At
4.32-37
INTRODUÇÃO
Nesta
lição, abordaremos uma igreja marcada pelo amor, evidenciado por três
características: comunhão, graça e solidariedade. Veremos que a igreja de
Jerusalém demonstrou isso por meio das ações promovidas no dia a dia daquela
jovem comunidade cristã.
I. UMA IGREJA CHEIA DO AMOR FORTALECE
A COMUNHÃO CRISTÃ
A
Igreja não é um clube, uma empresa nem uma associação, mas sim o conjunto ou a
comunhão dos redimidos em Cristo, que compartilham da “unidade do Espírito pelo
vínculo da paz” (Ef 4.3). A Igreja é o corpo místico de Cristo, e cada crente,
em particular, é membro desse corpo glorioso (1Co 12.12-13). Por conseguinte, a
comunhão no Espírito (Fp 2.1) é vital para a unidade e a paz da Igreja.
Vejamos, então, as expressões da comunhão da igreja em Cristo:
1.
Uma igreja cheia do amor demonstra o amor de Deus (1Co 13.1-8).
Nas
páginas do NT encontramos as expressões “amor fraternal” (Rm 12.10; 2Pe 1.7) e
“caridade fraternal” (1Ts 4.9; Hb 13.1; 1Pe 1.22). Trata-se literalmente do
amor e afeição entre irmãos (1Pd 3.8). Em 1Coríntios 13, a Bíblia destaca o
amor divino como a virtude que deve reger o relacionamento entre as pessoas. É
esse amor que promove a comunhão dos santos (1Co 13.4; Fp 2.1). Esse amor
faz-nos acolher e aceitar o próximo como irmão.
2.
Uma igreja cheia do amor fortalece a unidade cristã (Jo 17.21-12; Ef 4.5,6).
Segundo
Efésios 4.3, a comunhão, unidade e paz na igreja, não são produtos dos esforços
humanos, mas uma ministração do Espírito Santo. Uma vez que o crente é templo e
habitação do Espírito de Deus (Jo 14.16,17; Rm 8.14; 1Co 3.16; 6.19), somos
todos “um só corpo” (Ef 4.4), servindo e amando a “um só
Senhor”, compartilhando de “uma só fé”, “um só batismo”, “uma
só esperança”, “um só Deus e pai de todos” (vv. 5,6). Guardemos, pois,
a “unidade do Espírito pelo vínculo da paz” (v. 3).
3.
Uma igreja cheia do amor fortalece a comunidade cristã (At 2.42).
Assim
o doutor Lucas descreveu as características da igreja primitiva: “E
perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e
nas orações.” (At 2.42). Os fiéis se reuniam fraternalmente e tinham
uma causa comum. A igreja cristã era a comunidade dos remidos. Todos
compartilhavam dos mesmos interesses. Ninguém se sentia excluído, pois as
diferenças sociais e espirituais não eram superiores à fraternidade
comunitária.
II. UMA IGREJA CHEIA DO AMOR TEM
ABUNDANTE A GRAÇA
1.
A graça de Deus era abundante na igreja em Jerusalém.
Lucas
enfatiza que a graça de Deus era presente na igreja primitiva afirmando que: “[...]
em todos eles havia abundante graça” (At 4.33). Lucas usa a palavra
grega dynamei, a mesma usada em Atos 1.8, para referir-se ao poder com
que os apóstolos davam testemunho da ressurreição de A ideia por trás desse
texto é de uma grande demonstração do Espírito mediante milagres, sinais e
prodígios. A vida em harmonia na comunidade cristã somada às demonstrações
carismáticas eram reflexo da abundante graça na igreja (Gonçalves, 2025, p.
73).
2.
A graça de Deus promoveu o altruísmo cristão na igreja em Jerusalém.
Altruísmo
é a preocupação e dedicação ao bem-estar dos outros, frequentemente com
sacrifício dos próprios interesses, motivada por um sentimento de empatia ou
preocupação genuína pelo próximo. Isso fica evidente na igreja em Jerusalém. O
pastor José Gonçalves destaca: é bastante preciso quando diz que aqueles
cristãos formavam uma comunidade de “uso”, e não de “domínio”. Isso significa
dizer que eles partilhavam os seus bens à medida que alguém tinha necessidade
sem, contudo, serem obrigados a desfazer-se deles. Não há aqui nenhuma
indicação de que aqueles crentes deveriam renunciar o seu direito à propriedade
privada. Isso fica claro no caso de Maria, mãe de Marcos, que possuía uma casa
que não foi vendida, continuando na sua propriedade e servindo como um local
onde se faziam reuniões de oração (At 12.12) (Gonçalves, 2025, p. 71).
3.
A graça de Deus promoveu gratidão na igreja em Jerusalém.
A
graça que alcança o pecador (Tt 2.11) e liberta ele do reino das trevas (Cl
1.13-14), é a mesma graça que gera um sentimento de gratidão que o impulsiona
para uma vida de generosidade e solidariedade. Os filipenses agiram assim com o
apóstolo Paulo: “[...] nenhuma igreja comunicou comigo com respeito a dar
e a receber, senão vós somente” (Fl 4.15). A gratidão
gera a atitude de cuidado com os irmãos em Cristo. A igreja em Jerusalém
vivenciou isso, pois o texto bíblico afirma: “[...]tinham tudo em comum” (At
2.44), esse compartilhamento de bens é somente possível por meio de corações
salvos e gratos a Deus.
4.
A graça de Deus promoveu voluntariedades na igreja em Jerusalém.
O
texto bíblico desta essa nobre atitude de voluntariedade como resultado da
graça: “[...] os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o
preço do que fora vendido e o depositavam aos pés dos apóstolos” (At
4.34). Três coisas precisam ser destacadas aqui sobre a igreja de Jerusalém:
(1) a supervisão dos apóstolos, (2) a voluntariedade e (3) a solidariedade da
igreja. Como resposta à abundante graça de Deus dispensada para com a igreja,
os crentes logo perceberam que havia pessoas necessitadas no seu meio. A igreja
não era nivelada. Houve um movimento voluntário de partilha e doação para
atender os mais carentes que passou a ser concentrado nos apóstolos (Gonçalves,
2025, p. 73).
III. UMA IGREJA CHEIA DO AMOR PRATICA
A SOLIDARIEDADE CRISTÃ
A
solidariedade praticada pela igreja é o reflexo do amor cristão cultivado entre
os irmãos, é o reconhecimento da igreja enquanto corpo de Cristo. No entanto,
essa prática é norteada por princípios como tais como: generosidade,
mutualidade, responsabilidade e proporcionalidade. Notemos:
1.
A solidariedade cristã tem como base o princípio da generosidade.
O
apóstolo Paulo mostra que a generosidade cristã deve ser evidenciada em nossas
vidas, pois o Senhor ama aquele que dá com alegria. (Rm 12:8) Quem contribui
receberá a misericórdia de Deus. Citaremos alguns princípios sobre a
contribuição, bem como a algumas promessas divinas para quem contribui.
- Tudo pertence a Deus, o Senhor nos confiou em nossas mãos (2Co 8.5);
- Precisamos tomar uma decisão firme de servir ao Senhor e não ao dinheiro (Mt 6.24);
- A contribuição serve para manter a Igreja e suprir as necessidades sociais (2Co 8.14; 9:12; Pv 19.17; Gl 2.10);
- Promover o reino de Deus (1Co 9:14; Fp 4:15-18);
- Quando contribuímos acumulamos tesouros no céu (Mt 6.20; Lc 6.32-35);
- A contribuição é a prova de amor para com Deus (2Co 8:24); deve ser voluntária (2Co 9.7); sacrificial (2Co 8.3);
- Semeamos a fé, tempo, serviço, e, assim colhemos mais fé e outras bençãos (2Co 8.5; 9.6,10-12).
2.
A solidariedade cristã tem como base o princípio da mutualidade.
Significa
qualidade ou estado do que é mútuo, reciprocidade, permutação, troca. É uma
forma de participação mútua com a finalidade de cooperação dos crentes entre
si. O Apóstolo Paulo escrevendo aos romanos ensina: “[...]; o que
reparte, faça-o com liberalidade; o que preside, com cuidado; o que exercita
misericórdia, com alegria” (Rm 12.8). O repartir é a disposição,
capacidade e poder, dados por Deus a quem tem recursos além das necessidades
básicas da vida, para contribuir livremente com seus bens pessoais, para suprir
necessidades da obra ou do povo de Deus (2Co 8.1-8; Ef 4.28) (Stamps 1995, p.
1722). Isso demonstra que a igreja é um corpo formado por muitos membros que
cooperam uns com os outros (1Co 12.20,26).
3.
A solidariedade cristã tem como base o princípio a responsabilidade.
Qualidade
ou condição de responsável. É a forma de contribuir responsavelmente
para o desenvolvimento do Reino de Deus (At 6.1-6). O livro de Atos dos
apóstolos relata o episódio no qual as viúvas eram desprezadas no ministério
cotidiano (At 6.1). Os apóstolos diante desse problema resolveram instituir
diáconos para assistir aos irmãos em suas necessidades. Isso revela o princípio
da responsabilidade da igreja em Jerusalém em atender a todos; essa atitude
enquadra-se na fala do apóstolo dos gentios: “...enquanto temos tempo,
façamos o bem a todos, mas principalmente aos domésticos da fé” (Gl 6.10). Todos
os cristãos que foram alcançados por Deus devem ter essa mesma atitude
responsável de socorrer os domésticos da fé.
4.
A solidariedade cristã tem como base o princípio da proporcionalidade.
Qualidade
ou propriedade de proporcional. Princípio que leva o indivíduo a cooperar em
proporções, na medida do possível e com liberalidade em ajudar ao próximo (At
2.44-45; 4.34-37). O livro de Atos destaca esse princípio: “Vendiam suas
propriedades e fazendas e repartiam com todos, segundo cada um tinha
necessidade” (At 2.44). O apóstolo Paulo lembra aos coríntios esse
mesmo princípio: “No primeiro dia da semana cada um de vós ponha de parte
o que puder ajuntar, conforme a sua prosperidade, para que não se façam as
coletas quando eu chegar” (1Co 16.2). Diante disso o princípio da
proporcionalidade presa pela equidade e o equilíbrio na prática de ajuda aos
irmãos.
5.
Solidariedade é um ato de amor (Mt 25.40).
Amor
que doa de seu tempo, de seus recursos, de suas energias a fim de amenizar a
dor alheia (Lc 10.25-37). Uma simples visita ao enfermo; um cobertor para
cobrir o desabrigado; uma sopa quente faz aquecer a alma e acende a esperança
de uma nova realidade (At 9.39). Solidariedade é um ato de empatia. Colocar-se
no lugar de outrem; sentir a dor do outro como se fosse a sua própria dor (Mt
9.36). Neste tempo em que os homens buscam apenas aquilo que os interessam,
preocupar-se com a necessidade de alguém é uma das mais extraordinárias
demonstrações do espírito que move o cristianismo (Gl 2.10 ver Dt 15.4; Mt
19.21; Rm 15.26). Fé e caridade, duas grandes virtudes cristãs (1Co 13.13). A
primeira relaciona-se ao nosso compromisso com Deus, a segunda, com o próximo
(Lv 19.18; Mt 5.43; 19.19; 22.39; Rm 13.9).
CONCLUSÃO
Diante de tudo o que
foi exposto, compreende-se que a solidariedade cristã é um chamado à ação
concreta, fundamentada nos princípios bíblicos de mutualidade, responsabilidade
e proporcionalidade. Ser solidário vai além de simples gestos ocasionais; é adotar
uma postura de vida inspirada pelo amor e compaixão, refletindo o caráter de
Cristo nas relações cotidianas.
REFERÊNCIAS
Ø BENTHO, Esdras Costa. Estabelecendo relacionamentos
saudáveis: Vivendo e aprendendo a viver. CPAD.
Ø GONÇALVES, José. A Igreja em
Jerusalém: Doutrina, Comunhão e Fé. CPAD.
Ø KRUSE, Colin. II Coríntios, Introdução e Comentário.
VIDA NOVA.
Ø STAMPS, Donald. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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