Mt 5.1-12
INTRODUÇÃO
Nesta
lição veremos o contexto geográfico do sermão do monte apontando para o seu
propósito, sua estrutura, e seus destinatários; estudaremos sobre as dimensões
das bem-aventuranças; e por fim, notaremos o caminho para as bem-aventuranças.
I. O CONTEXTO DO SERMÃO DO MONTE
1. O nome do sermão.
O
Comentário do Novo Testamento Aplicação Pessoal (2009, p. 36 apud GOMES,
2022, p. 20), que diz: “Mateus 5–7 é chamado de Sermão do Monte porque foi
proferido por Jesus sobre um monte perto de Cafarnaum. É provável que esse
sermão seja resultado de vários dias de pregação”. O Sermão da Montanha, também
conhecido como Sermão do Monte, é o conjunto de ensinamentos principais que
Jesus deu aos seus discípulos. Esses ensinamentos são conhecidos por este nome
porque Jesus tinha o hábito de ensinar no monte, onde havia mais espaço. Mateus
apresenta um relato extenso, que ocupa três capítulos do primeiro evangelho (Mt
caps. 5, 6, 7). Já Lucas dá-nos uma sinopse menor (Lc 6.17-49) (BOYER, 2010,
pp.395-396).
2, O contexto geográfico do
sermão.
“Na
parte de Lucas 6.20-49, o sermão é suscinto e o nome que recebe é “Sermão
da Planície”. Isso se deve à questão da diferente localidade: “E,
descendo com eles, parou numa planície...” (Lc 6.17a). Fazendo um
paralelo com o “Sermão da Montanha” de Mateus onde está escrito
que: “Vendo Jesus as multidões, subiu para a montanha...” (Mt
5.1) [...]. Em relação à aparente discordância existente em Mateus e Lucas, não
se pode em momento algum assegurar qualquer desarmonia” (GOMES, 2022, p. 15).
“A aparamente contradição desaparece, seja admitindo que Jesus pronunciou seu
discurso num planalto ou que, tendo escolhido seus discípulos no cume do monte,
desceu com eles para a planície onde curou os enfermos e, em seguida, com os
discípulos, voltou para o cume do monte (ver Mc 3.13; Lc 6.17 e Mt 5.1, nessa
ordem) [...] tudo indica que na planície ele parou para curar os enfermos; e no
alto do monte ele se sentou (Mc 4.1; 9.35; 13.3; Lc 4.20), para pronunciar o
sermão. Seja qual for o ponto de vista, é evidente que não há conflito entre
Mateus e Lucas” (HENDRIKSEN, apud GOMES, 2022, p. 15).
3. O propósito do sermão.
O
Sermão do Monte é a síntese do ensino de Cristo para o seu povo. Antes de a
Igreja consolidar-se como agente do Reino de Deus na terra (At 8.12; 19.8;
20.25; 28.31), o Senhor tomou a iniciativa de descortinar ao núcleo apostólico,
através desta primeira grande explanação pedagógica, as vigas mestras que
constituem o modelo de vida cristã trazido pelo Reino de Deus.
4. A estrutura do sermão.
O Sermão do Monte é a base
ética do Reino de Deus. Toda a estrutura do sermão está baseada em cinco
grandes discursos: 1) As Bem-aventuranças (Mt 5.3-12); 2) Sal e
luz do mundo (Mt 5.13-16); 3) Jesus é o cumprimento da Lei e dos
profetas (Mt 5.17-48); 4) Os atos de justiça (Mt 6 .1-18); e por fim, 5)
Declarações de sabedoria (Mt 6.19-7.27).
5. O destinatário do sermão.
De
modo bem direto podemos dizer que o Sermão do Monte foi destinado tanto para os
discípulos de Cristo em particular como também para a multidão que estava em
torno dele (Mt 7.28). Pode-se dizer que este grande sermão foi destinado a
todos os homens que queiram viver piedosamente. Agora, de maneira bem estrita,
a princípio, podemos afirmar que foi direcionado aos primeiramente aos
discípulos (Lc 6.20), mas depois também à boa parte da multidão que ouvia Jesus
(Mt 7.28; Lc 6.17). Se analisarmos algumas citações dos versos finais do
Sermão, entenderemos que Ele desejava que todos tivessem acesso a tais ensinos,
razão pela qual faz sua exigência para aqueles que são salvos (Mt
7.13,14,17,21,24,25), para os que não são (Mt 7.13,14,26,27) e incluía também
os que fingem ser (Mt 7.15-20, 21-23) (GOMES, 2022, p. 25).
6.
O sermão e os súditos do reino de Deus.
Estes pronunciamentos de Jesus obtêm o nome da
palavra beatitude do latim “beatitudo”, do substantivo
relacionado com “beatus”, que é como a Vulgata traduz o termo
grego: “makarios” (Mt 5.3-11) (ARINGTON; STRONSTAD, 2003, p. 34 apud
GOMES, 2022, p. 27). A expressão “bem-aventurados” é um adjetivo plural
grego, “makarios”, que significa: “felizes,
afortunado, bem-aventurado”. Essa
expressão trata das qualidades presentes na vida dos que dependem de Deus, que
estão sob seu domínio e soberania e seguem a Jesus com sinceridade [...]. O
Sermão do Monte, Jesus ensina que a verdadeira felicidade nada tem a ver com o
que o homem deseja, mas sim, com o que ele precisa (GOMES, 2022, p. 27).
II. AS DIMENSÕES DAS BEM-AVENTURANÇAS
“Nas
Palavras de Jesus, o conceito de Reino tanto tinha seu aspecto
escatológico, para tempos futuros, como também para o aspecto
presente (Lc 17.21)” (GOMES, 2022, p. 29). Notemos então:
1.
A dimensão presente.
Tanto
as bem-aventuranças quanto os demais princípios bíblicos do Sermão do Monte
podem ser vistos sob dois ângulos: a dimensão presente e a dimensão
escatológica. Ambos se interpõem e se completam. Há os que vinculam estes
princípios apenas à manifestação futura do Reino de Deus, como se não pudessem
ser experimentados aqui e agora. Eles o fazem porque interpretam a expressão
“reino dos céus”, utilizada por Mateus, e que aparece no Sermão do Monte, como
referente ao reino milenial, o que excluiria a validade desses princípios para
a época presente. Mas, na verdade, comparando-se os sinóticos, verifica-se que
“reino dos céus”, em determinadas passagens, equivale em Mateus à expressão
“Reino de Deus” (Mt 3.1,2 e Mc 1.14,15; Lc 13.18-21). Ora, Jesus deixou claro
que a chegada do Reino de Deus é um ato presente na história (Mt 4.17). Se esta
manifestação presente é uma verdade escriturística, não há como excluir desta
era e situar apenas no futuro os ensinos éticos e as bem-aventuranças.
2. A
dimensão escatológica.
Todavia,
sob o ângulo escatológico, haverá um tempo em que o Reino de Deus
manifestar-se-á de forma física, como retrata Apocalipse 11.15, quando então
esses princípios e as bênçãos decorrentes serão experimentados de modo perfeito
e absoluto. Hoje, conhecemos em parte (1Co 13.9,10) e nos submetemos
voluntariamente ao senhorio do “reino do Filho do seu amor” (Cl 1.13), mas,
quando as etapas finais do plano de Deus tiverem seu cumprimento, seremos então
introduzidos a essa nova dimensão do Reino em que poderemos viver em toda a
plenitude e justiça a imagem perfeita de Cristo (1Jo 3.2).
III. O CAMINHO PARA AS
BEM-AVENTURANÇAS
A
primeira seção do Sermão do Monte (Mt 5.1-12) destaca oito qualidades que
formam o caráter dos súditos do Reino de Deus. Vejamos cada uma resumidamente:
1.
Bem-aventurados os pobres de espírito (Mt 5.3).
A
primeira das bem-aventuranças requer o despojamento de espírito (Sl 34.18).
Refere-se à profunda humildade de reconhecer a absoluta falência espiritual de
si mesmo quando estamos separados de Deus. Os pobres de espírito exibem uma
genuína humildade e são despojados de todo o orgulho (Fp 2.5-8). É não se
julgar autossuficiente, mas estar disposto a abrir mão de si mesmo (1Co
4.16-19). Pobres de espírito, é ser como o publicano na parábola de Lucas
18.9-13.
2.
Bem-aventurados os que choram (Mt 5.4).
A
segunda bem-aventurança nos leva ao quebrantamento. Aqui a ideia não é a da
autocomiseração em que o indivíduo se entrega a um estado de lamúria pela
própria sorte (Mt 26.75; Lc 22.62). Não é o lamento natural por alguma perda,
nem a tristeza egocêntrica e invejosa por não ter alcançado o que outros já têm
(2Co 7.10).
3. Bem-aventurados
os mansos (Mt 5.5).
Esta
bem-aventurança ressalta a força da mansidão (Mt 11.29). Ela se contrapõe ao
ódio, à violência e ao estilo agressivo das conquistas humanas (Ef 4.2; Gl
5.22; Cl 3.12; Tt 3.2). Parece um paradoxo, mas quando os de espírito brando
despontam, inibem atitudes que poderiam desaguar em conflitos e tragédias (Nm
12.1-3, 13).
4.
Bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça (Mt 5.6).
A
quarta bem-aventurança revela que a justiça deve ser um profundo anseio de todo
crente (Mt 5.20). Tal qual o organismo faminto e sedento, o cristão não
desfrutará da verdadeira calma e paz de espírito enquanto não se sentir saciado
da presença de Deus, o que implica viver não só em retidão espiritual, mas em
não se conformar com as injustiças e opressões no mundo (Sl 85.10,11; Mt
6.1,33).
5.
Bem-aventurados os misericordiosos (Mt 5.7).
Misericórdia
é a generosidade, a ternura de coração e a bondade de alma movidas para aliviar
o sofrimento dos outros (Lc 6.36). É uma das características que marcam os
filhos de Deus, pois o próprio Deus é “rico em misericórdia” (Ef
2.4 ver 1Pd 1.3). As Escrituras estão cheias de descrições da misericórdia de
Deus, cujas “misericórdias não têm fim” (Lm 3.22). Ele se revelou
a Moisés como “o Senhor, um Deus compassivo e grande em misericórdia” (Êx
34.6). Misericórdia é o ato de ser compassivo com o próximo em seu estado de
carência espiritual, moral e social (Sl 23.6; Mt 18.23-35; Lc 10.33-35).
6.
Bem-aventurados os limpos de coração (Mt 5.8).
Convém
lembrar que pureza de coração não se trata de algo apenas externo e aparente,
unicamente com o fim de ser apreciado pelos homens, a exemplo dos fariseus,
pois o termo “coração”, na Bíblia, traduz a ideia de centro da personalidade
(Sl 51.10; Pv 4.23; Mt 15.19; 1Ts 5.23).
7.
Bem-aventurados os pacificadores (Mt 5.9).
Deus
abomina os que semeiam a contenda (Pv 6.16-19). Aquele que tem o coração
purificado de segundas intenções age sempre com espírito pacífico (Gn 13.7-9;
Sl 34.14; 133.3; Rm 8.6). Paz é ausência de guerra, conflitos e toda sorte de
conturbações (Mc 9.50; Rm 12.18). Na Bíblia o termo paz abrange também o
sentido de harmonia (Cl 3.13,15; Tg 3.18; Jd 1.2). Ora, o pecado é a fonte de
todas as mazelas e hostilidade entre os homens. O exercício da pacificação é
uma qualidade de quem já removeu de seu coração, mediante o sangue de Jesus, a
causa de seus males pessoais (Hb 12.14; 1Pd 3.10-11).
8.
Bem-aventurados os sofrem perseguições (Mt 5.9,10).
Por
último, há também uma bem-aventurança para os que são perseguidos por serem
fiéis ao Senhor (Mt 5.12; Jo 17.14). O compromisso com o evangelho não admite
outra opção (Mt 6.24). Não há como ser amigo do mundo e, ao mesmo tempo,
agradar a Deus.
CONCLUSÃO
O
Sermão do Monte é a base ética do Reino de Deus. Nele, constatamos o lado
divino de uma atitude amorosa do cristão para com Deus, bem com o para com o
próximo. Se cada crente fizesse do Sermão do Monte o seu norte ético de vida,
as polêmicas não teriam lugar entre nó, visto que o propósito desse sermão é
que cada crente seja como Deus quer que ele seja.
REFERÊNCIAS
Ø STAMPS, Donald C. Bíblia
de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø COUTO, G. do. Lições
Bíblicas Jovens e Adultos. CPAD, 2º Trimestre de 2001, Sermão do Monte:
A transparência da vida cristã.
Ø GOMES, Osiel. Os valores
do reino de Deus: A relevância do
Sermão do Monte para a igreja de Cristo. CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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