Rm
7.1-15
INTRODUÇÃO
Nesta lição
estudaremos a analogia que o apóstolo Paulo usa do casamento para ilustrar
nosso divorciamento da Lei e o novo “matrimônio” com Cristo. Pontuaremos também
a santidade da Lei e a malignidade do pecado, veremos os propósitos da Lei, e
por fim, concluiremos estudando sobre o Espírito e a novidade de vida.
I. O CASAMENTO COM A LEI VERSUS O
CASAMENTO COM CRISTO
Romanos 7 é um
dos capítulos de maior complexidade para se interpretar de toda a Bíblia. Nesta
passagem Paulo nos oferece primeiro um princípio (Rm 7.1), depois
nos dá uma ilustração (Rm 7.2,3) e finalmente nos apresenta uma aplicação
(Rm 7.4-6). Notemos algumas verdades devem ser aqui destacadas:
1.1 Casados com
a Lei (Rm 7.1-3).
Paulo compara a
Lei com um “marido” e os crentes com uma “esposa” e usou o casamento para
mostrar o nosso relacionamento com a Lei. Paulo usa a analogia da morte de um
cônjuge no casamento para ilustrar a morte do crente para a Lei, pelo fato de ele
estar unido com Cristo (Rm 7.1-6). Isto significa que tendo “morrido” somos
exonerados de toda obrigação e dever para com a Lei, e que ficamos livres para
nos “casar” novamente. Desta vez nos casamos, não com a Lei, mas com Cristo
(BARCLAY, sd, p. 102). A culpa não é do marido (a Lei), pois é “perfeito,
santo, justo e bom” (Rm 7.12). O problema é que essa esposa (os
homens) nunca consegue agradá-lo, pois é imperfeita, carnal, rendida ao
pecado e sempre frustra as expectativas do marido (Rm 7.14-25). No caso em
apreço, não é o marido quem morre (a lei), mas a esposa (o
crente). O crente morre para a Lei ao identificar-se com Cristo na sua
morte. Assim como a morte do marido liberta a esposa, pela morte de Cristo
recebemos nossa libertação de todas as exigências da Lei (LOPES, 2010, p. 259 -
grifo e acréscimo nosso).
1.2 Mortos para
a Lei (Rm 7.4).
Apenas a morte
pode interromper o domínio da Lei sobre os homens. Se a morte sobrevém, os relacionamentos
estabelecidos e protegidos pela lei são dados por terminados. A lei é válida
para quem vive; e não tem poder sobre um morto. Enquanto vivermos para a Lei (a
observância da Lei), estaremos sujeitos às demandas e penalidades
desta. A ideia central é que essa morte não apenas encerra um relacionamento,
mas, traz legitimidade para o novo casamento, e abre caminho legal para que a
“mulher” (que somos nós) inicie outra união matrimonial agora com
seu “novo” esposo que é Cristo. Só a morte do antigo “marido” (a Lei) pode
tirar essa “mulher” (que somos nós) desse jugo conjugal. Isso
porque, ainda que o casamento seja para toda a vida, não se estende para além
da vida, O segundo casamento é moralmente legítimo porque a morte pôs fim ao
primeiro casamento, pois a única possibilidade de a mulher ficar “livre” do
marido para unir-se a “outro” marido é a morte do primeiro. Uma vez que
morremos com Cristo, fomos libertados da Lei (LOPES, 2010, p. 259 – grifo
nosso).
1.3 Libertados
da Lei e casados com Cristo (Rm 7.6).
No primeiro
casamento, vivíamos segundo a carne. Naquele tempo, a perfeição do nosso
primeiro marido (a Lei) realçava ainda mais nossos erros e paixões pecaminosas.
Os frutos que produzimos nesse primeiro casamento foram frutos de morte. Porém,
agora, no segundo casamento, libertados desse primeiro marido perfeccionista,
morremos para aquilo a que estávamos sujeitos. A força que nos move agora
não é mais a velhice da letra, mas a novidade de espírito (Rm 7.6). Na
velha ordem estávamos casados com a lei, éramos controlados pela carne e
produzíamos fruto para a morte, enquanto como membros da nova ordem estamos
casados com o Cristo ressurreto, fomos libertados da lei e produzimos fruto
para Deus.
1.4 A Lei, a
carne e o espírito (Rm 7.14-25).
Paulo faz uma
analogia para mostrar a luta da carne com o Espírito falando de um conflito
entre a nossa “nova natureza” em Cristo e o “velho homem” residente
em nós. Paulo chama a atenção para o viver "em novidade do Espírito"
(Rm 7.6) como forma de vencer as inclinações da carne. Esse conflito é
inevitável, pois, duas leis se chocam, a lei do pecado e a lei de Deus. Podemos
chamá-las de “lei carnal e lei espiritual”. O campo de batalha
entre essas duas forças é o interior do homem, e o apóstolo declara que o
problema não está na Lei de Deus, mas na natureza pecaminosa do homem. Essa
escravidão envolve toda a personalidade do homem (CABRAL, 2005, pp. 85,86).
II. A SANTIDADE DA LEI E A
MALIGNIDADE DO PECADO
O apóstolo
levanta duas perguntas importantes sobre o caráter da lei: a) A
lei é pecado? (Rm 7.7), e b) A Lei é a causadora da morte? (Rm
7.13). Ambas as perguntas têm a mesma resposta: “De modo nenhum!” (Rm
7.7,13). Diante do exposto, levantamos dois pontos:
2.1 Em primeiro
lugar, as virtudes da lei (Rm 7.12).
A lei é santa e
o mandamento, santo, justo e bom. Em si mesma a lei é valiosa e esplêndida. O
significado básico do termo hagios, “santo”, é diferente. Descreve o que provém
de uma esfera alheia a este mundo, algo que pertence a um campo que está mais
além da vida e da existência humana. A lei é também justa. E ela que estabelece
todas as relações, humanas e divinas. Finalmente, Paulo diz que a lei é boa, ou
seja, foi promulgada para promover o supremo bem. Na qualidade de santa,
justa e boa, a lei reflete o caráter de Deus, sendo a cópia de suas perfeições.
Na qualidade de “santo”, o mandamento reflete a
transcendência e a pureza de Deus, exigindo de nós consagração e pureza correspondentes.
Na qualidade de “justo”, o mandamento reflete a equidade de Deus
e requer de nós, em suas exigências e sanções, nada aquém do que puro. E, na
qualidade de “bom”, o mandamento promove o mais elevado bem-estar
do homem, expressando, desse modo, a bondade de Deus. O problema não é a lei;
somos nós (LOPES, 2010, p. 263 – grifo nosso).
2.2 Em segundo
lugar, a malignidade do pecado (Rm 7.13).
A lei não é a
causadora da morte, mas sim o pecado (Rm 6.23), assim como o problema de um
criminoso não é a lei, mas sua transgressão. Ao exigir do homem o que ele não
pode fazer, a lei o condena e o leva à morte. Não há falha na lei; a falha está
no homem que não consegue obedecer seus preceitos. Desta forma, a lei revela a
gravidade do pecado, que produz a morte. Sendo santa, a lei mostra o caráter
maligníssimo do pecado (Op. cit).
III. OS PRÓPOSITOS DA LEI
Se a lei não é
pecado (Rm 7.7), nem provoca a morte (Rm 7.13), qual é seu papel? Qual é seu
ministério? Qual é seu propósito? Paulo oferece três respostas. Notemos:
3.1 Em primeiro
lugar, o propósito da lei é revelar o pecado (Rm 7.7).
O pleno
conhecimento do pecado vem pela lei “Que diremos pois? É a lei pecado? De
modo nenhum. Mas eu não conheci o pecado senão pela lei; porque eu não
conheceria a concupiscência, se a lei não dissesse: Não cobiçarás.” (Rm
3.20). A lei é um espelho que revela o ser interior e mostra como somos imundos
(Tg 1.22-25). É como um prumo que mostra a sinuosidade da nossa vida. É como um
raio-X que diagnostica os tumores infectos da nossa alma. A lei detecta as
coisas ocultas na escuridão e as arrasta à luz do dia. É a lei que destampa o
fosso do nosso coração e traz à tona a malignidade do nosso pecado (LOPES,
2010, p. 264 – grifo nosso).
3.2 Em segundo
lugar, o propósito da lei é “despertar” o pecado (Rm 7.8).
A lei não só
expõe o pecado, mas também o desperta “Mas o pecado, tomando ocasião pelo
mandamento, despertou em mim toda a concupiscência; porquanto sem a lei estava
morto o pecado.”. O pecado encontra no mandamento uma base para
despertar em nós toda sorte de desejos. A lógica de Paulo é irrefutável: sem
lei, está morto o pecado (Rm 7.8). Onde não há proibição, não há transgressão.
Sem lei, o pecado não pode ser caracterizado juridicamente (Rm 5.13).
Unicamente pelo encontro com a lei o pecado se torna passível de ação judicial.
No entanto, pela lei vem o pleno conhecimento do pecado (Op. cit).
3.3 Em terceiro
lugar, o propósito da lei é condenar o pecado (Rm 7.9-11).
Onde não há lei,
também não há transgressão “E eu, nalgum tempo, vivia sem lei...”.
A expressão de Paulo: “Sem a lei, eu vivia...” (Rm 7.9), falava
sobre a vida baseada na justiça própria, sem perturbações e autocomplacente que
ele levava antes de agirem sobre ele as comoções turbulentas e a convicção de
pecado descritas nos versículos anteriores. O propósito da lei não é matar, mas
dar vida. Contudo, aquilo que era destinado a nos dar vida nos matou, porque o
pecado, prevalecendo-se do mandamento, pelo mesmo mandamento nos enganou e nos
matou “E o mandamento que era para vida, achei eu que me era para morte.
Porque o pecado, tomando ocasião pelo mandamento, me enganou, e por ele me
matou.” (Rm 9.10,11). Assim, o propósito da lei não é
apenas revelar e despertar o pecado, mas também condená-lo. “A lei não é
um simples reagente pelo qual se pode detectar a presença do pecado; é também um
catalisador que ajuda e até mesmo inicia a ação do pecado sobre o homem. A lei
insufla o desejo ilícito” (GREATHOUSE apud LOPES, 2010, p. 264 – grifo
nosso).
IV. O ESPÍRITO E A NOVIDADE DE
VIDA
4.1 Somente após
o homem ser gerado de novo através da fé em Cristo é possível servir a Deus em espírito.
Paulo demonstra
que os judeus não serviam a Deus, antes, só tinham zelo, porém, sem
entendimento (Rm 10.2). Por quê? Porque só é possível servir a Deus em espírito
e em verdade, ou seja, quando o homem é gerado do Espírito, é o mesmo que ser
circuncidado no coração. Somente em Cristo é possível ao homem alcançar a
condição de servir a Deus em espírito (Jo 4.23). A condição “em espírito” só é
possível quando o homem é gerado de Deus (Jo 3.6).
4.2 Somente após
o homem “morrer” para o que estava retido (a Lei) é possível servir a Deus em
espírito.
Através da circuncisão
do coração! Quando Moisés apregoou a circuncisão do coração ao povo de Israel,
tal circuncisão só era possível através da fé em Deus, Aquele que tem o poder
de circuncidar o coração, transforma o homem gerado em Adão e concede um novo
coração (Dt 30.6). Somente após alcançar novo coração (novo nascimento) o
homem compreende a Palavra de Deus (Dt 29.4).
4.3 A lei de
Moisés (velhice da letra) não poderia proporcionar o novo nascimento.
O objetivo de
terem morrido para a lei, ou antes, morrido com Cristo é para servirem a Deus
com um novo espírito e um novo coração (Ez 36.25-27). Ora, o novo coração e o
novo espírito só são possíveis alcançar através da regeneração em Cristo.
Somente o evangelho de Cristo, que é a “água limpa aspergida pelo
Espírito Eterno”, faz nascer o novo homem para louvor de sua glória (Jo
3.5; Ez 36.26). É através do evangelho que o homem recebe poder para ser criado
em verdadeira justiça e santidade (Jo 1.12; Ef 4.24). Ao escrever aos cristãos
de Coríntios (2 Co 5.17), Paulo aponta a nova condição dos cristãos efetiva no
presente. Ora, se alguém (sujeito indeterminado) está (presente) em Cristo
(condição), é uma nova criatura.
CONCLUSÃO
O crente
justificado é sepultado pela morte para o pecado e surge para uma nova vida em
Cristo, uma nova disposição na relação com Deus. Uma nova identidade, não mais
relacionada ao primeiro Adão, mas da descendência de Cristo, o segundo Adão, e
membro de sua família. Esta nova vida, não significa que o crente nunca mais
irá pecar, mas que não viverá na prática do pecado, como seu escravo.
REFERÊNCIAS
BARCLAY, William.
Comentário Bíblico de Romanos. PDF
RICHARDS,
Lawrence, Guia do Leitor da Bíblia: Uma análise de Génesis a Apocalipse.
CPAD.
CABRAL, Elienai. Romanos:
O Evangelho da Justiça de Deus. CPA
Por Rede Brasil
de Comunicação.
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