sábado, 11 de maio de 2024

LIÇÃO 06 – AS NOSSAS ARMAS ESPIRITUAIS






Lc 4.1-4; 16-20
 
 

INTRODUÇÃO
Nesta lição, veremos algumas informações sobre e tentação de Jesus segundo o Evangelho de Lucas; pontuaremos as propostas do inimigo na batalha espiritual enfrentada por Jesus; notaremos a realidade da batalha espiritual bem como o prepara do crente; e por fim, falaremos sobre o campo da batalha espiritual.
 
 
I. A TENTAÇÃO DE JESUS SEGUNDO O EVANGELHO DE LUCAS
Após ser batizado por João Batista no Jordão (Lc 3.21,22), Jesus foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto para ser tentado. Mas alguém pode perguntar: como era possível que o Jesus sem pecado fosse tentado? Devemos antes de mais nada observar que o que foi tentado foi sua natureza humana. O escritor Lucas fornece alguns detalhes desse fato que iremos destacar:
 
1. O lugar da tentação (Lc 4.1).
O referido texto nos mostra que Jesus foi tentado no deserto “E Jesus […] foi levado […] ao deserto”. A palavra deserto no grego “eremía” e “éremus” significam, ambos, “deserto” ou “lugar ermo”, ou seja, não somente um verdadeiro deserto, mas também um lugar desabitado ou escassamente habitado (Barclay, 1955, p. 39).
 
2. O tempo da tentação (Lc 4.2a).
O relato de Mateus indica que foi “após os quarenta dias de jejum” que a tentação teve início (Mt 4.1). Mas Lucas diz especificamente que a tentação durou todo esse tempo “e quarenta dias foi tentado pelo diabo”. Jesus, apesar da tensão e da fome, mostrou-se vitorioso. É interessante destacar que as tentações que Cristo sofreu não se resumiram ao deserto (Lc 22.28). O diabo deu uma trégua depois do episódio no deserto, mas logo retornaria (Lc 4.13).
 
3. O agente tentador (Lc 4.2b).
O referido texto nos informa que quem tentou Jesus foi o próprio diabo: “e quarenta dias foi tentado pelo diabo” (Mt 4.3; Mc 1.13). A Bíblia nos mostra que ele é o principal agente da tentação (Gn 3.1; 2Co 11.3; 1Ts 3.5; 1Pe 5.8). O registro lucano informa quais as artimanhas do Inimigo para esse fim: a) o diabo chegou-se a Jesus no deserto valendo-se de que ele estava sozinho (Mt 4.1; Lc 4.1); b) aproveitou um momento que o Mestre se encontrava debilitado fisicamente (Mt 4.2; Lc 4.2); c) com a expressão “se” talvez quisesse colocar dúvida na mente de Cristo (Lc 4.3); d) tentou três vezes, pois entendia que a insistência podia fazer o Filho de Deus ceder (Lc 4.3); e, e) usou a Palavra de Deus de forma distorcida para ludibriar (Lc 4.10,11).
 
 
II. AS PROPOSTAS DO INIMIGO NA TENTAÇÃO
Lucas apresenta uma sequência de tentações diferente da do evangelho de Mateus, contudo o relato de Lucas não afirma ser cronológico. Não sabemos por que Lucas inverte a ordem das duas últimas tentações, e não há proveito em especular a respeito disso. O que deve ser destacado é que a tentação foi uma realidade. “Jesus é colocado em teste para determinar se possui as qualidades necessárias para ser o Salvador, o Cristo e o Senhor. O diabo, seu arqui-inimigo, confronta Jesus e tenta seduzi-lo antes do início de seu ministério. Seu objetivo é frustrar o plano de salvação de Deus logo no princípio, induzindo Jesus a faltar com sua palavra para com Deus” (Tokumboh, 2010, p. 1241). Vejamos quais as intenções do diabo na tentação do deserto:
 
1. Duvidar da revelação recebida (Lc 4.3).
No batismo, Jesus ouvira do céu a declaração do Pai dizendo: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo” (Lc 3.22b). No entanto, no deserto, o diabo o tentou a duvidar dessa declaração, quando o quis incitar a transformar as pedras em pão como evidência de sua filiação divina (Lc 4.3). Em primeiro lugar, Jesus não precisava provar para Satanás que ele era o Filho de Deus, pois Satanás sabia disso (Mc 5.7; Lc 8.28). Em segundo lugar Jesus não compôs a sua própria resposta para o tentador, mas extraiu a sua resposta da revelação das Escrituras (Dt. 8.3; Lc 4.4).
 
2. Apossar-se de forma prematura dos direitos de Messias (Lc 4.5-8).
Lucas enfatiza o fato de que o Maligno fez aparecer diante de Jesus toda a pompa deste mundo, alegando ser dele (Jo 12.31; 14.30; 16.11). Na verdade Cristo Jesus é herdeiro de tudo (Rm 8.17; Hb 1.2). Todavia, a Escritura nos mostra que todas as coisas lhe estariam sujeitas no devido tempo (Hb 10.13; Ap 11.15). Querer tomar posse dos reinos antes de passar pela cruz era contrariar o plano divino. Mas, Jesus estava comprometido plenamente com a vontade divina (Jo 4.34; 5.30; 6.38; Hb 10.7).
 
3. Testar a revelação recebida (Lc 4.9-12).
O Maligno nesta ocasião cita a Escritura (Sl 91.11-12) para assegurar Jesus que Ele ficaria bastante seguro. Este, porém, é um emprego errôneo da Bíblia. E torcer um texto para servir um propósito. Jesus rejeita esta tentação, conforme fizera com as outras duas, ao apelar para o significado verdadeiro da Bíblia (Dt 6.16). Não cabe ao homem submeter Deus ao teste, nem sequer quando o homem é o próprio Filho de Deus encarnado (Morris, 2007, pp. 98,99).
 
 
III. A REALIDADE DA BATALHA ESPIRITUAL
A batalha espiritual é uma realidade com a qual todo crente, em algum momento, irá se deparar. Não existe ninguém que seja imune à batalha espiritual, pois até mesmo Jesus, o homem perfeito, foi submetido. A resposta à batalha espiritual não é, portanto, negá-la, mas enfrentá-la à luz da Palavra de Deus. Notemos algumas observações que devemos ter:
 
1. Não ignorar essa realidade.
Infelizmente não são poucos os cristãos que ignoram que estamos numa batalha espiritual contra os seres demoníacos. Alguns ignoram por falta de conhecimento, outras porque preferem não acreditar. Ignorar o diabo não o fará deixar de existir e de investir contra nós. Acerca disso Paulo diz: “Porque não ignoramos os seus ardis” (2Co 2.11). Pedro também afirmou que: “o diabo […] anda em derredor, bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1Pe 5.8 veja ainda 1Co 7.5; Ef 6.16; 1Ts 2.18; Ap 12.17). Embora, haja anjos decaídos que estão algemados no Inferno (2Pe 2.4; Jd v.6); há outros que estão soltos, como agentes de Satanás, sob o seu domínio e controle (Ef 2.2; Αp 12.7).
 
2. Não supervalorizar essa realidade.
Enquanto uns ignoram a realidade do inimigo das nossas almas, há outros que cometem pelo menos dois erros: a) atribuem tudo ao diabo. Embora Satanás seja um causador de males aos homens na terra, há males que sobrevêm ao homem por causa do seu pecado (Rm 5.12; Lm 3.39), e outros que são enviados por Deus como punição (Gn 6.5,17; 2 Cr 7.13); e, b) acham que o diabo é tão poderoso quanto Deus. É bom dizer que embora o diabo tenha certo poder (At 26.18; 2 Ts 2.9), pois foi um ser angelical de destaque no mundo espiritual (Is 14.12-19; Ez 28.14,15), ele não pode agir de forma autônoma, pois esteve e sempre estará sob o controle de Deus (Jó 1.11,12; Mc 5.9,10; Lc 22.31).
 
3. Ser moderado a essa realidade.
Que existe um reino tenebroso, diabólico, organizado no mundo espiritual (Ef 6.12) influenciando as nações e os povos para o mal em todos os sentidos, está patente na Bíblia: “o mundo jaz no maligno” (1Jo 5.19). Jesus, por diversas vezes chamou o diabo de “o príncipe deste mundo” (Jo 12.31; 14.30; 16.11); Paulo de “[…] o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos […]” (2 Co 4.4). Ele também falou do “príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência” (Ef 2.2). No entanto, a Bíblia também diz que, por ocasião do sacrifício de Cristo que, esmagou a cabeça da serpente (Gn 3.15), e despojou os principados e potestades, quando triunfou deles na cruz do Calvário (Cl 2.15), sua atuação ficou ainda mais restrita no mundo, pela presença do Espírito Santo e da igreja (2Ts 2.7). A esta Igreja, o Senhor Jesus concedeu poder e autoridade sobre os demônios e todo poder do maligno (Mc 16.17; Lc 10.19); de forma que “as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).
 
 
IV. O PREPARO ESPIRITUAL DO CRENTE PARA A BATALHA
A imagem que o apóstolo Paulo na sua carta aos Efésios é a de uma linguagem retirada do contexto militar romano. A expressão “toda a armadura” traduz o termo grego “panóplia”, que significa “a armadura completa de um soldado fortemente armado” (Ef 6.11,13). Na Carta, a orientação não é para usar armas próprias, mas tomar o equipamento dado por Deus, resistir bravamente e marchar contra as potestades do ar.
 
1. Fortalecidos no poder do Senhor.
Quando o apóstolo Paulo usa a expressão na forma passiva “fortalecei-vos no Senhor” (Ef 6.10a) indica que não temos poder em nós mesmos. Esse excelso poder nos é conferido pela comunhão com Deus, em Cristo, por meio do Espírito Santo (Jo 15.7; 1Jo 1.3). Por isso precisamos estar fortalecidos por meio da “renovação da mente” (Ef 4.23), da “vida em santidade” (Ef 4.24) e “ser cheio do Espírito” (Ef 5.18). A vitória não pode ser alcançada por outro meio. Conhecer as Escrituras sem a devida obediência e frequentar os cultos sem a genuína conversão não são suficientes. Não obstante, o poder de Deus está disponível aos fiéis para “pisar serpentes, e escorpiões, e toda a força do Inimigo” (Lc 10.19).
 
2. Vigilantes em toda a oração e súplica.
Paulo enfatiza a necessidade de uma vida cristã permeada pela prática da oração. Não é possível entrar em combate sem a cobertura de tão preciosa arma espiritual (Lc 21.36). A expressão “orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito” (Ef 6.18) significa clamar pelo favor divino em qualquer circunstância e oportunidades. Esse clamor deve estar acompanhado de vigilância (Is 59.1,2), pois esta preserva o crente das astutas ciladas do Inimigo (Sl 124.7).
 
 
V. CONHECENDO O CAMPO DA BATALHA ESPIRITUAL
A expressão usada por Paulo: “ciladas do diabo” (Ef 6.11) indica as “armadilhas” articuladas perversamente pelo reino das trevas. O líder desse reino é identificado como diábolos, que significa “caluniador” e “acusador” (Mt 4.1; Jo 8.44; 1Pe 5.8). Vejamos algumas características dessa batalha espiritual:
 
1. O conflito contra o reino das trevas.
Paulo enfatiza que esse conflito não é “contra carne e sangue” (Ef 6.12). Não se trata de lutar contra o ser humano, mas contra o reino das trevas nas “regiões celestes”. Essas declarações indicam que a batalha não é física, mas travada no mundo espiritual. O conflito é contra as hostes que, debaixo da autoridade do Diabo, mantêm os homens na escuridão (1Jo 5.19). Nessa metáfora, fica claro que o cenário do campo de batalha do soldado é espiritual (Ef 6.11,12), ao mesmo que se revela a natureza pessoal do conflito, pois essa luta se dá tanto na área individual quanto na área coletiva da igreja (1Pe 5.8,9).
 
2. As agências das potestades do ar.
Paulo identifica as forças do mal que marcham contra a Igreja como “principados, potestades, príncipes das trevas deste século e hostes espirituais da maldade” (Ef 6.12). Esses seres são caracterizados por três aspectos: a) Eles são poderosos. Os títulos “principados e potestades” indicam poder, primazia e autoridade para agir; “príncipes das trevas” são líderes de anjos decaídos, que sob o comando do Diabo exercem domínio; b) Eles são malignos. Esses agentes formam “as hostes espirituais da maldade”. Refere-se a demônios que empregam seu poder destrutivamente para o mal; e, c) Eles são astutos. São cheios de sutilezas e maquinam a queda da Igreja. Apesar desse imenso império do mal, a Igreja é exortada a não temer. Somos incentivados a lutar e, sobretudo, a vencer, pois o Senhor da Igreja está elevado ao nível “acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio” (Ef 1.21).
 
 
CONCLUSÃO
Em certo sentido, a “armadura de Deus” é uma imagem de Jesus Cristo. Ele é a Verdade (Jo 14.6); Ele é nossa justiça (2Co 5.21) e nossa paz (Ef 2.14). Ele é fiel (Gl 2.20); é nossa salvação (Lc 2.30); e, é a Palavra de Deus (Jo 1.1,14). Isso significa que, quando aceitamos a Cristo, também recebemos a armadura. No momento da salvação, vestimos a armadura de uma vez por todas. No entanto, devemos nos apropriar dela cada dia: “[…] vistamo-nos das armas da luz” (Rm 13.12).



 
REFERÊNCIAS
ü  SOARES, Ezequias; SOARES, Daniele. Batalha Espiritual. CPAD, 2018.
ü  SOARES, Ezequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. CPAD, 2017.
ü  STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD, 1995.
ü  WIERSBE, W. W (Trad. Susana Klassen). Comentário Bíblico Expositivo NT. GEOGRÁFICA, 2007.
ü  HANEGRAAFF Hank (Trad. Marta Andrade). Armadura Espiritual. CPAD, 2005.
ü  MORRIS, Leon, L. Lucas: Introdução e Comentário. VIDA NOVA.
 
 
Por Rede Brasil de Comunicação.

 


Nenhum comentário:

Postar um comentário