At
15.22-32
INTRODUÇÃO
Nesta
lição, estudaremos um dos momentos mais importantes da história da Igreja
Primitiva: o Concílio de Jerusalém. Esse encontro representou um marco na
definição da identidade cristã, pois tratou de uma questão crucial: a inclusão
dos gentios no povo de Deus sem a necessidade de se submeterem às práticas da
lei mosaica. Primeiramente, veremos o contexto histórico que levou à convocação
do Concílio, destacando o crescimento da Igreja entre os gentios e as tensões
surgidas com os cristãos judaizantes. Em seguida, analisaremos a estrutura da
reunião, observando o papel de figuras como Pedro, Paulo, Barnabé e Tiago, e a
maneira como o Espírito Santo guiou a decisão dos apóstolos e presbíteros.
Depois, abordaremos as resoluções e consequências deliberadas pelo Concílio,
que trouxeram clareza à doutrina da salvação pela graça, sem a imposição das
obras da lei. Por fim, refletiremos sobre os efeitos desse Concílio na vida da
Igreja Primitiva, mostrando como sua decisão fortaleceu a unidade dos crentes,
impulsionou a obra missionária e serviu de modelo para posteriores decisões
conciliares.
I. O CONTEXTO DO CONCÍLIO
1.
O concílio de Jerusalém.
Há
alguns anos os gentios já vinham sendo recebidos na fé em Cristo por meio do
batismo. Um exemplo claro ocorreu em Cesareia, quando o centurião Cornélio,
temente a Deus, ouviu o evangelho, creu e foi batizado com o Espírito Santo e
em águas (At 10.44-48). Alguns irmãos “da circuncisão” (At 11.2)
questionaram Pedro, mas após sua explicação reconheceram a inclusão dos gentios
no plano da salvação (At 11.4-18). Em seguida, houve um grande movimento em
Antioquia da Síria, promovido por discípulos dispersos após a morte de Estêvão.
Alguns pregavam apenas aos judeus (At 11.19), mas outros anunciaram também aos
gentios, e muitos se converteram pela ação do Senhor (At 11.20-21). A igreja em
Jerusalém enviou Barnabé, que, ao constatar a obra de Deus, os exortou a
permanecer firmes na fé (At 11.22-23). Logo buscou Saulo em Tarso, e juntos
ensinaram em Antioquia por um ano, fortalecendo a igreja, que ainda enviou
ajuda aos irmãos da Judeia (At 11.29). No capítulo 13 inicia-se a primeira
viagem missionária de Paulo e Barnabé. Eles pregavam inicialmente nas
sinagogas, mas, diante da rejeição dos judeus (At 13.41), voltaram-se
prioritariamente aos gentios, que recebiam com alegria a mensagem de Cristo (At
13.42-43). A partir de então, o evangelho foi anunciado tanto a judeus quanto a
gentios.
II. O CONCÍLIO E SUA ESTRUTURA
A
Bíblia nos diz que “alguns que tinham descido da Judeia ensinavam assim
os irmãos: Se vos não circuncidardes, conforme o uso de Moisés, não podeis
salvar-vos” (At 15.1). Estes indivíduos, que posteriormente ficaram
conhecidos como “judaizantes”, certamente são os mesmos mencionados por Paulo
em Gl 2.12-14. A dificuldade de entender a inclusão dos gentios no seio do povo
de Deus e no plano da salvação era comum, mesmo entre os judeus desprovidos de
preconceito. Os olhos deles, acerca da universalidade da salvação, foram
abertos quando presenciaram o derramar do Espírito Santo também sobre os não
judeus (At 10.34,35,45-48). Os judaizantes, porém, estabeleciam como
pré-requisito para a salvação a prática da circuncisão e demais ordenanças
mosaicas entre os gentios conversos. Diziam eles ser “necessário
circuncidá-los e mandar-lhes que guardassem a lei de Moisés” (At 15.5).
Eles persuadiram Barnabé e o próprio Pedro (que já haviam aceitado os gentios),
o que gerou acirrada discussão entre Paulo e ambos. Resolveu-se, então, levar o
caso aos apóstolos e anciãos que estavam em Jerusalém. É bom frisar que o
Apóstolo dos Gentios conseguiu convencer tanto Pedro quanto Barnabé antes mesmo
do concílio. Prova disso foi o posicionamento dos dois naquela reunião.
1.
O Concílio.
Realizou-se
em Jerusalém, na Igreja Mãe. Havia um reconhecimento da primazia dela, pois
quando não houve consenso, foi para lá que se encaminhou o caso (At 15.2).
Vemos ainda o claríssimo reconhecimento da hierarquia ministerial, pois a
questão seria levada aos “apóstolos e anciãos (ou presbíteros)”, e
não o contrário. E mesmo entre os apóstolos, três se destacaram, a saber:
Pedro, Paulo e Tiago, sendo que este último teve a palavra final.
2.
A palavra de Pedro.
O apóstolo deu importante contribuição,
lembrando aos presentes que, há muito, ele havia sido escolhido para também
anunciar a salvação aos gentios (At 15.7). Decerto se referia ao episódio
ocorrido na casa de Cornélio, cerca de dez anos antes. Pedro defendeu o
nivelamento entre judeus e gentios, bem como a salvação pela fé e não pelas
obras da lei: “e não fez diferença alguma entre eles e nós, purificando o
coração pela fé” (At 15.9). Ele também denunciou a incoerência dos judaizantes,
que, sendo judeus, viviam como gentios, e queriam que os gentios vivessem como
judeus (At 15.10). Depois disso, ele concluiu sua participação (At 15.12).
3.
A palavra de Paulo e Barnabé.
Eles
relataram os grandes sinais e prodígios efetuados por Deus entre os gentios (At
15.12). Estavam se referindo aos detalhes da primeira viagem missionária,
narrada por Lucas nos capítulo 13 e 14. Sem dúvida, tais relatos consolidaram
ainda mais no coração da multidão presente a verdade inegável: “Deus não
faz acepção de pessoas” (At 15.9 cf. Rm 2.11).
4.
A palavra de Tiago.
Ele
teve a palavra final. Interessante que ele resgata parte do discurso de Pedro,
chamando-o pelo seu nome hebraico Simão, pois ele estava se dirigindo a judeus.
Pelo mesmo fato ele fundamentou a incorporação dos gentios no povo de Deus,
fazendo uso do Antigo Testamento (At 15.15-18 cf. Am 9.11,12). Tiago, assim,
correlacionou e equiparou a Autoridade Profética à Autoridade Apostólica. A sua
presidência no concílio está clara na afirmação “Pelo que julgo...” (At
15.19).
III. AS RESOLUÇÕES E CONSEQUÊNCIAS DO
CONCÍLIO
O
Apóstolo Tiago deixou bem claro que não se deveria perturbar os gentios que se
converteram a Deus (At 15.19). Foram três as conclusões a que se chegaram no
concílio, e nenhuma delas dizia respeito à prática da circuncisão, que era um
sinal da aliança entre Deus e a nação de Israel. A recomendação conciliar
visava não só corrigir um falso entendimento dos judaizantes com relação a
salvação, mas reforçar que havia algumas questões na lei que não foram
abolidas, pois a graça não anula a lei (Rm 3.30,31), mas a reafirma. Embora,
três das quatro exigências se configurassem como leis cerimoniais, entretanto,
o Concílio parece dar outro tratamento a esta questão.
1.
Abstenção da contaminação dos ídolos.
Diz
respeito tanto à prática da idolatria quanto ao envolvimento em festas e
comidas consagradas aos ídolos, algo que sempre foi repudiado pelo Senhor (1Co
10.21).
2.
Abstenção da prostituição.
O
termo “porneia” aponta para toda e qualquer forma de impureza e
perversão sexual, o que representa um pecado grave contra Deus e contra o
próprio corpo (1Co 6.18; Gl 5.19).
3.
Abstenção do que é sufocado e do sangue.
O
Apóstolo Tiago nesse texto lembra as quatro reivindicações: a abstinência de
sacrifícios aos ídolos (Lv 17.7-9), a “imoralidade” (Lv 18), e a “carne
asfixiada e de sangue” (Lv 17.10-12; 13-15), que vigoram de maneira expressa
não apenas para Israel, ma também para o “estrangeiro que peregrina entre
vós” (Lv 17.8; 18.26). Embora o presente texto para alguns
comentaristas seja objeto de polêmica, entretanto, ressaltamos que está claro o
nível de igualdade dados as exigências reconhecidas no Concílio, que coloca
“imoralidade”, que é uma abstenção básica para a santidade do povo de Deus, em
patamar de igualdade com “sacrifícios aos ídolos, carne asfixiada e de sangue”.
Não restam dúvidas que as exigências deveriam ser seguidas por todos os
gentios, não apenas como o respeito a consciência judaica, fato que relegaria
“Imoralidade” a leis cerimoniais, mas como mandamento. Havendo sido definido
entre os apóstolos e presbíteros a matéria conciliar, elaborou-se uma carta,
que foi enviada aos gentios através de Paulo, Barnabé, e dois outros varões
eleitos para tal fim, a saber: Judas, chamado Barsabás, e Silas, varões
distintos entre os irmãos. Está escrito em At 15.23: “E por intermédio
deles escreveram o seguinte: Os apóstolos, e os anciãos, aos irmãos dentre os
gentios que estão em Antioquia, Síria e Cilícia, saúde”. Nela, os
apóstolos deixaram claro que os judaizantes falaram sem autorização (At 15.24).
O conteúdo daquela encomenda aliviava o jugo desnecessário de sobre os gentios
(At 15.28,29).
IV. OS EFEITOS DO CONCÍLIO NA IGREJA
PRIMITIVA
O
Concílio de Jerusalém resolveu a questão da circuncisão e estabeleceu
princípios fundamentais para a expansão do evangelho e a unidade da Igreja. Sua
decisão abriu o caminho para a inclusão plena dos gentios, revelando o mistério
outrora oculto: a Igreja, composta por todas as nações, niveladas pela cruz (Ef
3.3-6). As resoluções mostraram que a salvação é pela graça mediante a fé em
Cristo (Ef 2.8-9), preservaram a comunhão, impulsionaram a obra missionária e
serviram de modelo para futuros concílios. Assim, o evangelho avançou sem
barreiras culturais, cumprindo o propósito divino. Cristo, plenitude dos tempos
(Gl 4.4; Hb 10.1), é a pedra angular sobre a qual todos somos edificados (Ef
2.19-20). Notemos:
1.
Consolidação da unidade da Igreja.
A
decisão demonstrou que judeus e gentios pertenciam a um só corpo em Cristo (Ef
2.14-16). O concílio preservou a comunhão fraterna, evitando divisões internas
que poderiam comprometer o crescimento da obra.
2.
Clareza na doutrina da salvação.
Ficou
firmado que a salvação é pela graça, mediante a fé, sem necessidade de obras da
lei (At 15.11; Ef 2.8-9). Isso fortaleceu a mensagem central do evangelho,
distinguindo o cristianismo do judaísmo legalista.
3.
Impulso à obra missionária.
Ao
libertar os gentios do peso da lei mosaica, o concílio abriu caminho para uma
expansão mais rápida do evangelho no mundo greco-romano (At 16.4-5). O
cristianismo pôde se desenvolver sem barreiras culturais desnecessárias.
4.
Referência para futuros concílios.
O
Concílio de Jerusalém serviu de modelo para os posteriores encontros da Igreja,
mostrando que decisões doutrinárias devem ser tomadas à luz da Escritura e da
direção do Espírito Santo (At 15.28).
CONCLUSÃO
A
ordem do Mestre era de se pregar o evangelho até aos confins da terra (At 1.8).
Depois de séculos de relativo exclusivismo, os judeus, agora, viam o mistério
oculto desde os séculos sendo-lhes revelado, a saber: a Igreja, composta por
todas as raças, tribos e nações. Todos estavam nivelados pela cruz do Calvário.
As imposições das obras da lei não faziam mais sentido, uma vez que a plenitude
dos tempos e a real imagem das coisas já havia chegado, Cristo Jesus (Gl 4.4;
Hb 10.1).
REFERÊNCIAS
Ø GILBERTO,
Antonio. A Prática do Evangelismo Pessoal. CPAD.
Ø BÍCEGO,
Valdir. Manual de Evangelismo. CPAD.
Ø BOYER,
Orlando. Esforça-te para Ganhar Almas. Vida.
Ø GONÇALVES,
José. A Igreja em Jerusalém: Doutrina, Comunhão e Fé. CPAD.
Ø HORTON,
Stanley. Teologia Sistemática. CPAD.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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