Lc
4.1-4; 16-20
INTRODUÇÃO
Nesta lição, veremos algumas
informações sobre e tentação de Jesus segundo o Evangelho de Lucas; pontuaremos
as propostas do inimigo na batalha espiritual enfrentada por Jesus; notaremos a
realidade da batalha espiritual bem como o prepara do crente; e por fim,
falaremos sobre o campo da batalha espiritual.
I.
A TENTAÇÃO DE JESUS SEGUNDO O EVANGELHO DE LUCAS
Após ser batizado por João Batista
no Jordão (Lc 3.21,22), Jesus foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto para
ser tentado. Mas alguém pode perguntar: como era possível que o Jesus sem
pecado fosse tentado? Devemos antes de mais nada observar que o que foi tentado
foi sua natureza humana. O escritor Lucas fornece alguns detalhes desse fato
que iremos destacar:
1. O lugar da
tentação (Lc 4.1).
O referido texto nos mostra que
Jesus foi tentado no deserto “E Jesus […] foi levado […] ao deserto”.
A palavra deserto no grego “eremía” e “éremus”
significam, ambos, “deserto” ou “lugar ermo”,
ou seja, não somente um verdadeiro deserto, mas também um lugar desabitado ou
escassamente habitado (Barclay, 1955, p. 39).
2. O tempo da
tentação (Lc 4.2a).
O relato de Mateus indica que foi “após
os quarenta dias de jejum” que a tentação teve início (Mt 4.1). Mas
Lucas diz especificamente que a tentação durou todo esse tempo “e
quarenta dias foi tentado pelo diabo”. Jesus, apesar da tensão e da
fome, mostrou-se vitorioso. É interessante destacar que as tentações que Cristo
sofreu não se resumiram ao deserto (Lc 22.28). O diabo deu uma trégua depois do
episódio no deserto, mas logo retornaria (Lc 4.13).
3. O agente
tentador (Lc 4.2b).
O referido texto nos informa que
quem tentou Jesus foi o próprio diabo: “e quarenta dias foi tentado pelo
diabo” (Mt 4.3; Mc 1.13). A Bíblia nos mostra que ele é o principal
agente da tentação (Gn 3.1; 2Co 11.3; 1Ts 3.5; 1Pe 5.8). O registro lucano
informa quais as artimanhas do Inimigo para esse fim: a) o diabo
chegou-se a Jesus no deserto valendo-se de que ele estava sozinho (Mt 4.1; Lc
4.1); b) aproveitou um momento que o Mestre se encontrava debilitado
fisicamente (Mt 4.2; Lc 4.2); c) com a expressão “se” talvez quisesse
colocar dúvida na mente de Cristo (Lc 4.3); d) tentou três vezes, pois
entendia que a insistência podia fazer o Filho de Deus ceder (Lc 4.3); e, e)
usou a Palavra de Deus de forma distorcida para ludibriar (Lc 4.10,11).
II.
AS PROPOSTAS DO INIMIGO NA TENTAÇÃO
Lucas apresenta uma sequência de
tentações diferente da do evangelho de Mateus, contudo o relato de Lucas não
afirma ser cronológico. Não sabemos por que Lucas inverte a ordem das duas
últimas tentações, e não há proveito em especular a respeito disso. O que deve
ser destacado é que a tentação foi uma realidade. “Jesus é colocado em teste
para determinar se possui as qualidades necessárias para ser o Salvador, o
Cristo e o Senhor. O diabo, seu arqui-inimigo, confronta Jesus e tenta
seduzi-lo antes do início de seu ministério. Seu objetivo é frustrar o plano de
salvação de Deus logo no princípio, induzindo Jesus a faltar com sua palavra
para com Deus” (Tokumboh, 2010, p. 1241). Vejamos quais as intenções do diabo
na tentação do deserto:
1. Duvidar da
revelação recebida (Lc 4.3).
No batismo, Jesus ouvira do céu a
declaração do Pai dizendo: “Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo”
(Lc 3.22b). No entanto, no deserto, o diabo o tentou a duvidar dessa
declaração, quando o quis incitar a transformar as pedras em pão como evidência
de sua filiação divina (Lc 4.3). Em primeiro lugar, Jesus não precisava provar
para Satanás que ele era o Filho de Deus, pois Satanás sabia disso (Mc 5.7; Lc
8.28). Em segundo lugar Jesus não compôs a sua própria resposta para o
tentador, mas extraiu a sua resposta da revelação das Escrituras (Dt. 8.3; Lc
4.4).
2. Apossar-se de
forma prematura dos direitos de Messias (Lc 4.5-8).
Lucas enfatiza o fato de que o
Maligno fez aparecer diante de Jesus toda a pompa deste mundo, alegando ser
dele (Jo 12.31; 14.30; 16.11). Na verdade Cristo Jesus é herdeiro de tudo (Rm
8.17; Hb 1.2). Todavia, a Escritura nos mostra que todas as coisas lhe estariam
sujeitas no devido tempo (Hb 10.13; Ap 11.15). Querer tomar posse dos reinos
antes de passar pela cruz era contrariar o plano divino. Mas, Jesus estava
comprometido plenamente com a vontade divina (Jo 4.34; 5.30; 6.38; Hb 10.7).
3. Testar a
revelação recebida (Lc 4.9-12).
O Maligno nesta ocasião cita a
Escritura (Sl 91.11-12) para assegurar Jesus que Ele ficaria bastante seguro.
Este, porém, é um emprego errôneo da Bíblia. E torcer um texto para servir um
propósito. Jesus rejeita esta tentação, conforme fizera com as outras duas, ao
apelar para o significado verdadeiro da Bíblia (Dt 6.16). Não cabe ao homem
submeter Deus ao teste, nem sequer quando o homem é o próprio Filho de Deus
encarnado (Morris, 2007, pp. 98,99).
III.
A REALIDADE DA BATALHA ESPIRITUAL
A batalha espiritual é uma
realidade com a qual todo crente, em algum momento, irá se deparar. Não existe
ninguém que seja imune à batalha espiritual, pois até mesmo Jesus, o homem
perfeito, foi submetido. A resposta à batalha espiritual não é, portanto,
negá-la, mas enfrentá-la à luz da Palavra de Deus. Notemos algumas observações
que devemos ter:
1. Não ignorar
essa realidade.
Infelizmente não são poucos os
cristãos que ignoram que estamos numa batalha espiritual contra os seres
demoníacos. Alguns ignoram por falta de conhecimento, outras porque preferem
não acreditar. Ignorar o diabo não o fará deixar de existir e de investir
contra nós. Acerca disso Paulo diz: “Porque não ignoramos os seus ardis”
(2Co 2.11). Pedro também afirmou que: “o diabo […] anda em derredor,
bramando como leão, buscando a quem possa tragar” (1Pe 5.8 veja ainda
1Co 7.5; Ef 6.16; 1Ts 2.18; Ap 12.17). Embora, haja anjos decaídos que estão
algemados no Inferno (2Pe 2.4; Jd v.6); há outros que estão soltos, como
agentes de Satanás, sob o seu domínio e controle (Ef 2.2; Αp 12.7).
2. Não
supervalorizar essa realidade.
Enquanto uns ignoram a realidade do
inimigo das nossas almas, há outros que cometem pelo menos dois erros: a)
atribuem tudo ao diabo. Embora Satanás seja um causador de males aos
homens na terra, há males que sobrevêm ao homem por causa do seu pecado (Rm
5.12; Lm 3.39), e outros que são enviados por Deus como punição (Gn 6.5,17; 2
Cr 7.13); e, b) acham que o diabo é tão poderoso quanto Deus. É
bom dizer que embora o diabo tenha certo poder (At 26.18; 2 Ts 2.9), pois foi
um ser angelical de destaque no mundo espiritual (Is 14.12-19; Ez 28.14,15),
ele não pode agir de forma autônoma, pois esteve e sempre estará sob o
controle de Deus (Jó 1.11,12; Mc 5.9,10; Lc 22.31).
3. Ser moderado a
essa realidade.
Que existe um reino tenebroso,
diabólico, organizado no mundo espiritual (Ef 6.12) influenciando as nações e
os povos para o mal em todos os sentidos, está patente na Bíblia: “o
mundo jaz no maligno” (1Jo 5.19). Jesus, por diversas vezes chamou o
diabo de “o príncipe deste mundo” (Jo 12.31; 14.30; 16.11); Paulo
de “[…] o deus deste século cegou os entendimentos dos
incrédulos […]” (2 Co 4.4). Ele também falou do “príncipe das
potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência”
(Ef 2.2). No entanto, a Bíblia também diz que, por ocasião do sacrifício de
Cristo que, esmagou a cabeça da serpente (Gn 3.15), e despojou os principados e
potestades, quando triunfou deles na cruz do Calvário (Cl 2.15), sua atuação
ficou ainda mais restrita no mundo, pela presença do Espírito Santo e da igreja
(2Ts 2.7). A esta Igreja, o Senhor Jesus concedeu poder e autoridade sobre os
demônios e todo poder do maligno (Mc 16.17; Lc 10.19); de forma que “as
portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16.18).
IV.
O PREPARO ESPIRITUAL DO CRENTE PARA A BATALHA
A imagem que o apóstolo Paulo na
sua carta aos Efésios é a de uma linguagem retirada do contexto militar romano.
A expressão “toda a armadura” traduz o termo grego “panóplia”,
que significa “a armadura completa de um soldado fortemente armado”
(Ef 6.11,13). Na Carta, a orientação não é para usar armas próprias, mas tomar
o equipamento dado por Deus, resistir bravamente e marchar contra as potestades
do ar.
1. Fortalecidos no
poder do Senhor.
Quando o apóstolo Paulo usa a
expressão na forma passiva “fortalecei-vos no Senhor” (Ef 6.10a)
indica que não temos poder em nós mesmos. Esse excelso poder nos é conferido
pela comunhão com Deus, em Cristo, por meio do Espírito Santo (Jo 15.7; 1Jo
1.3). Por isso precisamos estar fortalecidos por meio da “renovação da
mente” (Ef 4.23), da “vida em santidade” (Ef 4.24) e “ser
cheio do Espírito” (Ef 5.18). A vitória não pode ser alcançada por
outro meio. Conhecer as Escrituras sem a devida obediência e frequentar os
cultos sem a genuína conversão não são suficientes. Não obstante, o poder de
Deus está disponível aos fiéis para “pisar serpentes, e escorpiões, e
toda a força do Inimigo” (Lc 10.19).
2. Vigilantes em
toda a oração e súplica.
Paulo enfatiza a necessidade de uma
vida cristã permeada pela prática da oração. Não é possível entrar em combate
sem a cobertura de tão preciosa arma espiritual (Lc 21.36). A expressão “orando
em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito” (Ef 6.18)
significa clamar pelo favor divino em qualquer circunstância e oportunidades.
Esse clamor deve estar acompanhado de vigilância (Is 59.1,2), pois esta
preserva o crente das astutas ciladas do Inimigo (Sl 124.7).
V.
CONHECENDO O CAMPO DA BATALHA ESPIRITUAL
A expressão usada por Paulo: “ciladas do diabo”
(Ef 6.11) indica as “armadilhas” articuladas perversamente pelo
reino das trevas. O líder desse reino é identificado como diábolos,
que significa “caluniador” e “acusador” (Mt 4.1; Jo
8.44; 1Pe 5.8). Vejamos algumas características dessa batalha espiritual:
1. O conflito contra o reino das
trevas.
Paulo enfatiza que esse conflito não é “contra
carne e sangue” (Ef 6.12). Não se trata de lutar contra o ser humano,
mas contra o reino das trevas nas “regiões celestes”. Essas
declarações indicam que a batalha não é física, mas travada no mundo
espiritual. O conflito é contra as hostes que, debaixo da autoridade do Diabo,
mantêm os homens na escuridão (1Jo 5.19). Nessa metáfora, fica claro que o
cenário do campo de batalha do soldado é espiritual (Ef 6.11,12), ao mesmo que
se revela a natureza pessoal do conflito, pois essa luta se dá tanto na área
individual quanto na área coletiva da igreja (1Pe 5.8,9).
2. As agências das potestades do
ar.
Paulo identifica as forças do mal que marcham contra a
Igreja como “principados, potestades, príncipes das trevas deste século e
hostes espirituais da maldade” (Ef 6.12). Esses seres são
caracterizados por três aspectos: a) Eles são poderosos. Os títulos “principados
e potestades” indicam poder, primazia e autoridade para agir;
“príncipes das trevas” são líderes de anjos decaídos, que sob o comando do
Diabo exercem domínio; b) Eles são malignos. Esses agentes formam “as
hostes espirituais da maldade”. Refere-se a demônios que empregam seu
poder destrutivamente para o mal; e, c) Eles são astutos. São cheios de
sutilezas e maquinam a queda da Igreja. Apesar desse imenso império do mal, a
Igreja é exortada a não temer. Somos incentivados a lutar e, sobretudo, a
vencer, pois o Senhor da Igreja está elevado ao nível “acima de todo o
principado, e poder, e potestade, e domínio” (Ef 1.21).
CONCLUSÃO
Em certo sentido, a “armadura
de Deus” é uma imagem de Jesus Cristo. Ele é a Verdade (Jo 14.6); Ele é
nossa justiça (2Co 5.21) e nossa paz (Ef 2.14). Ele é fiel (Gl 2.20); é nossa
salvação (Lc 2.30); e, é a Palavra de Deus (Jo 1.1,14). Isso significa que,
quando aceitamos a Cristo, também recebemos a armadura. No momento da salvação,
vestimos a armadura de uma vez por todas. No entanto, devemos nos apropriar
dela cada dia: “[…] vistamo-nos das armas da luz”
(Rm 13.12).
REFERÊNCIAS
ü SOARES,
Ezequias; SOARES, Daniele. Batalha Espiritual. CPAD, 2018.
ü SOARES,
Ezequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. CPAD,
2017.
ü STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD, 1995.
ü WIERSBE,
W. W (Trad. Susana Klassen). Comentário Bíblico Expositivo NT.
GEOGRÁFICA, 2007.
ü HANEGRAAFF
Hank (Trad. Marta Andrade). Armadura Espiritual. CPAD, 2005.
ü MORRIS,
Leon, L. Lucas: Introdução e Comentário. VIDA NOVA.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário