Ef 4.1-7
INTRODUÇÃO
Na lição de hoje falaremos sobre a mansidão - um
dos aspectos do fruto do Espírito; traremos uma definição desta virtude;
explicaremos que ela está arraigada no caráter divino e que o Espírito a produz
naquele que nasceu de novo; veremos também o que a Bíblia nos diz sobre a
mansidão; pontuaremos dois grandes exemplos bíblicos de pessoas com esta
característica; e, por fim, a sua utilidade nas mais diversas situações que
possamos enfrentar na vida.
I. DEFINIÇÃO
DA PALAVRA MANSIDÃO
A oitava virtude do Espírito elencada por Paulo em
Gálatas 5.22 é a mansidão. O adjetivo “manso” segundo o Aurélio (2004, p.
1269) quer dizer: “de gênio brando ou índole pacífica; bondoso; pacato; sereno, sossegado,
tranquilo”. A palavra grega usada para esta virtude do Espírito é “prautes”
que segundo Barclay (1988, p. 105) significa: “suavidade”. Pode-se dizer
que é o antônimo de aspereza e/ou rispidez.
1.1 Como atributo divino.
O AT nos revela que o caráter de Deus é manso (Sl
18.35; 45.4). Cristo é revelado no NT como alguém manso (Mt 11.29; Mt 21.5; II
Co 10.1). A figura de Cristo como cordeiro e ovelha apontam diretamente para a
sua mansidão (Is 53.7; At 8.32; Jo 1.29; I Pe 1.19; Ap 5.6). O Espírito Santo,
por sua vez, é simbolizado na Bíblia por uma pomba, destacando-se a sua
natureza mansa (Mt 3.16; Gl 5.22). Acerca disso afirma Gilberto (2004, p. 122),
“Todas estas figuras são símbolos de mansidão - o fruto espiritual da submissão”.
1.2 Como fruto do Espírito.
A mansidão como fruto do Espírito, trata-se da
virtude gerada por Ele no crente, proporcionando a habilidade de ser “gentil,
humilde, cortês, amável, suave, tolerante” (1 Co 4.21; Gl 5.22,23; Ef
4.2; Cl 3.12; Tt 3.2; 1 Pe 3.15). Matthew Henry (2008, p. 45) diz que os
mansos: “podem suportar provocações sem se irritar, sem se deixar levar a
qualquer indecência; que conseguem ficar tranquilos quando os outros estão
acalorados, que preferem perdoar vinte ofensas a vingar uma”. Na Bíblia,
metaforicamente, os servos do Senhor são comparados com a ovelha por causa da
mansidão (Sl 95.7; 100.3; Jr 23.3; Jo 10.14,15).
II. O QUE
A BÍBLIA DIZ SOBRE A MANSIDÃO
2.1 No AT. Nas páginas veterotestamentárias têm diversas
promessas feitas aos mansos, tais como: Deus atende as suas orações (Sl 10.17);
não lhes deixa faltar o necessário (Sl 22.26); os guia por caminhos corretos
(Sl 25.9); os fará herdar a terra (Sl 37.11); os livra (Sl 76.9); os vestirá de
salvação (Sl 149.4); lhes dá graça (Pv 3.34); terão alegria sobre alegria (Is
29.19); serão poupados da ira do Senhor (Sf 2.3).
2.2 No NT. A mansidão no NT aparece nos ensinos de
Jesus, como uma característica daqueles que “herdarão a terra” (Mt
5.5). Paulo faz diversas alusões a esta virtude, dizendo que ela é uma
característica na vida daqueles que nasceram de novo (Gl 5.22); que precisa
estar presente no seio da igreja (Gl 6.1); que como filhos de Deus precisamos
imitá-lo, agindo com mansidão (Ef 4.1,2); como nascidos de novo, devemos nos
revestir dessa virtude (Cl 3.12); exortou Timóteo a buscá-la (1 Tm 6.11); e a
ensinar com mansidão as que resistem a verdade (2 Tm 2.25); orientou a Tito que
exortasse os cristãos a serem mansos com todos os homens (Tt 3.2). Tiago
afirmou que a verdadeira sabedoria se manifesta em mansidão (Tg 3.13); Pedro
exortou aos cristãos que respondessem com mansidão aqueles que questionassem a
sua fé (1 Pe 3.15).
III. DOIS
GRANDES EXEMPLOS DE MANSIDÃO
3.1 Moisés no Antigo Testamento.
O AT diz que “[...] era o
homem Moisés mui manso, mais do que todos os homens que havia sobre a terra”
(Nm 12.3). A ocasião em que se asseverou isto acerca desse servo de Deus foi
quando Miriã e Arão murmuraram contra Moisés por dois motivos, a saber: por sua
esposa estrangeira (Nm 12.1); e, também, porque alegavam ser também porta-vozes
de Deus tanto quanto Moisés (Nm 12.2). O servo do Senhor em nenhum momento
tentou se defender. No entanto, Deus falou por Moisés, mostrando aos seus
irmãos que apesar de também comunicar-se com eles, havia colocado Moisés sobre
eles e com este servo do Senhor tinha um relacionamento diferenciado (Nm
12.4-9). Como punição pela rebeldia, Deus puniu Miriã com lepra (Nm 12.10);
talvez por ser a que mais murmurou – nesse texto vemos primeiro o nome dela
depois de Arão (Nm 12.1). Moisés, agindo com mansidão, em nenhum momento
procurou prevalecer contra seus irmãos, muito pelo contrário, ao ver sua irmã
sendo punida pelo Senhor com uma enfermidade, rogou para que Deus a curasse, e
o Senhor o ouviu, limitando a punição por apenas sete dias (Nm 12.13-15).
3.2 Jesus no Novo Testamento.
Evidentemente que Jesus é insuperável a qualquer
exemplo de mansidão até mesmo de Moisés (Hb 3.3,4). O profeta Isaías anunciou
que o Messias seria manso de caráter e agiria com mansidão em seu ministério
(Is 42.1-4). Paulo faz alusão a esta virtude oriunda de Cristo (2 Co 10.1a).
Abaixo destacaremos algumas verdades sobre a mansidão e/ou humildade de Cristo:
3.2.1 A mansidão de Cristo na encarnação.
Exortando os cristãos filipenses que não se
deixassem dominar pela contenda, vanglória e egoísmo, Paulo os exortou a agirem
com mansidão e humildade, citando como exemplo a pessoa de Jesus Cristo (Fp
2.5-8). Paulo diz que Jesus mesmo sendo “em forma de Deus” (Fp 2.6); “forma
de homem” (Fp 2.8); e, por fim, a “forma de servo” (Fp 2.7). Essa
atitude de Cristo foi oposta a de Adão. Cristo sendo Deus se fez homem (Fp
2.6,7); Adão sendo homem queria ser como Deus (Gn 3.4-6).
3.2.2 A natureza mansa de Cristo.
Quando convidou as pessoas para serem libertas (Mt
11.28), Jesus disse que, os que O seguissem, deveriam aprender com Ele sendo
humildes e mansos “aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração [...]” (Mt
11.29). Acerca de Jesus, Matthew Henry (2008, p. 146) disse: “Ele é manso, e
pode ter compaixão dos ignorantes, com quem os outros poderiam ter algum
aborrecimento. Sua maneira de lidar com os seus doze discípulos foi um exemplo
disso. Ele era manso e gentil com eles, e aproveitou o máximo deles. Embora
eles fossem desatentos e esquecidos, Ele não era extremado, a ponto de destacar
as suas tolices” (Mt 14.31; 18.1-4; 26.31,34; Mc 10.35-41; Lc 8.24,25). Por
exemplo: a mansidão de Cristo transformou o vingativo João, no apóstolo do amor
(Lc 9.54; I Jo 3.18).
3.2.3 O exemplo manso de Cristo.
O profeta Isaías, denominado de profeta Messiânico,
em suas profecias fez alusões ao Messias como Servo (Is 42.1; 52.13; 53.11).
Jesus sempre identificou-se como tal (Mt 20.28; Lc 22.27; Fp 2.7). Jamais algum
servo serviu com mais imutável lealdade, abnegada devoção e irrepreensível
obediência do que Jesus (Fp 2.8; Hb 5.8). Seus discípulos precisavam entender
que eles deveriam servir uns aos outros. O Mestre ensinou isso de várias formas
e a mais bela delas foi quando lhes lavou os pés (Jo 13.1-5). Matthew Henry
(2008, p. 959) diz que “este era o serviço degradante e servil, e para o qual
servos do mais baixo posto eram utilizados” (1 Sm 25.41). Com esta atitude
Jesus demonstrou que se Ele sendo Mestre e Senhor lavou-lhes os pés, nós
devemos ter a mesma atitude (Jo 13.13-15).
IV. USANDO
A MANSIDÃO PARA EVITAR AS PELEJAS
A palavra “peleja” segundo o Aurélio (2004, p.
1525) significa: “combate, luta, batalha”. A palavra no grego é “erithéia”
que quer dizer: “rivalidade, ambição egoísta, discórdias, espírito partidário que se
fundamenta no egoísmo” (GOMES, 2016, p. 128). A Bíblia nos exorta a
agirmos com mansidão nas seguintes situações:
4.1 Mansidão para ensinar os resistentes.
A igreja de Éfeso estava sendo contaminada por
ensinos estranhos ao evangelho, como Paulo havia previsto (At 20.29,30; I Tm
1.3,4). Preocupado com a saúde da igreja, o apóstolo enviou o jovem obreiro
Timóteo, para que ficasse nesta cidade a fim de advertir tais ensinadores (1 Tm
1.3). Paulo aconselhou também que Timóteo fosse manso não provocando pelejas (2
Tm 2.23,24), mas que agisse com mansidão com aqueles que resistem a verdade a
fim de que estes se arrependessem (2 Tm 2.25), pois os tais estavam sob o laço
do diabo (2 Tm 2.26). Sempre existiu na igreja pessoas imaturas na fé que
facilmente se deixam levar por novidades (Gl 1.6; Ef 4.14). Para corrigir isso,
Deus deu ensinadores a igreja (Ef 4.11,12). E, dentre as muitas virtudes que o
ensinador precisa ter, é imprescindível a mansidão a fim de que possa persuadir
os que se opõem a sã doutrina (Rm 12.12; 1 Tm 4.13).
4.2 Mansidão para corrigir os faltosos.
Em Gálatas 6.1, Paulo exorta os irmãos maduros a
restaurarem todo aquele que for surpreendido em alguma falta ou erro. A
orientação apostólica é que os irmãos devem empreender esta ação em espírito de
mansidão, porque eles também estão sujeitos às tentações. Este compartilhamento
de cargas cumpre a lei do amor de Cristo. É bom lembrar que corrigir os
faltosos não é concordar com o seu pecado, mas ser paciente com o pecador, a
fim de que este seja recuperado e sua comunhão com a igreja restaurada (1 Co
5.1-7).
4.3 Mansidão da esposa para com o cônjuge não crente.
A mansidão é indispensável também nos
relacionamentos familiares, sejam os cônjuges crentes ou não (Sl 133.1).
Tratando especificamente de um marido não crente, o apóstolo Pedro orienta as
mulheres que estejam nessa condição que tenha esse comportamento a fim de
evitar atritos, entendendo também que tal atitude poderá persuadir o marido e
levá-lo a conversão (1 Pe 3.1-4). Uma mulher rixosa não contribui para a
evangelização dos seus parentes por causa do seu mau comportamento (Pv 14.1;
21.19).
4.4 Mansidão no uso da apologética.
O apóstolo Pedro orientou aos cristãos que, quando
fosse interrogados pelos incrédulos acerca da fé que haviam abraçado “[...] estai
sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir
a razão da esperança que há em vós” (I Pe 3.15). Infelizmente, há
pessoas que não tem mansidão na evangelização dos não crentes, muitas vezes,
não respeitam a pessoa nem a sua religião e usam palavras agressivas, resumindo
a discutir doutrinas. Tal atitude em nada contribui para a salvação de uma
alma, senão em confusão (2 Tm 2.23; Tt 3.9). Precisamos falar de Cristo, a
verdade que liberta e o único caminho que leva ao Pai (Jo 8.32-36; 14.6).
CONCLUSÃO
A virtude da mansidão está diretamente ligada as
virtudes da humildade e da submissão e nosso exemplo maior de mansidão é Cristo
que mesmo sendo Deus tomou a forma de servo, a fim de nos ensinar como devemos
nos comportar uns com os outros: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como
eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15).
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Claudionor de. Dicionário Teológico. CPAD.
BARCLAY, William. As obras da carne e o fruto do Espírito. VIDA NOVA.
CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
GILBERTO, Antonio. O fruto do Espírito: a plenitude de Cristo na vida do crente. CPAD.
MOODY, D.L. Comentário
Bíblico de Gálatas. PDF.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
STOTT, John. A
mensagem de Gálatas. ABU.
VINE, W.E et al. Dicionário Vine. CPAD.
Por Rede Brasil de
Comunicação.
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