Gn1.26-28;
2.7,18,21-23
INTRODUÇÃO
Nesta
lição estudaremos a respeito da natureza do ser humano. Veremos que o homem é
constituído de corpo, alma e espírito (1Ts 5.23). Analisaremos a natureza moral
concedida ao homem no momento de sua criação, pois fomos feitos à imagem e
semelhança de Deus. Destacaremos que essa natureza moral implica
responsabilidades diante do Senhor e dos homens, e que, mesmo após a queda no
Jardim do Éden, é possível ao ser humano responder positivamente a Deus por
meio de Cristo e ter sua natureza moral restaurada em santidade.
I. A NATUREZA DO HOMEM
Segundo
Gênesis 2.7, o homem é formado por duas substâncias: a material, o corpo, e a
imaterial. Entretanto, de acordo com 1 Tessalonicenses 5.23 e Hebreus 4.12, o
ser humano compõe-se de três substâncias: espírito, alma e corpo (Permaln,
2009, p. 106). Essa concepção é chamada de tricotomia, pois ensina que a
constituição da natureza humana é tríplice. Em 1 Coríntios 2.14-16 e 3.1-4, o
apóstolo Paulo descreve o homem “natural” — termo que
literalmente significa “pertencente à alma” —, o homem “carnal” e
o homem “espiritual”. Nessas passagens, a natureza humana é
apresentada como formada de uma parte externa, o corpo ou a
carne, chamado “homem exterior”, e de uma parte interna,
o “homem interior”, composta de espírito e alma (Silva, 2017, p.
78). A Bíblia apresenta a doutrina da tricotomia também na pessoa de Jesus, que
é mostrado possuindo: a) corpo (Lc 24.39; Jo 1.14; 20.24-28; 1Co
15.3-8; Cl 2.9; 1Jo 1.1); b) alma (Mt 26.38; Mc 14.34); e c) espírito
(Mt 27.50; Lc 23.46; Jo 19.30). Dessa forma, a tricotomia é a visão que mais se
harmoniza com as Escrituras Sagradas.
II. A NATUREZA TRICOTÔMICA DO SER
HUMANO
1.
O corpo.
No
hebraico, a palavra para corpo é “basar”, e no grego, “soma”.
O corpo é a parte tangível, visível e temporal do homem (Lv 4.11; 1Rs 21.27; Sl
38.4; Pv 4.22; Sl 119.120; Gn 2.24; 1Co 15.47-49; 2Co 4.7). É a porção que se
separa na morte física. A Bíblia relata a criação do corpo humano (Gn 1.26-28;
2.18-25), cuja estrutura revela uma complexidade que a teoria da evolução não
consegue explicar (Renovato, 2019, p. 22). O corpo é o invólucro do espírito e
da alma (Gn 35.18; Dn 7.15), o “homem exterior”, que se corrompe, envelhece e é
mortal. O ser humano, como criatura perecível, é descrito assim: “porque toda a
carne é como a erva” (1Pe 1.24). Rejeitamos, portanto, a ideia de que o corpo
seja a prisão da alma e do espírito ou que seja inerentemente mau e insignificante,
pois ele é templo do Espírito Santo e templo de Deus, uma vez que o Espírito
habita em nós (1Co 3.16,17; 6.19). O corpo é de grande valor, pois Deus o
ressuscitará: “Assim também a ressurreição dos mortos. Semeia-se o corpo em
corrupção, ressuscitará em incorrupção” (1Co 15.42) (Silva, 2017, p. 78).
2.
A alma.
A
palavra hebraica para alma é “néfesh”, que ocorre 754 vezes no
Antigo Testamento. Conforme Gênesis 2.7, seu significado primário é “possuidora
da vida”. Biblicamente, a alma é: sede do apetite físico (Nm 21.5), das
emoções (Sl 86.4), dos desejos bons ou maus (Ec 6.2; Pv 21.10), das paixões (Jó
30.25), do intelecto (Sl 139.4), do afeto (Ct 1.7), da vontade (Jó 7.15) e da
moralidade (Gn 49.6) (Silva, 2017, p. 80). “Alma” é um termo polissêmico — uma
mesma palavra com vários significados dependendo do contexto. Pode referir-se: a)
a animais (Gn 1.20,24,30; 9.12,15,16; Ez 47.9); b) ao sangue,
essencial à existência física (Gn 9.4; Lv 17.10-14; Dt 12.22-24); c) ao
apetite físico (Nm 21.5; Dt 12.15,20,21; 23.24; Jó 33.20; Sl 78.18; 107.18; Ec
2.24; Mq 7.1); d) às emoções (Jó 30.25; Sl 86.4; 107.26; Ct 1.7; Is
1.14); e) à vontade e à ação moral (Gn 49.6; Dt 4.29; Jó 7.15; Sl 24.4;
25.1; 119.129,167); f) a um indivíduo ou pessoa (Lv 7.21; 17.12; Ez
18.4); ou pode ser usada com sufixo pronominal para denotar o próprio “eu” (Jz
16.16; Sl 120.6; Ez 4.14) (Douglas, 2007, p. 39). No Novo Testamento, o termo
equivalente é “psiqué”, com o mesmo significado (Ef 6.6; Fp 1.27;
Cl 3.23; Rm 11.3; 16.4; 1Co 15.45; 2Co 1.23; Fp 2.30; 1Ts 2.8). A alma é a
parte imaterial do ser humano, tanto cognitiva quanto emotiva, podendo
relacionar-se com o sagrado (Rm 7.25) ou com as impurezas do pecado (Rm 8.7 –
ARA) (Brunelli, 2016, p. 52).
3.
O espírito humano.
No
Antigo Testamento, a palavra hebraica “ruah”, derivada de um
verbo que significa “respirar” ou “soprar”, é usada
cerca de 400 vezes. Pode ser traduzida como “sopro” (Sl 18.15), “vento” (Gn
8.1) ou “espírito”. No Novo Testamento, o termo grego “pneuma”,
ligado ao verbo “soprar” ou “respirar”, pode significar “sopro” (2Ts 2.8) ou
“vento” (Jo 3.8), mas mais frequentemente refere-se a “espírito”, seja de Deus,
do homem ou de outros seres espirituais (Tenney, 2008, p. 534). A Bíblia ensina
que o espírito humano: a) pode ser despertado (Ed 1.1,5) ou perturbado
(Gn 41.8); b) alegra-se (Lc 1.47) ou é quebrantado (Êx 6.9); c) prontifica-se
(Mt 26.41) ou se endurece (Dt 2.30); d) pode ser paciente (Ec 7.8),
soberbo ou humilde (Mt 5.3); e) necessita de autodomínio (Pv 25.28); f)
é por meio dele que se adora ao Senhor (Jo 4.23,24), sendo o centro da
devoção a Deus (1Co 14.15).
III. A NATUREZA MORAL DO SER HUMANO
O
homem foi criado à imagem e semelhança de Deus (Gn 1.26,27), o que demonstra
que sua essência é moral. Essa natureza moral e espiritual, mesmo de modo
imperfeito, reflete o caráter de um Criador santo e perfeito (Rm 2.11-15).
1.
A consciência humana evidencia a natureza moral.
Certo
teólogo definiu a consciência como a “faculdade humana que torna o homem
instintivamente cônscio das regras universais e obrigatórias de conduta”
(Champlin apud Jerônimo, 2004, p. 870). Essa consciência fundamental do
bem e do mal, concedida na criação, quando Deus fez o homem à Sua imagem e
semelhança (Gn 1.26; Rm 2.14,15), torna o ser humano um ente moral, responsável
por seus atos diante de Deus e dos homens (Rm 2.1).
2.
A natureza moral diferencia o homem dos animais.
Os
animais foram criados por ordem divina, conforme sua espécie, mas o homem é uma
criação especial: coroado de honra e glória e constituído sobre as obras de
Deus (Hb 2.7). Esse fato já o distingue dos animais; contudo, o aspecto moral,
que o torna responsável por seus atos, é algo único. Questões morais pertencem
apenas aos homens. Por isso, um dia todos serão julgados perante o Senhor (Ec
12.14; 1Co 4.5; 2Co 5.10).
3.
A natureza moral foi corrompida pelo pecado.
Quando
o homem pecou, sua natureza moral santa — pois “Deus fez o homem reto” (Ec
7.29) — foi corrompida, e ele passou a ser pecador, afastado de Deus (Rm 3.23;
5.12-19). Sua mente tornou-se entenebrecida (Ef 2.2,3; 4.18), e sua moral,
corrompida. Entretanto, essa condição não o isenta de responsabilidades diante
de Deus, pois, mesmo alienados, os homens não estão destituídos da consciência
moral: “Porque, quando os gentios, que não têm lei, fazem naturalmente as
coisas que são da lei, não tendo eles lei, para si mesmos são lei; os quais
mostram a obra da lei escrita em seus corações, testificando juntamente a sua
consciência, e os seus pensamentos, quer acusando-os, quer defendendo-os” (Rm
2.14,15). Por essa razão, a Palavra de Deus declara que o homem pode tanto
aceitar quanto rejeitar a Deus conscientemente (Mc 16.15,16; Jo 3.16-18; Rm
10.11-14). É a responsabilidade moral que permite essa decisão.
IV. A RESTAURAÇÃO DA NATUREZA MORAL
1.
A restauração da natureza moral é possível a todos os homens.
Assim
como o pecado alcançou a todos (Rm 5.12), a graça de Deus também se estende a
todos: “Pois, assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os
homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça
sobre todos os homens para justificação de vida” (Rm 5.18). A graça
salvífica não é apresentada nas Escrituras como algo limitado, mas oferecida a
todos “[...] para exercer misericórdia para com todos” (Rm 11.32; cf. Is 45.22;
Mt 11.28; Tt 2.11; Jo 1.7,9; 1Jo 2.2), inclusive aos que a rejeitam: “Veio para
o que era seu, mas os seus não o receberam” (Jo 1.11). A restauração da
natureza moral é possível a todos os homens unicamente por meio de Cristo
Jesus.
2.
A restauração devolve-nos a filiação divina.
Após
a queda, todos, por natureza, são “filhos da ira” (Ef 2.3), sob a
influência do mundo e escravos dos desejos da carne (Ef 2.2), tendo como pai o
diabo (Jo 8.40,41,44). No entanto, quando cremos no Evangelho e confessamos
Cristo como Senhor, somos selados com o Espírito Santo (Ef 1.13,14) e
introduzidos na família de Deus (Ef 2.19), que testifica com o nosso espírito
que somos filhos de Deus e co-herdeiros com Cristo (Rm 8.14-17; 1Pe 1.3,23; 2Pe 1.4; 1Jo 3.9; 5.18).
3.
A restauração em Cristo nos concede uma nova natureza moral.
Quando
o homem aceita Jesus e recebe a salvação, passa a ter “a mente de Cristo”
(1Co 2.16). Seus padrões morais tornam-se pautados pela Palavra de
Deus. As definições de certo e errado ajustam-se ao padrão de santidade divina
(1Co 1.2; 6.11; Hb 10.10; 12.14; 1Pe 1.15,16; Ap 22.11). Sua mente é renovada
no Senhor (Rm 12.2), busca as coisas do alto (Cl 3.1) e é guiado pelo Espírito
Santo (Jo 14.26). Assim, a natureza moral do cristão baseia-se na santidade ao
Senhor, em contraste com o mundo do pecado (Ef 4.17).
CONCLUSÃO
A
natureza do ser humano é, essencialmente, uma natureza moral, pois fomos
criados à imagem e semelhança de Deus. Com o pecado de Adão, essa natureza foi
corrompida; contudo, em Cristo, ela pode ser restaurada em santidade,
permitindo ao pecador viver novamente conforme o propósito divino.
REFERÊNCIAS
Ø CHAMPLIN, R. N. Dicionário de
Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø DOUGLAS, J. D. O Novo Dicionário
da Bíblia - Edição Revisada -
Ø PEARLMAN, M. Conhecendo as
doutrinas da Bíblia. VIDA.
Ø QUEIROZ, Silas. Corpo, Alma e
Espírito. CPAD.
Ø RENOVATO, Elinaldo. Tempo, Bens
e Talentos. CPAD.
Ø SILVA, E. S. da. Declaração de
Fé das Assembleias de Deus. CPAD.
Ø TENNEY, Merril C. Enciclopédia
da Bíblia. Vol.2 CULTURA CRISTÃ.
Por
Rede Brasil de Comunicação.