Rm 4.17-22
INTRODUÇÃO
Nesta lição,
traremos a definição da palavra justificação; estudaremos a doutrina da
justificação pela fé; analisaremos a insuficiência da Lei para a justificação; pontuaremos
Abraão e a doutrina da justificação; e concluiremos vendo os elementos da
justificação.
I. DEFINIÇÃO DE JUSTIFICAÇÃO NA
BÍBLIA
O sentido de “justiça”
no AT procede de dois termos hebraicos: “tsedeq”, cujo sentido
primário é “ser retilíneo”, “ser reto”, “retidão”; e, “mishpat”,
traduzido por “justiça” e “juízo” (2 Cr 12.6; Ec 12.14; Sl 1.5; Sl 11.7). O NT
emprega a palavra “dikaiosyne” para designar os termos “justiça”,
“retidão”, “justo”, “reto” e “justificação”. No AT embora o termo “justificar”
tenha, às vezes, uma conotação moral ou ética, grande parte de sua ocorrência
deixa evidente o aspecto forense (jurídico) do termo, onde uma pessoa é
declarada judicialmente justa por ter uma vida coerente com as exigências da
Lei (Êx 23.7; Is 5.23; Dt 25.1; Pv 17.15). Já o sentido no NT do termo
“justificar” é mais amplo, pois se trata de uma pessoa declarada justa ante o
tribunal de Deus, com base na justiça de Cristo (VINE, 2006, p. 733).
II. A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO
PELA FÉ
Podemos definir
a justificação como um ato judicial de Deus, no qual ele declara, com base na
justiça de Cristo, que todas as reivindicações da Lei são satisfeitas com
vistas ao pecador (Rm 5.1-10; At 26.18). A justificação traz a absolvição da
culpa por sermos declarados justos, e, está claramente associada à expiação dos
nossos pecados (Rm 4.25).
2.1 A doutrina
da justificação pela fé.
A doutrina da
justificação pela fé é o cerne da teologia paulina, utilizada especialmente
quando em confronto direto com o ensino judaico ou dos judeus cristãos, que
defendiam que o homem encontra a graça de Deus quando cumpre a vontade divina
por meio da Lei judaica (legalismo). Paulo contra-argumenta que basta ao ser
humano ter fé na eficácia do sacrifício de Cristo na cruz para Deus o declarar
justo (Gl 1.6,9). A Escritura nos ensina que somos justificados pela fé (At
13.39; Rm 3.26,28,30; 4.3,5; 5.1; Gl 2.16; 3.8) ou mediante a fé (Rm 5.1; Gl
2.16; Fp 3.9), mostrando, assim, que existe uma estreita relação entre a
justificação e a fé (GILBERTO, 2004, p.147).
2.2 O aspecto
forense da doutrina da justificação pela fé.
O termo forense
está relacionado ao “sistema e práticas judiciais”. Neste caso, a
justificação tem como base a justiça de Cristo. Sendo o homem incapaz de se
auto justificar, Deus o justifica. Surge então a questão: como Deus, sendo
absolutamente justo, pode justificar o homem injusto e pecador? Paulo responde
e deixa claro que Cristo se fez justiça por nós (Rm 3.24-26; 4.5; 1 Co 1.30).
Portanto, Deus não é injusto ao justificar o injusto, pois o fundamento é a
justiça de Cristo e Deus considera a justiça dEle pertencente ao homem.
2.3 Jesus e a
doutrina da justificação pela fé.
A doutrina da
justificação pela fé está presente na mensagem propagada por Jesus, como pode
ser constatada em diversas parábolas e também no seu próprio estilo de vida.
Paulo apresenta uma compreensão da mensagem de Jesus maior do que qualquer
outro autor do NT. Um ensinamento tão crucial como a doutrina da justificação
não poderia estar ausente nos ensinamentos do “Mestre dos mestres”, o Senhor
Jesus Cristo (Lc 23.43; Lc 18.9-14). O pecador é justificado gratuitamente pela
graça de Deus (Rm 3.4) e não há nenhuma possibilidade de justificação pelas
obras da lei (Rm 3.28; Gl 2.16; 3.11). A base da justificação só pode ser
encontrada na justiça perfeita de Cristo, imputada
ao pecador na justificação e apropriada pela fé (Rm 3.24; 5.9,19; 8.1; 10.4; 1 Co
1.30; 6.11; Fp 3.9).
III. A INSUFICIÊNCIA DA LEI PARA
A JUSTIFICAÇÃO
A justificação é
uma providência tomada por Deus de nos declarar justificados em Cristo Jesus
para todo o sempre. Éramos pecadores, filhos da ira e condenados. Agora,
passamos à posição de filhos de Deus (Jo 1.11-12; Fl. 3.20-21).
3.1 A justiça do
homem é como trapo de imundícia.
Como poderia um
pecador, um ser humano decaído e miserável, sobreviver diante do tribunal de um
Deus absolutamente santo e justo? A justiça inerente do homem é insuficiente
para a justificação, considerada como trapos de imundícia (Is 64.6; Fp 3.8,9),
sendo necessária uma justiça superior que está fora do homem e que lhe seja
atribuída. A essência da justificação é de que o homem é perdoado com justiça,
entretanto, é preciso entender que tal justiça é alcançada por Cristo por sua
perfeita obediência e o sacrifício de si mesmo, sendo posteriormente atribuída
ao crente. Essa justificação traz como efeito o perdão, a paz com Deus e a
certeza da salvação. As boas obras não são consideradas como causa, mas como
consequências da justificação (Rm 5.19; 1 Co 1.30; 2 Co 5.21).
3.2 A
justificação pela fé e a santificação.
A justificação
pela fé não significa que uma vez justificado, o crente pode fazer o que bem
entender. Precisa-se tomar cuidado com algumas afirmações teológicas, como por
exemplo, a que ensina que “uma vez salvo, salvo para sempre”. A
justificação, como já vimos, é imediata, instantânea. No entanto, uma vez justificado,
o crente deve manter sua vida de comunhão com Deus e desenvolver a
santificação, que é progressiva. Na verdade, na justificação, Deus realmente
remove de nós a culpa pelo pecado, isto é, a sujeição do pecador à punição
eterna, mas não a culpabilidade inerente a qualquer pecado que seja praticado
(Sl 25.7; 51.5-9).
IV. ABRAÃO E A DOUTRINA DA
JUSTIFICAÇÃO
Paulo inicia o
tema da Justificação em Romanos 1.18 e só o conclui em Romanos 4.25. Estes
capítulos incluem: a necessidade da justificação (Rm 1.18-20), o meio da
justificação (Rm 3.21-31) e, exemplos da justificação (Rm 4.1-25). O assunto
principal dos quatro primeiros capítulos de Romanos é a Revelação da Justiça
Salvífica de Deus. A fim de provar a universalidade do pecado (Rm 3.9-20,23), e
a necessidade de justificação geral (Rm 3.22) (GILBERTO, 2004, p.148).
4.1 A
justificação de Abraão não foi por obras meritórias.
Os judaizantes
do passado pregavam que a justiça provinha das obras (At 15.1; Gl 2.21). O
apóstolo Paulo diz pela inspiração que somos salvos pela fé e não pelas obras
(Ef 2.8-10). Paulo retrocede no tempo, para além de Moisés, e toma Abraão como
exemplo de fé. Abraão tinha fé em Deus, isto é, cultivava um dedicado e leal
relacionamento com seu Deus, cria nas suas promessas (Rm 4.20,21; Gn 12.1-3;
15.5,6) e vivia em obediência ao Senhor (Gn 12.1-4; 22.1-19; Hb 11.8-19; Tg
2.21,22;). A fé de Abraão foi “imputada” por justiça. A expressão
“imputar” significa creditar na conta da pessoa. A Escritura nos
ensina que somos justificados pela fé (Rm 3.28,30) ou mediante a fé (Rm 5.1; Gl
2.16; Fp 3.9), mostrando, assim, que existe uma estreita relação entre a
justificação e a fé.
4.2 A
justificação de Abraão não foi por meio da circuncisão.
Um dos
argumentos mais fortes utilizados pela epístola aos Romanos é da paternidade de
Abraão de todos aqueles que creem (Rm 4.9-12). O período em que Abraão foi
declarado justo pela sua fé na Palavra de Deus, conforme descrito em Gênesis
15.6, correspondia a uma época bem anterior à sua circuncisão. Se a fé e a
justificação de Abraão ocorrem antes da circuncisão, ele também é pai dos
gentios, que creem independentes de circuncisão. A lei mosaica foi estabelecida
depois da promessa e justificação de Abraão pela fé (430 anos depois).
Portanto, não influenciou na justificação. Dessa forma, Abraão foi justificado
antes da circuncisão e do estabelecimento da Lei (Rm 4.12; Ef 2.8) (GILBERTO,
2004, p.148).
V. ELEMENTOS DA JUSTIFICAÇÃO
A justificação é
uma das mais importantes doutrinas da salvação, pois sem ela não haveria
salvação. Tanto o arrependimento como a fé, o perdão e a regeneração conduzem à
justificação. Há quatro elementos da obra de justificação que são: a) a
remissão dos pecados; b) a imputação da justiça de Cristo; c) a
adoção de filhos; e, d) o direito a vida eterna ao pecador. Vejamos:
5.1 A remissão
dos pecados.
A remissão dos
pecados está baseada na obediência completa e absoluta de Cristo, isto é, em seu
perfeito cumprimento da Lei (Sl 32.1; Is 43.25; 44.22; Jr 31.34). O perdão
concedido por Deus na justificação aplica-se a todos os pecados, passados,
presentes e futuros, e, por isso, envolve a remoção da culpa e de toda a
penalidade. Passagens como Romanos 5.21; 8.1,32-34; Hebreus 10.14; Salmos
103.12; Isaías 44.22 nos asseguram que ninguém pode lançar nada na conta da
pessoa justificada, que está isenta de condenação e é herdeira da vida eterna.
5.2 A imputação
da justiça de Cristo.
Na justificação,
Cristo não apenas tira de nós a nossa iniquidade, mas também nos reveste com a
sua própria santidade (At 26.18; Rm 5.1-2; Gl 4.5). A justificação é uma
necessidade para que o crente tenha certeza absoluta de que está salvo, seguro,
aceito por Deus e para criar uma relação de Pai para filho e filho para Pai entre
o crente e Deus. A salvação e a justificação são só pela graça mediante a fé
(Rm 3.20,28; 11.6; Ef. 2.8-9).
5.3 Adoção de
filhos.
Os crentes são,
antes de tudo, filhos de Deus por adoção. Por intermédio dessa adoção, Deus
coloca o pecador no estado de filho e passa a tratá-lo como filho. Em virtude
de sua adoção, os crentes são inseridos na família de Deus, ficam sob a lei da
obediência filial e passam a ter direito a todos os privilégios da filiação. A
adoção como filhos e a filiação moral dos crentes andam de mãos dadas. Por um
lado, eles são adotados por Deus como filhos. Por outro, eles passam a se
comportar como filhos de Deus (Gl 4.4-6).
5.4 O direito à
vida eterna.
Quando os
pecadores são adotados por Deus, eles passam a ter todos os direitos de filhos
e, por isso, tornam-se herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo (Rm 8.17).
Isso significa, antes de tudo, que eles se tornam herdeiros de todas as bênçãos
da salvação nesta vida. A justificação é a mudança de posição externa e legal
do pecador diante de Deus: de condenado para justificado. Pela justificação
passamos a pertencer aos justos (1 Co 6.11; Rm 8.30,33b; 5.1; 3.24; G1 2.16).
CONCLUSÃO
Tendo sido
justificados pela graça, mediante a fé, experimentamos grandes benefícios de
agora em diante: “temos paz com Deus” (Rm 5.1) e estamos “preservados
da ira de Deus” (Rm 5.9). Temos a certeza da “glorificação final”
(Rm 8.30) e a libertação presente e futura da “condenação” (Rm
8.1,33,34). A justificação nos toma “herdeiros, segundo a esperança da
vida eterna” (Tt 3.7).
REFERÊNCIAS
Ø ANDRADE,
Claudionor Corrêa de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø GILBERTO,
et al. Teologia Sistemática Pentecostal. CPAD.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø VINE, E. W; et al. Dicionário Vine: o
significado exegético e expositivo das palavras do AT e NT. CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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