Ef 2.4-10
INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos uma definição dos termos “banalização” e
“graça”; pontuaremos algumas características da graça divina; e por fim,
falaremos sobre a graça de Deus e algumas deturpações no contexto contemporâneo.
I. DEFINIÇÃO DO TERMO BANALIZAÇÃO E GRAÇA
1. Definição
etimológica do termo banalização.
O dicionário Houaiss (20001, p. 391) define “banalização”
como: “tornar-se banal ou comum; vulgarizar; trivializar algo; tirar ou
perder o caráter excepcional ou raro de alguma coisa; transformar valores caros
em algo comum e sem importância”.
2.
Definição teológica do termo graça.
A palavra “graça” aparece 217 vezes em toda a
Bíblia. No AT são 73; já no NT são 144 (JOSHUA, 2010, p. 697). O conceito de
graça é multiforme e sujeito a desdobramentos nas Escrituras. No AT, “hen”,
significa: “favor”. É o favor imerecido de um superior a um
subalterno. No caso de Deus e do homem, 'hen' é demonstrado por
meio de bênçãos temporais, embora também o seja por meio de bênçãos
espirituais e livramentos, tanto no sentido físico quanto no
espiritual (Jr 31,2; Êx 33.19). No NT aparece o termo “charis”,
que indica: “graciosidade; atrativo; favor” (WYCLIFFE, 2007,
p. 876 – acréscimo nosso). Em resumo esta palavra significa um: “favor
imerecido concedido por Deus à raça humana” (ANDRADE, 2006, p. 203).
II. CARACTERÍSTICAS DA GRAÇA DIVINA
Paulo foi o principal instrumento humano para transmitir o
pleno significado da graça em Cristo. Não é de admirar que mais tarde ele
viesse a ser conhecido como “o apóstolo da graça” (SWINDOLL,
2009, p. 19). Com maestria, ele nos falou sobre a graça de Deus de forma
abundante. Quase dois terços das ocorrências neotestamentárias de “charis”,
normalmente traduzida por “graça”, se encontram em suas cartas. O
termo se encontra em todas as treze cartas paulinas tradicionais e é bastante
repetido em Romanos. Ele confessou que para isto foi chamado “para dar
testemunho do evangelho da graça de Deus” (At 20.24). Abaixo
destacaremos algumas verdades sobre este maravilhoso favor divino:
1. A graça é um ato divino (Rm 1.7; 5.15; Tt 2.11).
Nos referidos textos, Paulo nos diz que a graça procede
soberanamente de Deus. Isto porque o favor lhe pertence e vem dEle, como sua
fonte originária (1Co 15.10; Tt 2.11; 1Pe 5.10). A graça de Deus brilhou sobre
os que estavam nas trevas e na sombra da morte (Mt 4.2; Lc 1.79; At 27.20; Tt
3.4). “A graça divina é, então, Deus mesmo renunciando ao exercício do justo
castigo por sua livre e soberana decisão” (ALMEIDA, 1996, p. 28).
2. A graça é imerecida (Rm 3.24; Ef 2.5.7-8).
A salvação é concedida ao homem sem ele merecer, pois não há
nada que o homem faça para o tornar digno de ser salvo, pois a graça aniquila
qualquer obra que visa receber a salvação por mérito (Rm 3.10; 4.4,5; Ef 2.9).
Foi Deus quem quis agir com graça: “aprouve a Deus salvar os homens” (1Co
1.21). A salvação não é uma recompensa por bom comportamento (Is 64.6; Rm
7.14-21). “A graça é o favor imerecido de Deus para com o pecador; é a
bondade para quem apenas merece o castigo” (SOARES, 2008, p. 76).
Embora o homem merecesse a separação eterna de Deus por causa de sua rebeldia
deliberada, por sua graça, ou seja, favor imerecido, Deus revolveu conceder
gratuitamente a vida eterna aqueles que não merecem. “A graça divina é,
então, Deus mesmo renunciando ao exercício do justo castigo por sua livre e
soberana decisão” (ALMEIDA, 1996, p. 28).
3. A graça é suficiente (Rm 3.24; Ef 2.8).
Paulo nos mostra que a Lei não é suficiente para salvar o
homem. Até porque seu propósito é revelar o pecado e não extirpá-lo (Rm 7.7).
Todavia, a graça de Cristo fez por nós aquilo que a Lei nunca poderia (Rm 8.3).
Embora a fé seja o caminho dado por Deus para a salvação, não é ela quem nos
salva, mas a graça “Porque pela graça sois salvos” (Ef 2.8).
Portanto, é pela graça, o favor imerecido de Deus, que ele nos concede a bênção
da salvação (At 15.11; Rm 11.6).
4. A graça
é imparcial (Rm 1.16; 3.29; 9.24).
Desde o início, a proposta divina sempre foi estender a
bênção da salvação a todos os homens indiscriminadamente Gn 12.3; Jo 3.15; 1Tm
2.4; 4.10; Gl 3.8). É errôneo pensar embora “todos pecaram” (Rm
3.23), somente os eleitos serão salvos. Em Tito 2.11 Paulo diz: “[...] a
graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens”.
A mostra claramente que, Deus não faz acepção de pessoas (At
10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; 1Pe 1.17). Portanto, a graça de Deus que nos é
oferecida mediante o evangelho, é derramada sobre todos em pé de igualdade, ou
seja, ela contempla tanto judeus como gentios (Gl 3.14; Ef 3.6).
5. A graça é resistível (At 18.5,6).
A Bíblia nos mostra que o homem pode pôr seu livre arbítrio
aceitar ou rejeitar o plano divino para a sua salvação (At 4.4; 7.51; 9.42;
17.4; 18.6; Hb 3.15; 4.7). O povo de Israel é a maior prova de que a graça não
é irresistível, pois o apóstolo João diz: “Veio para o que era seu, e os
seus não o receberam” (Jo 1.11). Jesus quando estava em frente ao Monte das Oliveiras declarou: “Jerusalém,
Jerusalém, [...] quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, [...] e tu não
quiseste!” (Mt 23.37). O escritor aos Hebreus por mais de uma vez
disse: “[...] se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações,
como na provocação [...]” (Hb 3.15 ver ainda Hb 3.7,8; 4.7).
III. A GRAÇA DE DEUS E AS
DETURPAÇÕES NO CONTEXTO CONTEMPORÂNEO
Desde o primeiro
século da igreja até os dias atuais o ensino sobre a graça de Deus tem sofrido
deturpações (Rm 1.25; 2Pe 3.15,16). Abaixo destacaremos alguns grupos que
deturpam este precioso ensino. Vejamos:
1. O legalismo e a
graça.
Os judaizantes foi
um movimento surgido nas primeiras décadas da Igreja cristã, cujo objetivo era
forçar os crentes gentios a observar a Lei de Moisés (legalismo),
principalmente a Lei cerimonial, que incluía: a prática da circuncisão, a
abstinência de alguns alimentos e a guarda do sábado e dias tidos como
especiais (Cl 2.16-23). Contra esta pretensão levantou-se Paulo veementemente
em suas cartas afirmando que a salvação não é obtida pela observação da Lei
cerimonial, mas, sim, pela graça (Rm 3.28; Gl 2.16; 3.11; 3.24) (ANDRADE, 2006,
p. 242).
2. O antinomismo e
a graça.
Em Romanos 6.1 o
apóstolo Paulo faz a seguinte pergunta: “Que diremos pois? Permaneceremos
no pecado, para que a graça abunde?”. Em seguida ele responde: “De
modo nenhum” (Rm 6.2-a). Esta pergunta de Paulo foi formulada porque
certos grupos libertinos, levaram seus ensinamentos ao extremo (Rm 3.28). Estes
afirmavam que, desde que uma pessoa tivesse fé em Cristo, não importaria se os
atos dela fossem bons ou maus. Aqueles que pensam dessa forma são chamados de
antinomistas (“anti” que significa: “contra”, e “nomos”,
“lei”). Alegam que, salvos pela fé em Cristo Jesus, já estamos
livres da tutela da Lei e por isso, não precisamos dos mandamentos morais da
Lei (ANDRADE, 2006, p. 51 – acréscimo nosso).
3. O universalismo
e a graça.
Ao se tratar da
doutrina da extensão da salvação é preciso que se faça distinção entre
universalidade e universalismo. Ela é universal (1Tm 2.4), contudo,
essa graça não é universalista. Deus “deseja que todos sejam
salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade” (1Tm 2.4). Uma coisa
não tem relação com a outra. A salvação é universal porque Deus no seu grande
amor quer salvar todos os homens (Jo 3.16). A doutrina do universalismo prega
que todos, independente de credo, religião, arrependimento ou comportamento,
serão salvos. Ao contrário, a graça é universal porque é estendida a todos os
homens. Todos os que se arrependerem e confessarem a Cristo podem ser salvos. A
graça é oferecida a todos (Tt 2.11). Contudo, só se torna eficaz na vida
daquele que crer (Mc 16.16; Jo 6.47).
4. O determinismo
e a graça.
A doutrina
determinista destaca que ninguém pode cair da graça. Uma vez salvo, salvo para
sempre. A Declaração de Fé das Assembleias de Deus afirma: “Rejeitamos a
afirmação segundo a qual “uma vez salvo, salvo para sempre”, pois entendemos à
luz das Sagradas Escrituras que, depois de experimentar o milagre do novo
nascimento, o crente tem a responsabilidade de zelar pela manutenção da
salvação a ele oferecida gratuitamente: “Vede, irmãos, que nunca haja em
qualquer de vós um coração mau e infiel, para se apartar do Deus vivo” (Hb
3.12) (SOARES (Org.), 2017, p. 114). As Assembleias de Deus, portanto, afirmam
em seus códigos doutrinários que os homens possuem liberdade tanto para
aceitarem a oferta da graça como para rejeitarem. Assim destacam que a
possibilidade da queda da graça é um fato mostrado com clareza meridiana nas
Escrituras Sagradas (1Co 10.12; Hb 3.12; 6.4-6; 10.26-29) (GONÇALVES, 2022, pp.
28,29).
5. O banalismo e a
graça.
A graça barata é o
batismo sem a mudança, é a Ceia do Senhor sem confissão dos pecados. A graça
barata é a graça sem discipulado, a graça sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo.
Pregar uma graça barata é pregar uma graça sem preço. A graça barata não requer
nada do homem e se equivale a perdão sem arrependimento contrariando o que diz
as Escrituras: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam
apagados os vossos pecados, e venham, assim, os tempos do refrigério pela
presença do Senhor” (At 3.19); é evangelho sem testemunho; vida cristã
sem renúncia; e, cristianismo sem Cristo e sem cruz: “O mundo continua
mundo, e nós continuamos pecadores” (BONHOEFFER, 2016, p. 254).
CONCLUSÃO
Nesta lição,
partimos da necessidade de compreender corretamente o que é a graça de Deus.
Vimos como a graça de Deus foi entendida em diferentes contextos. A Bíblia é
sempre a régua através da qual qualquer entendimento da doutrina da graça precisa
ser medido. Como verberou na Reforma, a Escritura continua ecoando em nossos
dias – a salvação é somente pela graça.
REFERÊNCIAS
Ø ALMEIDA,
Abraão de. O Sábado, a Lei e a Graça. CPAD.
Ø ANDRADE,
Claudionor de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø BONHOEFFER,
Dietrich. Discipulado. Mundo Cristão.
Ø OLIVEIRA,
Oséias Gomes. Concordância Bíblica Exaustiva Joshua. Vol. 03. CENTRAL
GOSPEL.
Ø GONÇALVES,
José. Os Ataques Contra a Igreja de Cristo: As sutilezas de Satanás
nestes dias que antecedem a volta de Jesus Cristo. CPAD.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø SWINDOLL,
Charles R. Paulo. Paulo: um homem de coragem e graça. MUNDO CRISTÃO.
Ø SOARES,
Ezequias (Org.). Declaração de Fé das Assembleias de Deus. CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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