Ez 47.1-12
INTRODUÇÃO
Hoje estudaremos uma lição cheia de
simbolismo e importância para nossa vida. Falaremos sobre o significado literal
da passagem do rio que traz vida, suas implicações pneumatologias e as bênçãos
advindas dela, e concluiremos falando sobre a restauração plena não apenas da
terra, mas antes de toda a criação.
I.
DEFINIÇÃO DO TERMO IMERSO
1. Definição etimológica.
Segundo o dicionarista Antônio
Houaiss, a palavra provem do latim e significa imersão; mergulho. É o ato ou
efeito de imergir (-se); imergência, submersão (2001, p.1576). Por fim, também
é o ato ou resultado do processo de mergulhar alguma coisa em um líquido.
2. Aplicação da definição.
Essa experiência da imersão do
profeta nas águas tem implicações teológicas profundas (Jo 7.37-39). Ao longo
dos séculos, cristãos de todos os ramos do cristianismo reconhecem a estreita
ligação teológica das águas com o Espírito Santo. Ezequiel imerso nessas águas
pode perfeitamente ser comparado ao crente cheio do Espírito Santo, visto que a
água é um dos símbolos do Espírito (1Jo 5.6), e nenhum livro do Antigo
Testamento revela a identidade, os atributos e as obras do Espírito Santo como
Ezequiel. Isso está bem ilustrado na visão de Ezequiel inundado nas águas
sanadoras que brotam do templo de Deus (SOARES, 2022, p. 189).
II.
EZEQUIEL CONTEMPLA UM RIO DE ÁGUAS VIVAS QUE FLUÍA DO TEMPLO
O rio do novo templo. Antes de falar da divisão da
terra, Ezequiel descreve a visão de um rio que nasce no templo e corre pela
terra. O rio traz cura e purificação a uma terra que havia testemunhado grande
perversidade a ponto de “não poder mais suportar sua contaminação e ‘vomitar’ o
povo para o exílio”.
1. O rio que tem seu nascedouro no
Novo Templo.
Depois de ver as cozinhas no templo
(Ez 46.19-24), o profeta reparou num pouco de água que saía do Santo dos
Santos e que passava pelo lado sul do altar. “e eis que saíam umas águas
de debaixo do umbral da casa, para o oriente” (Ez 47.1-12). O
guia conduziu o profeta para a porta norte (a porta oriental estava fechada) e
ao redor do templo até a porta oriental, onde viu a água saindo de debaixo do
templo no lado sul da porta (ver SI 36:8; 46:4). O guia mediu a profundidade da
água quatro vezes, e o rio tornou-se tão profundo que não era possível nadar
nele. Ezequiel descobriu que o rio corria para o mar Morto, onde dava nova vida
àquela área abandonada.
2. O rio que produz vida por onde
passa.
Diz o texto sagrado: “Todos
os seres vivos que povoam os lugares por onde este rio passar terão vida. E
haverá muitíssimo peixe, porque essas águas chegaram lá. As águas do mar Morto
se tornarão saudáveis, e tudo viverá por onde quer que esse rio passar (Ez
47.9). A água do templo tornaria saudável o mar Morto bem como os rios, fazendo
multiplicar as criaturas aquáticas por onde passasse. As árvores nas margens do
rio proveriam alimentos todos os meses, e as folhas seriam usadas para fins
medicinais. A vida vem do templo de Deus e não de um palácio ou de um edifício
do governo!
3. O rio estava localizado em
Jerusalém.
Jerusalém é a única cidade
importante da antiguidade que não fica à beira de um rio, e, no Oriente, um
suprimento confiável de água é essencial para a vida e para a defesa do povo.
Na era do reino, Jerusalém terá um rio como nenhuma outra nação já teve. Mas se
trata de um rio literal ou simplesmente de um símbolo sagrado do poder
vivificador do Senhor? Talvez seja ambos. Joel 3.18 e Zacarias 13.1 falam desse
rio como algo literal, de modo que ele tanto ilustra quanto realiza a obra
vivificadora de Deus: “Naquele dia, também acontecerá que correrão de
Jerusalém águas vivas, metade delas para o mar oriental, e metade delas até ao
mar ocidental; no estio e no inverno, sucederá isso” (Zc 14.8). Jesus
considerou esse rio como um símbolo do Espírito Santo (Jo 7.37-39), e o
apóstolo João viu uma cena semelhante na cidade celestial de Deus (Ap 22.1, 2).
No jardim do Éden, o rio tinha um papel importante (Gn 2.10-14).
III.
A EXPERIÊNCIA DO PROFETA EZEQUIEL NO RIO DE ÁGUAS VIVAS
O texto diz que o anjo “mediu mil côvados” (Ez.
47.3b). A medida de “mil côvados” equivale aproximadamente a 500 metros
(1/2 quilômetro), mostrando que devemos prosseguir na comunhão por etapas (2Co
3.18).
1. Águas na altura dos artelhos (Ez
47.3b).
O ato de molhar os artelhos ou pés,
nos da santificação. No AT, os sacerdotes deveriam lavar os pés na pia de
cobre, pois só assim estavam em condições de adentrar ao Tabernáculo (Êx.
30.17-21). Essa pia lembra-nos a dupla função da Palavra: como espelho ela
mostra os erros do homem (Rm. 7.7-9). Mas, como água, ela é o instrumento do
Espírito Santo para nos santificar (Sl. 119.9-11; Jo. 15.3; 17.17; Ef. 5.26).
Nas Escrituras encontramos várias exortações bíblicas quanto ao nosso andar
(Pv. 10.9; Is. 2.5; Gl. 5.16; Ef. 2.2,3).
2. Águas na
altura dos joelhos (Ez 47.4a).
Duas verdades podem ser aprendidas com o profeta Ezequiel
quando se encontrava nesse estágio do rio. Vejamos quais são: a) Vivendo sob
o controle do Espírito. A experiência de “ter águas na altura dos joelhos”
pode ser comparada a regeneração. Com águas nessa medida do corpo, o profeta
não conseguia andar com facilidade, pois as águas exerciam forças nas
suas pernas. Do mesmo modo, quando nos aprofundamos na comunhão com o Espírito
Santo a nossa natureza passa a ser controlada por Ele (Gl. 2.20; 5.16); b)
Experimentando uma vida de oração. As águas na altura dos joelhos, nos
ensina que Deus quer nos conduzir a uma vida de permanente oração, pois só
assim poderemos crescer em comunhão. A base de todo relacionamento é o diálogo,
e orar é dialogar com Deus (Gn 18.23-33; Êx 14.15; 32.30-34; Jr 33.3; Mt. 6.6).
3. Águas na altura dos lombos (Ez
47.4,5).
A vida espiritual é progressiva e
não estática “e outra vez mediu mil”. É nesse nível que o
Espírito Santo quer que cheguemos, a uma total rendição, tal como o vaso se
rende nas mãos do oleiro (Is 64.8; Jr. 18.4,6). Deixemos o controle da nossa
vida nas mãos de quem sabe nos dirigir (Sl 37.5). As águas abundantes formaram
um extenso rio “… E mediu mais mil, e era um rio” que pode ser
comparado ao Espírito Santo (Is. 41.18; 43.19,20; Jo 7.38). A experiência de
nadar no rio fala-nos das poderosas manifestações de Deus na nossa vida, como
por exemplo, o batismo no Espírito Santo (Mt 3.11; Lc 24.49; At 1.8). No
entanto, devemos entender que, ter alcançado o revestimento de poder
constitui-se apenas o início do clímax da vida cristã, Deus quer que busquemos
com zelo, outros dons (1Co 12.1-10).
4. A Água é um símbolo do Espírito
Santo.
O poder do Espírito Santo opera no
reino espiritual o que a água faz na ordem material (Êx 17.6; Ez 36.25-27;
47.1-5; Jo 3:5; 4.14; 7.38, 39). A água purifica, refresca, sacia a sede, e
torna frutífero o estéril. Ela purifica o que está sujo e restaura a limpeza. É
um símbolo adequado da graça divina que não somente purifica a alma, mas
também lhe acrescenta a beleza divina. Assim como a água é um elemento
indispensável à vida física, o Espírito Santo é indispensável à vida
espiritual. Assim como a água encontra-se em três regiões do Universo, ou seja,
na expansão dos céus (Gn 1.6-10); sobre a face da terra (Gn 7.11), e debaixo da
terra (Jo 38.30), o Espírito Santo opera nas três dimensões da constituição
humana, produzindo a regeneração do espírito, da alma e do corpo (1Ts 5.23),
produzindo uma “lavagem da regeneração e da renovação” (Tt 3.5).
IV.
RESULTADOS DE UMA COMUNHÃO PROFUNDA COM DEUS
A interpretação literal da visão
escatológica de (Ez. 47) mostra-nos que haverá uma mudança na geografia da
Palestina. O vale do Jordão é a depressão geológica, na qual o mar Morto se
encontra. Esse mar tem uma água tão salgada que nela não há vida. Todavia, as
águas que vinham do altar desaguavam no mar Morto, sarando-lhe, de modo que a
vida será novamente possível ali (Ez. 47.9). Semelhantemente, quando
mergulhamos no rio do Espírito, obtemos resultados gloriosos, como por exemplo:
1. Mudança (Ez. 47.7).
O profeta começa a descrever o que
viu após o rio começar a fluir de forma abundante. À sua margem havia uma
abundância de árvores, isto porque aquela água foi tirando a sequidão do
caminho e trazendo grandes transformações na natureza. Assim também quando o
Espírito é derramado sobre a nossa vida a nossa natureza dura e enrijecida é
transformada (Jo 3.5-8). Os resultados da água sobre a terra seca são
comparados na Escritura com os resultados que o Espírito proporciona ao ser
derramado no homem (Is. 35.7).
2. Vida (Ez. 47.9a).
Por causa da grande quantidade de
sal no mar Morto, nenhum ser vivente consegue manter-se vivo lá, e suas águas
são paradas, não há ondas, por isso se chama mar Morto. Contudo quando as águas
que Ezequiel viu atingirem esse mar, a morte que nele está, dará lugar a vida,
fazendo com que haja uma enorme quantidade de peixes dentro de suas águas
conforme (Ez 47.9-b). É desejo de Deus fazer com que suas águas sejam em nós
derramadas, a fim de proporcionar uma vida abundante (Jo. 10.10-b; 14.6).
3. Frutificação (Ez 47.12).
O profeta contemplou que árvores
resistentes e com frutos saborosos encontravam-se a margem do rio. Uma
verdadeira renovação acontece, fazendo que o caráter adâmico seja suplantado
pelo caráter de Cristo, pelo fruto do Espírito (Mt. 3.8; Gl. 5.22). Esse fruto
aponta também para as obras que acompanham a salvação (Ef. 2.10). Ele quer que
sejamos produtivos: “Dessa maneira, poderão viver de modo digno do
Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no
conhecimento de Deus” (Cl 1.10 – NAA). Outros textos
bíblicos colaboram com essa assertiva (Jo. 15.2,8,16; Fp. 1.11).
CONCLUSÃO
Um dia, Deus restaurar não apenas a
nação de Israel, mas todos os povos, seu jardim voltará a existir, não será
apenas um novo Eden, mas antes uma nova terra onde o pecado não dominará mais.
Enquanto isso não acontece no mundo físico, podemos receber do Espírito Santo
restauração para nossa vida espiritual, e se permanecermos fiéis, contemplaremos
sua restauração plena para a criação.
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor
de. Dicionário
Teológico. CPAD.
Ø HORTON,
Stanley.
O
que a Bíblia diz sobre o Espírito Santo. CPAD.
Ø TAYLOR,
B.
John. Introdução e comentário de Ezequiel. VIDA NOVA.
Ø TOGNINI,
Enéas.
Geografia
da Terra Santa e das Terras Bíblicas. HAGNOS.
Ø SOARES,
Ezequias.
A
Justiça Divina. CPAD.
Por Rede Brasil de Comunicação.
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