Ef 2.11-17
INTRODUÇÃO
Nesta lição definiremos teologicamente a palavra
paz; pontuaremos as três dimensões da paz; estudaremos como viver a verdadeira
paz com Deus, com o próximo e consigo; e por fim, conceituaremos a palavra
inimizade e mostraremos como a inimizade pode ser vencida na Bíblia.
I. A
INIMIZADE NA BÍBLIA
1.1 Definição de inimizade.
Inimizade significa: “aversão, antipatia, desafeição, ser contrário, sentimento de não gostar
de alguém”. No grego, a palavra inimizade é “echthra” e esse vocábulo
serve para identificar três tipos de inimizade. a) inimizade para com Deus (Rm 8.7; Tg 4.4); b) inimizade entre as pessoas (Mt 5.21-26; Lc 23.12); e c) hostilidade entre grupos (Rm 1.14;
Ef 2.14-16). A inimizade, em geral é resultado da soberba, por isso, o Senhor
abomina o coração altivo (Pv 6.16,17). As inimizades são produto da carne, de
uma natureza pecaminosa (1 Co 1.10-13). Em Gálatas, Paulo apresenta a
inimizade, as contendas e as disputas como obras da carne (Gl 5.20). A palavra inimigo vem do latim “inimicu”, onde
“in” significa “não” e “amicus” quer dizer amigo, logo, inimigo quer dizer: “não amigo, alguém adverso, contrário e
hostil” (GOMES, 2016, p. 65 – acréscimo nosso).
1.2 A inimizade é muito mais que falta de amizade.
É ódio, aversão, malquerença e rancor profundo,
como também uma paixão que impele uma pessoa a causar ou desejar mal a alguém.
Como obra da carne que é, “echthra” é o antônimo exato de “ágape”, que é um
aspecto do fruto do Espírito (Lc 6.27, 35; Rm 12.14; Gl 5.22). Enquanto o amor
predispõe a mente e o coração de uma pessoa para exercer abnegadamente a
benignidade e a bondade em favor do próximo (1 Co 13.1-7), a inimizade é uma
atitude mental hostil que provoca e afronta outras pessoas, desejando e fazendo
de tudo para prejudicá-las.
1.3 O pecado de inimizade é grave e típicos de uma
vida não regenerada (Rm 8.1-2,5-6,8; Gl 5.16-26; Cl 3.1-11).
Esses pecados implicam na perda da comunhão com
Deus e com o próximo (Mt 5.21-26; Gl 5.19-21; 1Jo 2.9-11; 3.14-16; Ap 21.8;
22.15). A solução para evitarmos a inimizade é produzirmos o fruto do Espírito
(Gl 5.22-26) e seguirmos a seguinte recomendação bíblica: “Portanto, como povo
escolhido de Deus, santo e amado, revistam-se de profunda compaixão, bondade,
humildade, mansidão e paciência. Suportem-se uns aos outros e perdoem as
queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou”
(Cl 3.12-13 – Nova Versão Internacional – NVI). O apóstolo ainda diz: “Se
o teu inimigo tiver fome, alimenta-o; se ele tiver sede, dá-lhe algo para
beber... Não te deixes vencer pelo mal, porém, persiste em vencer o mal com o
bem” (Rm 12.20, 21).
1.4 A inimizade é exatamente o oposto do amor (1 Jo
2.9, 4.8, 5.1).
Os cristãos têm que amar seus inimigos, e não podem
imitar o ódio do mundo (Mt 5.46-48). A inimizade já causou incalculável número
de tragédias no mundo e em diversos lugares é possível observar conflitos e
mais conflitos. Os cristãos, conforme Atos dos apóstolos, deixaram os exemplos
de um estilo de vida caracterizado pela união, amizade e solidariedade (At 2.
44,45; 4. 32). Jesus declarou: “Todo reino dividido contra si mesmo ficará
deserto, e toda cidade ou casa dividida contra si mesma não subsistirá”
(Mt 12.25) (GOMES, 2016, p. 65).
1.5 As inimizades quebram a unidade da igreja (Ef
4.1-6).
As inimizades causam muitos outros problemas e
hostilidades de todas as formas, tais como as divisões, iras, etc. Ela destrói
relacionamentos e leva pessoas a fazerem coisas cruéis. Ela alimenta ódio,
brigas, vingança e muitos outros pecados contra outras pessoas. Jesus nos
ensina a perdoar e a viver em paz com outras pessoas. Ele nos ajuda a ver
nossos inimigos como pessoas que também precisam dele, pessoas que devemos amar
(Lc 6.27-35). O amor vence a inimizade e conserta relacionamentos (Mc 12.30,31;
Rm 12.19-21; Cl 1.23). O amor sempre vence: “Amai a vossos Inimigo… Bendizei o
que vos maldizem… Fazei bem aos que vos odeiam… Orai pelos que vos
maltratam…Para que sejais filhos do Pai que estás nos céus” (Mt 5.44,45). Aqui
está todo o escopo do ensino de Jesus sobre o amor cristão. Não é amar por
amar. Não é ingenuidade. É amor consequente, que tem um objetivo sublime a ser
alcançado.
II. DEFINIÇÃO
DA PALAVRA PAZ
2.1 Definição de paz.
Segundo o dicionário Aurélio, paz significa: “ausência de lutas, de guerras, de violências
ou pertubações sociais, tranquilidade pública, concórdia, harmonia”
(FERREIRA, 2004, p. 1514). O termo hebraico para paz é “shalom” que pode
significar: “unidade, descanso, feliz, tranquilo, quieto” (GRAHAM apud
GOMES, 2016, p. 60). O termo grego é “eirene” que nos dá a ideia de “harmonia,
acordo, descanso, quietude”. Espiritualmente falando, paz é uma
cultivação (fruto) do Espírito (Gl 5.22) que produz um estado de tranquilidade
e quietude interior que não depende de circunstâncias externas (Is 32.17-19; Sl
4.8). Paulo diz que Cristo é a fonte da nossa paz (Lc 16.33; Jo 14.27; Ef
2.14-18; Is 9.6) (ZUCK, 2008, p. 347).
III. AS
TRÊS DIMENSÕES DA PAZ
A paz concedida por Cristo é uma virtude que afasta
o pânico, anula a ansiedade, traz ao coração perturbado a serenidade e nos faz
descansar em meio ao sofrimento e às provações da vida (SI 23.4; Jo 14.27;
16.33; 20.19, 21,26). O mundo vive sem paz porque é habitado por pessoas que
vivem dominadas pela natureza pecaminosa (Tg 4.1). De acordo com as Escrituras,
a paz possui três dimensões. Notemos:
3.1 A paz com Deus.
“Tendo sido, pois, justificados pela fé,
temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm 5.1,2 ver
Cl 1.19,20). A paz com Deus só é possível mediante a justificação pela fé (Gl
2.16; Rm 1.17). Pois o pecador, em seu estado de pecado, encontra-se em
inimizade com Deus, visto que o pecado é uma violação da vontade de Deus (Tg
4.4). Porém, quando o mesmo se arrepende, aceitando a Jesus como seu único e
suficiente Salvador, automaticamente ele é reconciliado com Deus (Rm 5.1).
Somos chamados não só a ter paz com Deus por Jesus Cristo, mas também para
sermos pacificadores, reconciliando outras pessoas com Deus, de forma que elas
também possam obter a paz com Deus (Mt 5.9).
3.2 A paz de Deus.
“E a paz de Deus, para a qual também fostes
chamados em um corpo, domine em vossos corações...” (Cl 3.15). O apóstolo Paulo
ainda diz: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento...”. Esta é a
paz interior que Jesus nos deu pelo Espírito Santo (Jo 14.26,27; Rm 15.13). A
paz interior substitui a raiva, a ira, a culpa e a preocupação. Sem a “paz com
Deus” não pode haver a “paz de Deus”.
3.3 A paz com os homens.
“Se for possível, quanto estiver em vós,
tende paz com todos os homens” (Rm 12.18 ver Ef 4.1-3). Fomos
conclamados a seguir a paz e, na medida do possível, ter paz com todos os
homens (Sl 34.14; Mt 5.9; Rm 12.18; 1Co 7.15; Hb 12.14; 1Pe 3.11). A paz, como
fruto do Espírito Santo é, primeiramente, ascendente, para Deus; depois,
interior, para nós mesmos; e, finalmente, exterior, para nosso semelhante (1 Pe
3.11). Sigamos o exemplo de Isaque que para evitar um conflito desnecessário
com Abimeleque, preferiu cavar outro poço (Gn 26.19-22); e de nosso maior
mestre, Jesus, que é o príncipe da paz (Is 9.6). Mesmo na noite em que foi
preso injustamente por opositores armados, Jesus mostrou amor por seus
inimigos. Nessa ocasião, Jesus estabeleceu um princípio importante que guia
seus verdadeiros seguidores até hoje. Pedro escreveu: “Cristo sofreu por vós,
deixando-vos um modelo para seguirdes de perto os seus passos... Quando sofria,
não ameaçava, mas encomendava-se a Deus” (1Pd 2.21,23).
IV. COMO
VIVER A VERDADEIRA PAZ
As principais atividades do Espírito Santo ao
desenvolver o fruto espiritual estão entrelaçadas com a paz (Ap 1.4; 2Co 13.11;
Rm 8.6). A paz é uma alegria que sobrepuja a compreensão humana, pois independe
das circunstâncias (Tg 1.2; 1Ts 1.6; Sl 126.5). Ela procede do coração de Deus
para o coração do crente (Ne 8.10; Sl 51.12; Jo 15.11). Consiste num estado de
graça que proporciona comunhão com Deus, auto-aceitação e harmonia nas relações
pessoais. A paz proporcionada por Cristo nos dá condições de vivermos em paz
com Deus (vertical), com o próximo (horizontal) e de desfrutarmos da paz
interior (central). Vejamos cada uma delas:
4.1 Vertical: Vivendo a paz com Deus.
A paz que Jesus nos oferece é diferente da paz
ilusória que o mundo dá (Jo 14.27; 16.33). Essa paz cumpre o propósito mais
sublime do Senhor para o ser humano: restaurar a nossa paz com Deus (Rm 5.1).
Nosso Senhor Jesus é chamado o “Príncipe da Paz” (Is 9.6), a primeira mensagem
pregada depois que Ele nasceu foi de paz (Lc 2.14), quando enviou os primeiros
pregadores, ele os orientou a pregar a paz (Lc 10.5). Ele pregou a paz (Ef
2.14,17), e pela cruz fez-se mediador entre Deus e os homens, fazendo a paz (1 Tm
2.5).
4.2 Horizontal: Vivendo a paz com os outros.
Todos os que ‘seguem de perto os passos de Jesus’
refletem sua disposição amorosa e bondosa. “E ao servo do Senhor não convém
contender, mas sim ser brando para com todos, apto para ensinar, paciente,
corrigindo com mansidão os que registem...” (2Tm 2.24,25 ver Tt 3.2). Quando
estamos em Cristo, a paz com Deus é restaurada, e daí passamos a ter harmonia
uns com os outros na dimensão do amor de Deus que é derramado em nossos
corações (Rm 5.5). Essa paz supera qualquer obstáculo, não se enfraquece quando
não é correspondida e busca sempre suprir as deficiências humanas nos
relacionamentos (Mc 9.50; Rm 12.9-21; 1 Ts 5.12,13). O crente que já recebeu a
paz de Deus, em seu coração precisa partilhar dessa paz com todos tornando-se
um embaixador da paz (Sl 133.1; Lc 6.27-35; 2 Co 5.20). Quem já experimentou a
justificação e a reconciliação com Deus torna-se um pacificador (Gn 26.19-25;
Mt 5.44,9; Rm 12.18) (BÍBLIA DE ESTUDO APLICAÇÃO PESSOAL, 2003, p. 822).
4.3 Central: Vivendo a paz com si mesmo.
A paz interior é o resultado da promessa de Deus em
nós (Jo 14.27). É válido pensar nesses termos porque todos os nossos atos
externos procedem do coração (Pv 4.23). A paz interior, provinda de Deus que
excede a todo entendimento (CI 3.15), é o remédio contra toda a amargura, todo
o ressentimento e qualquer outra obra que o Inimigo tente para nos desviar do
propósito de Deus. Lembremo-nos de que essa paz que o Senhor nos dá é a fonte
de nossa alegria e o antídoto contra toda e qualquer ansiedade, medo,
depressão, etc (Fp 4.4-6). É pela paz e unidade em Cristo que o crente obtém a
santidade e se conserva para a vinda do Senhor (1 Ts 5.23; Hb 12.14). “O
fruto da justiça semeia-se na paz, para os que exercitam a paz” (Tg
3.18). A paz interior é para aqueles que confiam no Senhor: “Tu
conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti”
(Is 26.3).
CONCLUSÃO
O ódio é vingativo, retaliatório, produzindo rancor
e mágoa em relação às outras pessoas. Além de causar dano às outras pessoas, é
prejudicial para aquele que o nutre no coração. Torna o homem amargurado e o
corrói por dentro. Praticar essa obra da carne é possuir as qualidades que
produzem inimigos. Podemos ter inimigos, mas eles não podem surgir por causa da
nossa malfeitoria. Paulo disse: “Se possível, quanto depender de vós, tende
paz com todos os homens” (Rm 12.18).
REFERÊNCIAS
Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. CPAD.
GOMES, Osiel. As obras da carne e o fruto do
Espírito. CPAD.
STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal.
CPAD.
ZUCK, Roy B. Teologia do Novo Testamento. CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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