Mt
19.3-12
INTRODUÇÃO
O divórcio sempre foi um assunto
delicado, mesmo no Antigo e Novo Testamento. Isto porque com o crescimento do
pecado, a banalização do casamento, o homem se distanciou do principio original
de Deus para o matrimônio: a indissolubilidade do casamento. Nesta lição,
aprenderemos o que a Bíblia diz sobre o assunto e enfatizaremos acima de tudo
que o divórcio não é um mandamento divino, mas uma permissão humana.
I – O QUE É O DIVÓRCIO?
“Divórcio é a dissolução do
vínculo matrimonial, ficando a parte inocente livre para contrair novas
núpcias”. Não é, portanto, a mera separação de corpos. Segundo o dicionário
bíblico exegético VINE o vocábulo grego “apostasion”, significa
primariamente “abandono”. O termo ocorre apenas três vezes no NT (Mt.
5.31;19.7; Mc 10.4), e quatro na Septuaginta (tradução do hebraico para o grego), como o termo hebraico “sepher
kritut”, em passagens como (Dt 24.1,3, Is 50.1; e Jr. 3.8). A outra palavra
grega com o sentido de divórcio é “apolyo”, que significa “repudiar”, “libertar”, “livrar”. Em
(Mt 15.23), significa “despachar”. Esse verbo é também usado para
“divorciar”, em (Mt 5.31; Mc 10.2,4,11), pois com o divórcio a mulher ficava
livre para casar-se novamente, conforme (Dt 24.1-4). Há ainda o verbo grego “chorizo”,
que aparece treze vezes no NT (1 Co 7.10,11,15), e significa “separar”, “apartar” (SOARES, 2012, p.63).
II – O DIVÓRCIO NO AT
É importante pontuar que o
divórcio não se originou nas Escrituras. Muito antes de
Moisés, na história na humanidade
já existem registros da prática entre os povos antigos. Um exemplo bem prático
disso é o código de Hamurabi (código de lei e ética caldeu - 1792-1750
a.C.), que legislava claramente sobre o divórcio, e entre os diversos
motivos para o divórcio estavam:
a) O casamento sem contrato escrito;
b) a mulher do prisioneiro que não
tiver renda para se sustentar;
c) a mulher de um foragido;
d) por qualquer motivo desde que
sejam respeitados os direitos dos dotes;
e) mulher de má índole;
f) marido relaxado, impotente,
irresponsável ou desonesto;
g) mulher acometida de doença
incurável, sendo neste caso, o marido obrigado a cuidar dela (LOPES, 2005,
p.101).
A passagem mais importante no AT
sobre o divórcio está em (Dt 24.1-4). A Lei de Moisés prescreve as razões para
essa prática em termos tão gerais que torna-se quase impossível explicar os
motivos que justificam o divórcio. A expressão em Dt. 24.1 no hebraico “erwar
dabar” e na Septuaginta (LXX) que é a versão do AT hebraico para o
grego “aschemon pragma” significa “coisa vergonhosa”. No
português é “coisa indecente nela” (ARA – Almeida Revista e Corrigida),
“por nela achar coisa feia” (ARC – Almeida Revista e Corrigida);
para os hebreus a expressão não parecia tão clara, sendo portanto objeto de
controvérsia dando origem as duas principais escolas dos rabinos Shammai e
Hillel. Entretanto, o Senhor Jesus como veio cumprir a Lei e não ab-rogá-la
(Mt. 5.17), deu o verdadeiro sentido ao termo, utilizando uma expressão mais
específica: porneia “relações sexuais ilícitas” (Mt 19.6).
Só em duas situações a Lei de
Moisés proibia o homem de conceder o divórcio à esposa: a) Se sua esposa
fosse acusada falsamente de pecado sexual pré-marital pelo marido (Dt
22.13-19); b) Quando um homem desvirginasse uma jovem, e o pai dela o
compelisse a desposá-la (Êx.22.16,17; Dt. 22.28,29). O pastor Ezequias Soares
citando o Dr. Alfred Edersheim, judeu cristão que viveu no séc. XIX com
profundo conhecimento em cultura judaica, afirma que para os judeus da época,
era motivo para o divórcio:
a) a mulher apresentar-se em público
com os cabelos soltos;
b) andar pelas ruas
desnecessariamente;
c) falar com familiaridade com homens;
d) maltratar os pais do marido na
presença dele;
e) gritar com o marido de maneira que
os vizinhos pudessem ouvi-la;
f) ter má reputação, fraudes antes
do casamento (SOARES, 2012, p.28).
No AT em caso de adultério, em
linhas gerais, a pena era a morte, e não o divórcio (Lv. 20.10; Dt.22.22). Há
duas citações em que o divórcio foi determinado quando os judeus retornavam do
exílio de Babilônia por causa do caso de casamento mistos (Ed 9 e 10; Ne
13.23). Embora a lei mosaica incluísse prescrições que regulamentavam o
divórcio, o AT DEIXA CLARO QUE DEUS NUNCA APROVOU O DIVÓRCIO (Ml 2.16). Moisés
não ordenou o divórcio, apenas permitiu, o divórcio não era
mandamento, apenas permissão.
III – O DIVÓRCIO NO NOVO
TESTAMENTO
Jesus falou sobre o divórcio no
seu célebre Sermão do Monte (Mt 5.31,32). O assunto torna a aparecer quando os fariseus
o trazem a Jesus (Mt. 19.3; Mc 10.2). Eles queriam saber se Cristo tomaria
partido de qual das duas escolas rabínicas da época: a primeira
era a Escola de Shammai, “(...) que dizia que o homem não podia se
divorciar de sua esposa a menos que encontrasse nela alguma indecência (coisa
feia); e a Escola de Hillel, que defendia que ele podia se divorciar até
mesmo se ela tiver estragado um prato que preparou para ele (...)”
(KÖSTENBERG, 2011, p. 237). Porém a resposta de Jesus transcende as discussões
legalistas das duas escolas rabínicas e atinge o cerne da questão. O Senhor Jesus
em sua resposta focaliza o propósito original do plano de Deus para o casamento
e sua indissolubilidade (Mt. 19.4-6), e argumenta que o divórcio contradiz,
essencialmente o propósito da criação de Deus.
POSICIONAMENTO
SOBRE DIVÓRCIO
|
|||
DIFERENÇAS
|
ESCOLA
DE SHAMMAI
|
ESCOLA DE
HILLEL
|
JESUS
|
Texto do A.T. sobre
Casamento
|
Dt.
24.1-4
|
Dt.
24.1-4
|
Gn
1.27;2.24
|
Significado de
porneia
|
Comportamento
indecente ou imoralidade sexual
|
Qualquer caso
em que a esposa desagradasse o marido
|
Comportamento
imoral.
|
Divórcio por
causa de
porneia
|
Exigido
|
Exigido
|
Permitido
|
IV - DIVÓRCIO NOS EVANGELHOS
ü
(Mt.
5.31,32) – ao
contrário das escolas rabínicas de Shammai e Hillel, o Senhor Jesus agora
restringia o divórcio “(...)
exceto em caso de relações sexuais ilícitas (gr. porneia)”. Ele
não deve ser uma regra geral, nem praticado indiscriminadamente. Jesus ao
restringir combate os abusos de sua época (Jo 4.18).
ü
(Mt.
19.3-12) – Neste
texto, Jesus deixa claro que o divórcio não foi uma instituição divina, mas
humana “(...) pela dureza do vosso coração é que Moisés
PERMITIU repudiar vossas mulheres; entretanto NÃO FOI ASSIM DESDE O PRINCÍPIO” (Mt 19.8), logo o divórcio não
veio por causa do adultério, mas foi permitido por causa da degeneração da raça
humana. Esse texto não quer dizer que Jesus estava ensinando que a parte inocente
deveria divorciar-se do cônjuge infiel, mesmo tendo base legal para o divórcio.
Jesus nunca estimulou ou encorajou o divórcio. Mas que o único divórcio e novo
casamento que não equivalia ao adultério era o da parte inocente, cujo cônjuge
fora infiel. O divórcio não deve ser a primeira opção em infidelidade conjugal,
mas o perdão (Mt. 18.21-35; Lc 17.4).
ü
Mc
10.2-12 – ainda
que o texto não traga a expressão “(...) exceto em caso de relações
sexuais ilícitas (...)”, a passagem está em perfeita harmonia com (Mt
5.31,32 e 19.3-12).
V - DIVÓRCIO NAS EPÍSTOLAS
PAULINAS
ü
Aos
casais crentes (I Cor 7.10-11) –
O apóstolo, nesta passagem, fala de casais mistos e de casais crentes. No vers.
10 ele condena terminantemente a separação do casal crente. Não existe, a luz
da Bíblia base legal para o divórcio, exceto em situação excepcional (Mt.
5.31,32). A lei do país, que permite o divórcio, não está acima da Palavra de
Deus. A conduta do cristão é norteada pelas Escrituras. Os cristãos devem
seguir o padrão bíblico do casamento: a indissolubilidade.
ü Aos casais mistos (I Co 7.12-15) – Em caso de casamento misto, o
apóstolo recomenda que se o cônjuge descrente consente em viver com o cristão, “(...)
não a (o) deixe(...)”. Porém se o cônjuge descrente quiser separar-se,
o casamento não é obrigatório. Depois da separação o cônjuge crente estará
livre para contrair novas núpcias. Em outras palavras, o divórcio nas
Escrituras só é permitido em dois casos: 1) a parte inocente pode divorciar-se
de seu companheiro, caso este seja culpado de imoralidade; 2) o crente pode
concordar com a deserção de seu cônjuge incrédulo, se este se recusar a
continuar vivendo em sua companhia.
IMPORTANTE: Há situações que
envolvem divórcios que são extremamente complexas, nestes casos, é prática de nossa
Igreja, levar o assunto ao Pastor da igreja que dará a visão bíblica específica
sobre o assunto.
CONCLUSÃO
Aprendemos com esta lição que o
projeto original de Deus sempre será a indissolubilidade do casamento. Entretanto,
por conta da natureza humana degenerada pelo pecado, Moisés permitiu, não
ordenou, a carta de divórcio. Na época do NT por coisas banais o indivíduo
se divorciava; É por isso que o Senhor Jesus o restringe completamente a relações
sexuais ilícitas, não estimulando ou ordenando, mas reconhecendo que na
condição de degradação humana, essa possibilidade deveria existir como
solução paliativa para uma humanidade mergulhada no pecado.
REFERÊNCIAS
STAMPS, Donald C.
Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
SILVA, Esequias
Soares de. Analisando o divórcio à luz da Bíblia. CPAD.
LOPES, Hernandes
Dias. Casamento, divórcio e novo casamento.
HAGNOS. VINE, W.E, et
al. Dicionário Vine. CPAD.
Por Rede Brasil de
Comunicação
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