Mt 3.15-17; 28.19,20
INTRODUÇÃO
Nesta
lição aprenderemos sobre a conhecida doutrina da Trindade; destacaremos também
o conceito desse ensino à luz da Bíblia; pontuaremos as bases dessa doutrina a
partir do AT e NT; e por fim, ressaltaremos atributos divinos em cada pessoa da
Trindade.
I. DEFININDO O TERMO TRINDADE
A
palavra Trindade em si não ocorre na Bíblia, essa expressão é teológica usada
para descrever na perspectiva humana a divindade. Sua forma grega “trias”,
parece ter sido usada primeiro por Teófilo de Antioquia (181 d.C.), e sua forma
latina “trinitas”, por Tertuliano (220 d.C.). Entretanto, a
crença na Trindade é muito mais antiga que isso como será visto mais à frente
(Thiessen, 2006, p. 87 – acréscimo nosso).
II. O CONCEITO
BÍBLICO DA TRINDADE
Segundo
Andrade, Trindade é: a “doutrina segundo a qual a Divindade, embora una
em sua essência, subsiste nas Pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. As
Três Pessoas são iguais na substância e nos atributos absolutos, metafísicos e
morais” (2006, p. 349). Sobre esta doutrina podemos ainda fazer algumas
considerações:
1.
Não contradiz a unidade de Deus.
As
Escrituras ensinam que Deus é um (Dt 4.35; 6.4; Is 37.16), contudo, a unidade
divina é uma unidade composta de três pessoas, que são: Deus Pai, Deus Filho e
Deus Espírito Santo (Mt 28.19; 1Co 12.4-6), que cooperam unidos em um mesmo
propósito, onde não existe nenhum tipo de hierarquia ou superioridade
entre eles; não se tratando também de três deuses (triteísmo)
e nem três modos ou máscaras de manifestações divinas (unicismo),
antes, são três pessoas, mas um só Deus. “Eu e o Pai somos um”
(Jo 10.30), “[…] se alguém me ama, guardará a minha palavra, e meu
Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada” (Jo
14.23; ver 1Co 6.19).
2.
Não é invenção humana.
Uma
das objeções à doutrina da Trindade é que teria sido produzida pela mente
humana, que é de origem pagã e foi imposta por um imperador pagão (Constantino)
no Concílio de Nicéia em 325 d.C., que supostamente teria se tornado cristão,
estabelecendo o Cristianismo como religião oficial do império. De acordo com
Soares: “Esses argumentos das organizações contrárias à fé trinitária são
falsos. O Concílio de Nicéia não tratou da Trindade; a controvérsia foi em
torno da identidade de Jesus de Nazaré”. A Trindade é uma doutrina com sólidos
fundamentos bíblicos e, mesmo sem conhecer essa terminologia, os cristãos do
período apostólico reconheciam essa verdade (2Co 13.13; Ef 1.1-14; 1Pe
1.2) (2017, pp. 37, 50).
3.
Não é irracional.
O
conceito da unidade composta não é incoerente nas Escrituras, mesmo sendo dito
que Deus é único (Dt 6.4). A palavra único nesse texto, vem do hebraico “echad”,
que alude a uma unidade composta (ver Gn 2.24). Se a unidade de Deus fosse
absoluta, a palavra correta seria “yachid”, a mesma usada em
Gênesis 22.2. Sobre a possibilidade de entendermos a doutrina da Trindade,
Grudem afirma: “[…] não é correto dizer que não podemos de forma alguma
entender a doutrina da Trindade. Certamente podemos compreender e saber que Deus
é três pessoas, que cada uma delas é plenamente Deus e que há
somente um Deus. Podemos saber essas coisas porque a Bíblia as ensina” (2007,
p. 126 – grifo nosso).
III. A
SANTÍSSIMA TRINDADE NO ANTIGO TESTAMENTO
Embora
a doutrina da Trindade não se encontre de forma desenvolvida no AT, acha-se
implícita na revelação divina desde o início (Douglas, 2006, p. 1356). Uma boa
justificativa para que tal doutrina não seja claramente ensinada no AT, é dada
por Pearlman (2009, p. 80) quando afirma: “num mundo em que o culto de
muitos deuses era comum, tornava-se necessário acentuar para Israel a verdade
de que Deus é um e que não havia outro além dele. Se no princípio a doutrina da
Trindade fosse ensinada diretamente, ela poderia não ser bem compreendida nem
bem interpretada”. Ainda que implicitamente no AT pode ser visto
indícios dessa doutrina. Vejamos alguns exemplos:
1.
Na criação do Universo.
Se
levarmos em conta que a palavra hebraica “Elohim” (Gn 1.1) é um
substantivo plural, concluiremos: a Santíssima Trindade encontrava-se ativa na
criação do universo. Por conseguinte, quando a Bíblia afirma que no princípio
Deus criou os céus e a terra, atesta: no ato da criação, estiveram presentes
Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo. O Pai criou o universo por
intermédio do Filho (Jo 1.3), enquanto o Espírito
Santo transmitia vida a tudo quanto era criado (Gn 1.2).
2.
Na aparição do Anjo do Senhor.
A
manifestação do “Anjo do Senhor”, em alguns casos, é uma indicação a
respeito da Trindade no AT. “Vemos que esse Anjo, dependendo do
contexto, não apenas se identifica com o próprio Senhor, como também é
assim identificado a quem Ele se revela” (Gustavo, 2014, p. 22 –
acréscimo nosso). Entre as aparições podemos destacar alguns textos (Gn
16.9,13; 22.11,15,16; 31.11,13; Êx 3.2,4,6; Jz 13.20-22; Ml 3.1). De acordo com
Strong: “algumas dessas aparições, pode designar o ‘Logos’ pré-encarnado
(Jesus) (Gn 18.2,13; Jz 13.17,18; ver Is 9.6; Dn 3.25,28), cujas
manifestações prefiguravam sua vinda final em carne” (2007, p. 559 – acréscimo
nosso).
3.
Na expectativa messiânica.
A
expectativa messiânica, que sempre foi um fator de consolação à alma hebreia,
também revela a presença da Santíssima Trindade no AT (Sl 110.1,4). Em ambas as
passagens, o autor sagrado, inspirado pelo Espírito Santo, mostra o Pai
referindo-se ao Filho – Jesus Cristo (Mc 12.36; Hb 5.6). Um trecho que mostra,
de maneira explícita e clara, a presença da Santíssima Trindade no AT é Daniel
7.13-14. Podemos ainda pontuar algumas passagens alusivas a referências
proféticas sobre o Messias: “E, agora o Soberano, o SENHOR, me [o
Messias] enviou, com seu Espírito” (Is 48.16). “O Espírito do
Soberano, o SENHOR, está sobre mim [o Messias], porque o SENHOR ungiu-me para
levar boas notícias aos pobres” (Is 61.1 ver Lc 4.18-21). Embora
essas passagens não retratem especificamente um Deus em três pessoas, apontam
nessa direção (Rodaman, 2011, p. 73).
4.
Na pluralidade de pessoas na Divindade.
Já
no Livro do Gênesis existe a indicação da pluralidade de pessoas no próprio
Deus (Gn 1.1; 3.22; 11.7), podemos ainda encontrar uma série de passagens além
dessas, que apontam para a mesma verdade (Is 6.8; 63.10), textos em que uma
pessoa é chamada “Deus ou Senhor”, e ela se distingue de outra pessoa
que também é identificada como “Deus” (Sl 45.6,7). De modo semelhante o
salmista registra: “Disse o SENHOR ao meu Senhor:
Assenta-te à minha mão direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos
teus pés” (Sl 110.1). Jesus atesta que Davi está se referindo a duas
pessoas separadas chamando-as “Senhor” (Mt 22.41-46), mas quem é o
Senhor de Davi se não o próprio Deus? Da perspectiva do NT, podemos parafrasear
esse versículo do seguinte modo: “Deus Pai disse a Deus Filho: Assenta-te
à minha direita”. Diante disso, mesmo sem o ensino do Novo Testamento
sobre a Trindade, fica claro que Davi estava consciente da pluralidade de
pessoas em Deus (Grudem, 2007, p. 110).
IV. A
SANTÍSSIMA TRINDADE NO NOVO TESTAMENTO
É no
Novo Testamento que encontramos as mais claras e explícitas manifestações da
Santíssima Trindade. Notemos alguns registros onde se evidencia tão importante
doutrina:
1.
No batismo e ministério de Jesus.
Nessa
clássica manifestação da Trindade (Mt 3.16,17), vemos uma das Pessoas (o Filho)
submeter-se ao batismo, o Espírito Santo descer como pomba sobre Ele, e a
Pessoa do Pai declarar o seu amor a Cristo atestando sua filiação. No monte da
transfiguração vemos com clareza mais uma vez a pluralidade de pessoas (Mt
17.5; Mc 9.7,8).
2.
Na ascensão de Jesus.
Já
prestes a ser assunto ao céu, o Senhor Jesus Cristo, ao dar últimas instruções
aos discípulos, declarou: “Portanto, ide, ensinai todas as nações,
batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”
(Mt 28.19). Pode ainda restar mais alguma dúvida acerca da Trindade?
3.
Na vida da Igreja Primitiva.
Nos
Atos dos Apóstolos, a Santíssima Trindade aparece operando ativamente, desde os
primeiros versículos (At 1.1,2). Nesse livro, encontramos a Trindade na
proclamação do Evangelho (At 5.32; At 10.38); no testemunho eficaz da fé cristã
(At 7.55); no chamamento de obreiros (At 9.17); no Concílio de Jerusalém (At
15.1-35). Nas epístolas (Rm 14.17; 15.16; 2Co 13.13; Ef 4.30; Hb 2.3,4; 2Pe
1.16-21; 1Jo 5.7) e no livro do Apocalipse (Ap 1.1,2; 2.8,11).
V. ATRIBUTOS
DIVINOS NAS PESSOAS DA TRINDADE
A
Bíblia categoricamente específica que todas as pessoas da Trindade possuem a
mesma essência possuindo os mesmos atributos incomunicáveis. Vejamos alguns:
Atributos Incomunicáveis
|
Pai
|
Filho
|
Espírito Santo
|
Eternidade
|
Sl 90.2
|
Cl 1.17
|
Hb 9.14
|
Onipotência
|
Gn 17.1
|
Mt 28.18
|
1Co 12.11
|
Onipresença
|
Jr 23.24
|
Mt 28.20
|
Sl 139.7
|
Onisciência
|
1Jo 5.20
|
Jo 21.17
|
1Co 2.10
|
Criador
|
Gn 1.1; Sl 33.6; Hb 11.3; 2Pe 3.5
|
Jo 1.3,10; Rm 11.36; Ap 4.11
|
Jó 26.13; 33.4; Sl 104.30
|
CONCLUSÃO
A doutrina da Santíssima Trindade é
puramente bíblica, embora seja um mistério jamais será uma contradição. Como
alguém sabiamente disse: “Se tentássemos entender Deus por completo,
podemos perder a razão [mente], mas se não acreditarmos sinceramente na
Trindade perderemos nossa alma!” (Ravi; Geisler, 2014, p. 28).
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor Correia de. Dicionário Teológico. CPAD.
ØGUSTAVO,
Walber; GOMES, Leonardo. Doutrina da Trindade: desenvolvimento
bíblico e histórico. BEREIA.
Ø GRUDEM,
Wayne. Manual de Doutrinas Cristãs: Teologia Sistemática ao
alcance de todos. VIDA.
Ø PERLMAN,
Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. VIDA.
Ø RAVI
Zacharias; GEISLER, Norman. Quem criou Deus? REFLEXÃO.
Ø STRONG,
Augustus, Hopkins. Teologia Sistemática. |HAGNOS.
Ø THIESSEN,
Henry Clarence. Palestras em Teologia Sistemática. IBR.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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