplo, foi escrita quando Paulo estava preso em Roma (Fp
1.12,14). No entanto, ele não demonstra angústia, tristeza ou frustração; pelo contrário,
é nesta carta em que ele mais demonstra o seu regozijo e alegria (Fp 1.4,18;
2.2,17; 3.1; 4.1,4,10);
3. O
cristão que sofre por amor à Cristo, sem dúvida, experimentará também o consolo
divino: “Porque, assim como os sofrimentos de Cristo se manifestam em grande
medida a nosso favor, assim também a nossa consolação transborda por meio
de Cristo” (2Co 1.5);
4. Mesmo
em meio às tribulações, o apóstolo Paulo diz que estava cheio de consolação e
transbordante de gozo: “Grande é a ousadia da minha fala para
convosco, e grande a minha jactância a respeito de vós; estou cheio de
consolação; transbordo de gozo em todas as nossas tribulações” (2Co
7.4).
V. MANTENDO A RENOVAÇÃO COTIDIANA DO HOMEM INTERIOR
A
Palavra de Deus nos ensina, não apenas sobre a possibilidade das aflições na
vida do servo de Deus, mas, também, como devemos nos portar em meio ao
sofrimento. Vejamos:
1. Oração.
A
oração deve ser um hábito, um estilo de vida do crente (Sl 55.17; Dn 6.1; At
3.1). O apóstolo Paulo exorta: “Orai sem cessar” (1Ts 5.17).
2. Leitura da Palavra.
Priorizar
a leitura e meditação das Escrituras (Dt 17.19; Js 1.8; 8.34,35; Sl 1.3; ver Sl
119.15,97). No N.T, o Senhor Jesus critica os religiosos de sua época porque “Não
conheciam as Escrituras e nem o poder de Deus” (Mt 22.29).
3. Jejum.
O
jejum é uma prática bíblica (Sl 69.10; 2Sm 12.16). O próprio Cristo praticava a
disciplina do jejum e ensinava que ela devia fazer parte da vida consagrada do
cristão. A igreja do NT praticava o jejum (At 13.2,3; 14.23; 27.33).
4. Cantar Louvores.
O
louvor a Deus deve fazer parte da disciplina espiritual, pois o apóstolo Tiago
nos diz “Se esta alguém alegre, cante louvores [...]” (Tg 5.13). Tanto
no AT como no NT, a música esteve presente no culto de Israel e da Igreja
primitiva (Nm 10.1-10; Jz 7.22; Jô 38:7; Ef 5.19; 1Tm 3.16; At 16.25).
5. Culto doméstico.
O “culto
doméstico” é definido como “uma reunião da família, sob a liderança dos
pais cristãos, com a finalidade de cultuar a Deus no lar” (RENOVATO,
2013, p. 115). O culto doméstico se constitui uma importante disciplina, não só
para a renovação cotidiana do homem interior, bem como, de toda família (Dt
6.5,7-9; 20.5; Js 7.14; 24.15).
6. Confiando em Deus.
O
patriarca Jó, apesar de todas as provações, demonstrou uma confiança inabalável
em Deus, quando disse: “Ainda que ele me mate, nele esperarei...
Porque eu sei que o meu Redentor vive, e que por fim se levantará sobre a
terra... Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser
impedido” (Jó 13.15; 19.25; 42.2).
7. Reconhecendo que Deus está no
controle de tudo.
José,
sabia que Deus estava no controle da situação “Agora, pois, não vos entristeçais,
nem vos pese aos vossos olhos por me haverdes vendido para cá; porque para
conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós” (Gn 45.5).
8. Sabendo que tudo contribui para o bem
daqueles que amam a Deus.
O
salmista disse que foi através da aflição que ele aprendeu a obedecer ao Senhor
(Sl 119.67,71); Após a provação, Jó reconheceu que teve uma experiência mais
profunda com Deus (Jó 42.5); Foi através do sofrimento que o filho pródigo
lembrou-se da casa do pai (Lc 15.15-20); O apóstolo Paulo disse que a
tribulação produz paciência (Rm 5.3); Tiago diz que a prova da fé produz
paciência (Tg 1.2-4). Por estas e outras razões, o mesmo Paulo diz: “E
sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles
que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm
8.28).
9. Tendo esperança que um dia todo
sofrimento terá fim.
O
Senhor Jesus prometeu vir nos buscar (Jo 14.1-3); As aflições deste mundo não
se comparam com a glória que nos será revelada (Rm 8.18); Aqueles que são
participantes das aflições de Cristo, se alegrarão e se regozijarão na Sua
vinda (1Pe 4.12,13); Quando Cristo voltar, seremos semelhantes a Ele, e teremos
um corpo glorioso e incorruptível, imune às doenças (I Jo 3.1,2); Nós
habitaremos com Cristo, onde “...não haverá mais morte, nem pranto, nem
clamor, nem dor...” (Ap 21.4).
CONCLUSÃO
Concluímos
que diante de tantos desafios propostos por uma sociedade relativista,
hedonista e cética, manter-se renovado diariamente é uma condição inegociável.
Só conseguiremos vencer todas as dificuldades e ataques sofridos no homem
interior, com a ajuda do Espírito Santo e disposição pessoal em nos mantermos
firmes, sem desanimar, sabendo que a nossa cidade está nos céus, de onde aguardamos
o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Maranata, Ora vem Senhor Jesus.
REFERÊNCIAS
Ø BAPTISTA, Douglas. A
Igreja e o Império do Mal. CPAD.
Ø BEACON, Comentário Bíblico. vol.
3. CPAD.
Ø KISTEMAKER, Simon. 2 Coríntios.
CULTURA CRISTÃ
Ø KRUSE, Colin. II Coríntios, Introdução e
Comentário. VIDA NOVA
Ø SCHREINER, Thomas R. Teologia
de Paulo. VIDA NOVA
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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