1Jo 1.1-3; 4.1-3; 2Jo 7
INTRODUÇÃO
Nesta
lição veremos a definição do termo “encarnação”; pontuaremos a encarnação do
Verbo e seu “autoesvaziamento”; comentaremos sobre a natureza humana de Jesus;
e, por fim, elencaremos os propósitos da encarnação do Verbo.
I. DEFINIÇÃO DA PALAVRA ENCARNAÇÃO
1.
A etimologia do termo.
A
expressão “encarnação” é um termo usado pelos teólogos para
indicar que Jesus, o Filho de Deus, assumiu a “forma de carne humana”.
Encarnar significa: “fazer-se carne, fazer-se homem, tornar-se humano,
revestir-se de carne”. A encarnação do Verbo consisti no autoesvaziamento
de Cristo do grego “ekenōsen” [esvaziar, auto-humilhar,
neutralizar, anular, despir-se de uma dignidade justa, descendo a uma condição
inferior]. A encarnação afirma especificamente a humanidade de Jesus. A palavra
encarnação significa: “o ato de ser feito carne” (Jo 1.14). O
apóstolo Paulo explica a verdade da encarnação de maneira muito clara (Fp
2.5-8). Sem a encarnação, Cristo não poderia realmente morrer, e se Ele não
pudesse morrer, a cruz não teria sentido. Por isso, o escritor aos hebreus
disse: “Pelo que, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não
quiseste, mas corpo me preparaste” (Hb 10.5).
II.
A ENCARNAÇÃO DO VERBO E O AUTO-ESVAZIAMENTO
Certa
vez o evangelista Billy Graham afirmou com muita propriedade: “O maior
acontecimento da história não foi o homem subir e pisar na lua, foi Deus descer
e pisar na terra”. A encarnação de Jesus foi maravilhosa em todos os
seus aspectos, provando ser Ele o maior e mais importante personagem da
história da humanidade. Na encarnação O Deus eterno se fez carne, o Senhor se
tornou súdito, o Divino se tornou humano, o Imortal se fez barro, o Rei se fez
carpinteiro, o Criador se fez criatura, a Água sentiu sede, o Pão sentiu fome,
o Forte sentiu cansaço, o Guarda eterno sentiu sono, o Consolador chorou, a
Alegria sentiu tristeza, a Vida se entregou à morte, o Deus inacessível habitou
entre nós (Jo 1.14).
1.
A encarnação de Jesus foi o próprio Deus vindo habitar entre nós (Jo 1.14b).
O
termo “Emanuel”, que o próprio escritor sagrado traduziu por “Deus
conosco” (Mt 1.23), mostra que Deus assumiu a “forma humana” e
veio habitar entre os homens: “E o Verbo se fez carne, e habitou entre
nós [...]” (Jo 1.14); “Porque um menino nos nasceu, um filho se
nos deu […]” (Is 6.9); “Portanto, o mesmo Senhor vos dará um
sinal: eis que uma virgem conceberá, e dará à luz um filho, e será o seu nome
Emanuel” (Is 7.14); “Porque nele habita corporalmente toda a
plenitude da divindade” (Cl 2.9). O apóstolo João, ao afirmar que Jesus
habitou entre nós, está falando da Sua encarnação, de uma condição humana. O
verbo “habitar” aqui deriva do grego “skenoo”, que significa: “morar
em uma tenda, tabernáculo, cabana”. Quando Paulo se refere à Sua
divindade (Cl 2.9), afirmando que: “Nele habita toda a plenitude”,
ele utiliza o verbo “habitar” derivado da palavra grega “katoikeo”,
que se traduz por: “residir, morar de forma permanente” (O corpo
é chamado no NT de tabernáculo e quando diz que o “Verbo se faz carne” quer
dizer que Ele “tabernaculou-se”. Tabernáculo da ideia de provisório,
tenda. Já em Colossenses foi permanente a habitação divina).
2. A encarnação e a autorrenúncia.
A
doutrina que trata da autorrenúncia de Jesus ao assumir a natureza humana, porém,
sem deixar de ser Deus, pois ele não se esvaziou de sua divindade (Fp 2.7,8).
Certo teólogo disse que: “Quando Jesus desceu à terra não deixou de ser
Deus e quando voltou ao céu não deixou de ser homem”. A encarnação do
Verbo de Deus não é um mero conceito teológico [união hipostática]; mas é um
dos maiores mistérios das Sagradas Escrituras, sem a qual seria impossível a
nossa redenção. Em sua natureza humana, Jesus participou de nossa limitação
física e emocional: “Manteiga e mel comerá, até que ele saiba rejeitar o
mal e escolher o bem” (Is 7.15). “E crescia Jesus em sabedoria, e
em estatura, e em graça para com Deus e os homens […]” (Lc 2.40); “E
o menino crescia e se fortalecia em espírito […]” (Lc 2.52). A
Declaração de Fé das Assembleias de Deus nos diz que: “CREMOS, professamos e
ensinamos que o Senhor Jesus Cristo é o Filho de Deus e o único mediador entre
Deus e os seres humanos, enviado pelo Pai para ser o Salvador do mundo,
verdadeiro homem e verdadeiro Deus […] Cremos na concepção e no
nascimento virginal de nosso Senhor Jesus Cristo […] e que ele foi
concebido pelo Espírito Santo no ventre da virgem Maria” (Soares
[Org.], 2016, p. 59).
3. A doutrina da encarnação do “Verbo Divino”, excede todo o entendimento humano.
A encarnação de Jesus é resultado da atuação do
Espírito Santo, do poder do Altíssimo Deus e da santidade do Filho. A Trindade
Santa operou a maravilhosa obra da encarnação do Verbo: “…descerá sobre
ti o Espírito Santo… o poder do Altíssimo te cobrirá…o Santo que de ti há de
nascer”. O que significa dizer que Cristo, o Deus eterno, tornou-se
humano (Fp 2.5-9)? Se não é possível aceitar esta afirmação pela razão, é
possível aceitá-la por fé. Desse milagre depende a essência do Evangelho. Foi
por meio desse milagre que Jesus veio em semelhança de carne (Rm 8.3), foi
feito “descendência de Abraão” (Hb 2.16), “em tudo [...]
semelhante aos irmãos” (Hb 2.17).
4. A encarnação deu a Jesus condições de ser o Mediador entre Deus e os homens.
Jesus participou da carne e do sangue (natureza
humana): “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também
ele participou das mesmas coisas [...]” ((Hb 2.14). Em tudo foi
semelhante a nós: “Pelo que convinha que, em tudo, fosse semelhante aos
irmãos” (Hb 2.17). Deus lhe preparou um corpo humano de carne e osso: “Pelo
que, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me
preparaste” (Hb 10.5);
“Vede
as minhas mãos e os meus pés, que sou eu mesmo; tocai-me e vede, pois um
espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho” (Lc 24.39); “Nisto conhecereis o Espírito de
Deus: todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio em carne é de Deus; e
todo espírito que não confessa que Jesus Cristo veio em carne não é de Deus;
mas este é o espírito do anticristo [...]” (1Jo 4.2,3). A encarnação
deu a Jesus condições de ser o mediador entre Deus e os homens: “Porque
há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem” (1Tm
2.5).
III. A NATUREZA HUMANA DO VERBO ENCARNADO
O
Senhor Jesus Cristo, de forma voluntária, renunciou a glória que possuía nos
céus (Jo 17.5), para ser o redentor da humanidade, sujeitando-se as limitações
humanas (Fp 2.5-8).
1. Natureza humana.
João introduz o
evangelho dizendo que “o Verbo era Deus” (Jo 1.1-c), mas também
que “o Verbo se fez carne” (Jo 1.14-a). O mesmo apóstolo diz que
na ceia “recostara sobre o seu peito” (Jo 21.20); e, que “ouviu”,
“viu”, “contemplou”, e, “tocou” o Verbo
da Vida (1 Jo 1.1). Paulo, por sua vez, declarou que Jesus “que, sendo em
forma de Deus [...] esvaziou-se a si mesmo [...] fazendo-se semelhante aos
homens” (Fp 2.6,7). Os escritores do NT deixaram claro que Jesus tinha
todos os atributos físicos dos homens, a saber: ele nasceu de uma mulher (Rm
1.3; Gl 4.4); cresceu fisicamente (Lc 2.52); dormiu (Mt 8.24); comeu (Lc
24.43); sentiu fome (Lc 4.2); sede (Jo 4.7; 19.28); teve cansaço físico (Jo
4.6); chorou (Jo 11.35); sorriu (Lc 10.21) e, foi tentado (Mt 4.1; Lc 22.28; Hb
4.15).
2. Jesus, o Verbo encarnado.
João afirma
que “o Verbo se fez carne, e habitou entre nós [...]” (Jo 1.14).
O que significa dizer que Cristo, o Deus eterno, tornou-se humano (Fp 2.5-9). A
doutrina da encarnação do “Verbo Divino” excede todo o entendimento, e só é
possível aceitá-la pela fé, pois, desse milagre depende a essência do
Evangelho. Foi por meio desse milagre que Deus introduziu no mundo o
Primogênito (Hb 1.6); que veio em semelhança de carne (Rm 8.3), foi feito
“descendência de Abraão” (Hb 2.16), “em tudo... semelhante aos irmãos” (Hb
2.17). A encarnação deu a Jesus condições de ser o Mediador entre Deus e os
homens (I Tm 2.5) e ser o fiel Sumo Sacerdote, para expiar os pecados do povo
(Hb 2.17).
3. A Bíblia chama Jesus de “homem”.
Jesus teve, como qualquer outro homem, a sua genealogia. A Bíblia registra duas
genealogias de Jesus: a primeira, da família de José, o pai adotivo de Jesus
(Mt 1.1-17); e a segunda, da família de Maria, sua mãe biológica (Lc 3.23-38).
A Bíblia chama Jesus de “homem” acentuando sua encarnação. Quando Pedro falou
de Jesus, disse: “[...] Jesus Nazareno, homem aprovado por Deus entre vós
com maravilhas, prodígios e sinais, que Deus por ele fez no meio de vós, como
vós mesmos bem sabeis” (At 2.22). Pilatos disse a respeito dEle: “[...]
Eis aqui o homem” (Jo 19.5). Jesus disse, falando de si mesmo: “Mas
agora procurais matar-me, a mim, homem que vos tem dito a verdade que de Deus
tem ouvido [...]” (Jo 8.40). O apóstolo Paulo, também afirmou que Ele
era homem: “Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os
homens, Jesus Cristo homem” (1Tm 2.5).
4. Jesus declarou ser “Filho do Homem”.
A expressão “Filho do Homem” é usada pelos escritores dos
evangelhos sinóticos 69 vezes aludindo a humanidade do Cristo (Mt 9.6; 12.8; Mc
8.31; Lc 9.56; 12.8). Embora Maria houvesse concebido de modo sobrenatural pelo
Espírito Santo (Lc 1.35), Jesus nasceu como todos os homens nascem (Lc 2.7);
participou da carne e sangue (Hb 2.14); teve corpo (Mt 26.12; Lc 24.39), alma
(Mt 2.38) e espírito (Jo 11.33). Ele também estava sujeito ao crescimento e ao
amadurecimento naturais (Lc 2.40,52), era submisso a seus pais (Lc 2.51) e
aprendeu a obediência (Hb 5.8). Jesus teve uma profissão como homem pois era
carpinteiro (Mt 13.55), e aprendeu a mesma profissão de José. Por este motivo
Ele era chamado de carpinteiro (Mc 6.3). Jesus estava sujeito às limitações
humanas. Jesus sentia cansaço (Mt 8.24; Jo 4.4), tinha fome (Mt 4.2) e sede (Jo
4.7; 19.28); e sentimentos humanos, tais como: alegria (Lc 10.21), tristeza (Mc
3.5; Jo 12.27). Ele também chorou (Lc 19.41; Jo 11.35), foi tentado (Mt 4.1-11;
Hb 4.15) e, como homem, também morreu (Jo 19.30,34).
IV. OS PROPÓSITOS DA ENCARNAÇÃO DO VERBO
Há
inúmeros propósitos na vinda de Jesus a este mundo: a) prover um
sacrifício efetivo pelo pecado (Hb 10.1-10); b) demonstrar a glória de
Deus (Jo 1.14; Lc 2.14); c) cumprir o decreto de Deus (Gl 4.4); d) ser
o mediador entre Deus e os homens (Hb 12.24; 1Tm 2.5); e, e) trazer paz
aos homens na terra (Lc 2.14b; Ef 2.14-16). Podemos pontuar outros quatro
propósitos da encarnação de Jesus:
- Revelar Deus ao homem (Jo 1.18; 14.7-11). Jesus é a “expressão exata” do ser de Deus (Hb 1.3). A encarnação nos revela Deus pessoalmente, daí Jesus ser chamado “Emanuel”, ou seja, “Deus conosco” (Mt 1.23). O Deus transcendente também é imanente (inerente, inseparável) e acessível. A divindade de Jesus em sua humanidade é a chave para o conhecimento íntimo de Deus. Cristo revelou para nós o Deus invisível (Jo 1.18; 1Tm 1.17; Cl 1.15; 19).
- Destruir as obras do diabo. “Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo” (1Jo 3.8).
- Tornar possível a morte do Redentor. Sem a encarnação, o Verbo não poderia morrer, porque Deus não é passível de morte (Hb 2.9).
- Ser o nosso sumo sacerdote (Hb 4.14-16). Jesus viveu como homem, por isso se compadece e intercede por nós a Deus.
CONCLUSÃO
A
tentativa gnóstica/docetista de negar as naturezas de Cristo continuam a ser
defendidas por grupos heterodoxos em nossos dias, e por isso, precisamos estar
preparados para defender com sabedoria a nossa fé.
REFERÊNCIAS
Ø HOUAISS, Antônio. Dicionário da
Língua Portuguesa. OBJETIVA.
Ø ANDRADE, Claudionor Correa de. Dicionário
Teológico. CPAD.
Ø LOPES, Hernandes Dias. Gálatas:
A carta da liberdade cristã. HAGNOS.
Ø STAMPS, Donald C. Bíblia de
Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø VINE, W.E, et al. Dicionário
Vine. CPAD.
Ø SOARES, Esequias. Heresias e
Modismo. CPAD.
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