quarta-feira, 31 de outubro de 2018

LIÇÃO 04 - PERSEVERANDO NA FÉ (SUBSÍDIO)







Lc 18.1-8





INTRODUÇÃO
A presente lição comentará uma das mais conhecidas parábolas de Jesus: “a parábola do juiz iníquo”, que fala sobre a importância da perseverança na oração; trataremos desta parábola, destacando o seu propósito, personagens, narrativa e a devida aplicação para a nossa vida devocional.


I. ENTENDENDO A PARÁBOLA
A narrativa parabólica do capítulo 18 de Lucas, tem algumas coisas interessantes que merecem ser destacadas. Vejamos: a) consta somente no evangelho conforme Lucas (Lc 18.1-9); b) tem como epígrafe “o juiz iníquo” e não a “viúva perseverante” o que deveria ser, pois trata da perseverança desta; e, c) junto com a parábola do amigo persistente (Lc 11.5-8), pretendem “ensinar a respeito da oração”. Abaixo destacaremos algumas outras importantes informações sobre esta narrativa. Notemos:

1. O propósito da parábola (Lc 18.1).
Assim como toda parábola contada por Jesus tinha um propósito específico, esta do capítulo 18 de Lucas segue a mesma regra. O versículo primeiro mostra o que motivou Jesus a contar esta parábola: “E contou-lhes também uma parábola sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer” (Lc 18.1). Deus certamente responderá, mesmo que pareça, por algum tempo, que Ele não nos ouve quando pedimos.

2. Os personagens da parábola (Lc 18.2-5).
Dois personagens embora reais na cultura judaica são utilizados hipoteticamente nesta parábola. Vejamos cada um detalhadamente:

a) O juiz.
O primeiro personagem que aparece na parábola é “o juiz” (Lc 18.2). Estes eram os indivíduos que tomavam decisões sobre questões civis e religiosas, as palavras envolvidas falam sobre a tentativa de determinar causas (Êx 18.13) (CHAMPLIN, 2004, p. 636). Nos tempos de Moisés, conforme os registros bíblicos, eles assumiam uma grande responsabilidade na aplicação da lei (Êx 18.20; Dt 1.13,15; Dt 16.19). Deus determinou que em cada cidade deveria ter um juiz (Dt 16.18). Exigia-se deles que fossem leais no julgamento das causas do povo (Êx 18.21,22; Dt 1.16,17). No entanto, há registros bíblicos de corrupção nesta função. A exemplo disto temos os dois filhos de Samuel, que foram nomeados por ele como juízes, em Berseba, mas eles perverteram o ofício e aceitavam suborno (1 Sm 8.3). Por isso, quando na parábola Jesus diz que este juiz “nem a Deus temia, nem respeitava o homem” (Lc 18.2-b), podia estar fazendo alusão a corrupção que havia em sua época com esta classe de pessoas. Definitivamente de uma pessoa mau caráter como esta, não se podia esperar justiça nem compaixão.

b) A viúva.
O segundo personagem que aparece na parábola é “a viúva” (Lc 18.2). A viúva aparece aqui como símbolo daqueles que precisam ser defendidos contra a exploração alheia, alguém relativamente sem defesa, verdadeiramente dependente da bondade de terceiros para a sua sobrevivência. A viúva, assim como órfão, o pobre e o deficiente estavam entre a classe de pessoas das quais Deus concedia uma atenção especial (Êx 23.6; Lv 19.14; Dt 24.17; 27.18). Com frequência, a viúva era tratada pelo povo de Israel com deslealdade, por isso na lei de Moisés encontramos diversas recomendações quanto ao cuidado que se deveria ter com elas (Êx 22.22; Dt 24.19-21). Deus inclusive orientou que não se deveria perverter o direito da viúva (Dt 24.17), e o que não cumprisse isto seria passivo de maldição (Dt 27.19). Os profetas protestaram contra o povo de Israel quando desconsideravam o direito da viúva (Is 1.17; 1.23; Is 10.2; Jr 7.6; 22.3; Zc 7.10; Ml 3.5). Por isso, na parábola de Lucas 18.1-8, Jesus utilizou-se da figura da viúva que embora hipotética, era um fato comum que viúvas sofressem por injustiças. Alguém poderia ter tirado o pouco que ela possuía. Ou, talvez, a tivesse impedido de receber o que lhe correspondia, o que a levou a clamar ao juiz, pedindo: “Faze-me justiça contra o meu adversário” (Lc 18.3-b).

3. A narrativa da parábola (Lc 18.2-5).
Certa viúva que tinha uma causa para ser julgada, foi a um juiz da cidade e lhe pediu socorro. Este juiz que “nem a Deus temia, nem respeitava o homem” (Lc 18.2-b), recusou-se ajudá-la: “E por algum tempo não quis atendê-la” (Lc 18.4). No entanto, a mulher propôs-se a buscar o que desejava até conseguir, e o juiz não suportando a sua insistência a atendeu “[…] hei de fazer-lhe justiça, para que enfim não volte […]” (Lc 18.5). Duas virtudes desta viúva são destacadas por Jesus, que são extremamente necessárias para a vida daquele que ora. Vejamos:

a) A perseverança (Lc 18.5).
As palavras do juiz a respeito desta mulher mostram o quanto ela era perseverante: “como esta viúva me molesta, […] e me importune muito” (Lc 18.5). Estes dois verbos “molestar” e “importunar” mostram que “o juiz estava farto dela”. Essa mulher era persistente a tal ponto que, mesmo o magistrado não temendo a Deus e nem aos homens ia conceder-lhe o que queria, pois estava convencido de que ela nunca pararia de importuná-lo até que seu pedido fosse atendido. A arma dela foi a insistência.

b) A fé (Lc 18.8).
A mulher destaca-se nesta parábola não somente por sua perseverança, mas também por sua fé. Essa fé é evidenciada por meio da sua atitude resoluta de insistir em seu pedido ainda que a um homem sem temor, pois cria que mais cedo ou mais tarde, o juiz lhe atenderia. Uma das características da fé verdadeira é que ela não desiste em hipótese alguma. No encerramento desta parábola, Jesus fala profeticamente que os últimos dias que antecedem a Sua vinda, serão dias marcados pela incredulidade: “Quando porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?” (Lc 18.8b).

4. A aplicação da parábola (Lc 18.6-8).
O juiz desta parábola não atendeu a mulher porque sentiu compaixão por ela, senão porque foi vencido pelo cansaço (Lc 18.5). Diante disso, Jesus faz a seguinte ponderação: “Ouvi o que diz o injusto juiz. E Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele de dia e de noite, ainda que tardio para com eles?” (Lc 18.6,7). Ao contrário do juiz iníquo, Deus é apresentado nas Escrituras como o Juiz justo (Gn 18.25; Sl 7.11; 9.8; 19.9; 37.28; 50.6; 75.7; 94.2; 103.6); e, especificamente “Juiz das viúvas” (Sl 68.5). O salmista afirmou que o Senhor é o que “faz justiça aos oprimidos” (Sl 146.7); que por causa da opressão do pobre e do gemido do necessitado, Ele se levanta, para os pôr a salvo (Sl 12.5). Deus é aquele que galardoa aqueles que o buscam (Hb 11.6); Ele “trabalha para aquele que nEle espera” (Is 64.4); pois está atendo ao clamor dos seus filhos (Gn 30.6; Êx 3.7; Sl 12.5; 18.6; 66.19). No entanto, Deus age dentro de um tempo por Ele determinado (Gn 18.14; 21.2; 2 Rs 4.16,17; Gl 4.4; Hb 4.16).


II. A NECESSIDADE DA PERSEVERANÇA NA ORAÇÃO
Em relação à oração ela deve ser feita com perseverança, que é uma atitude que Deus requer do homem a fim de que obtenha resposta daquilo que se está buscando (Rm 12.12; Ef 6.18; Cl 4.2; 1 Ts 5.17). O verbo “perseverar” significa: “ser constante, permanecer, conservar-se” (HOUAISS, 2001, p. 2196). No grego, “hupomoné”, “perseverança”, “resistência”, “constância”. Esse vocábulo grego denota a resistência paciente, sob circunstâncias adversas, com base na ideia de alguém que leva aos ombros uma carga pesada, mas da qual não desiste (CHAMPLIN, 2004, p. 246). Acerca da perseverança na oração é bom destacar que:

1. Não devemos desfalecer.
Quando Jesus contou esta parábola tinha o intuito de ensinar “[…] sobre o dever de orar sempre, e nunca desfalecer” (Lc 18.1-b). A expressão “desfalecer” segundo o Houaiss (2001, p. 991) significa: “esmorecer, enfraquecer, fraquejar”. É verdade que às vezes por não recebermos a resposta imediata das nossas petições, somos tentados a esmorecer, tal como aconteceu com alguns personagens bíblicos (Sl 42.5-a; 69.3; Pv 13.12). No entanto, a fé verdadeira sobrepõe as emoções e confia no Senhor e na Sua providência cedo ou tarde (Sl 42.5-b; 73.26; 119.81,123). Champlin (2004, p. 173 – acréscimo nosso) pontua alguns motivos pelos quais Deus “tarda” em responder. Vejamos: 
a) O motivo dessa demora não é que Deus deixe de entender-nos, ou que relute em responder-nos. A demora não visa ao benefício de Deus, e, sim, o nosso;
b) A oração é, por si só, um ótimo edificador do caráter cristão, que nos ensina a buscar as coisas lá do alto;
c) Deus adia as respostas às nossas orações a fim de que nossos motivos e alvos sejam purificados;
d) Deus demora em responder-nos a fim de que o nosso desejo seja intensificado.

2. Não devemos ser imediatistas.
Nem sempre a nossa oração tem resposta imediata. A exemplo disto temos Davi (Sl 13.1-4; 69.3); Zacarias orava por um filho e só depois de muito tempo veio a resposta (Lc 1.13). Enquanto a oração autêntica não é respondida, ela fica em memória perante Deus (At 10.4). Perseveremos, pois, na oração. Muitos crentes param de orar por não receberem logo a resposta daquilo que pedem a Deus, falta-lhes perseverança (Rm 12.12). É preciso continuar diante do altar de Deus até receber a resposta (Lc 24.49). Abaixo destacaremos alguns exemplos de servos de Deus que buscaram com perseverança até conseguir resposta:

Ø  O exemplo de Isaque: “E Isaque orou insistentemente ao SENHOR por sua mulher, porquanto era estéril; e o SENHOR ouviu as suas orações, e Rebeca sua mulher concebeu” (Gn 25.21).
Ø  O exemplo de Ana: “E sucedeu que, perseverando ela em orar perante o SENHOR […]” (1 Sm 1.12);
Ø  O exemplo de Elias: “E disse ao seu servo: Sobe agora, e olha para o lado do mar. E subiu, e olhou, e disse: Não há nada. Então disse ele: Volta lá sete vezes” (1 Re 18.43).
Ø  O exemplo dos apóstolos: “Todos estes perseveravam unanimemente em oração e súplicas […]” (At 2.42-a). Veja ainda: (At 2.42; 6.4).

3. Não devemos impor nossos limites.
Há pessoas que agem precipitadamente, demarcando tempo para o seu período de oração, achando que “pressionando” Deus vão obter dEle a resposta mais rápido. Tal atitude revela uma tamanha imaturidade, pois Deus só responde quando quer e jamais será forçado ou coagido por alguém, pois “faz tudo o que lhe apraz” (Sl 115.3). É bom lembrar também que o fato de a Bíblia nos exortar a orar com perseverança até obter resposta, não significa dizer que está resposta será sempre um “sim” (Gn 17.20; Êx 33.17). Deus também responde com um “espere” (Jo 2.4); ou com um “não” (Dt 3.25,26; 2 Co 12.8-9), pois segundo a Sua vontade Ele nos ouve (1 Jo 5.14).


CONCLUSÃO
Vivemos em dias onde as pessoas não somente tem diminuído a prática da oração, como tem deixado de orar com perseverança. Esta parábola visa alertar-nos de que Deus está pronto a nos ouvir e responder no tempo certo.  




REFERÊNCIAS
Ø  CHAMPLIN, R. N. O Antigo Testamento Interpretado – Gênesis a Números. HAGNOS.
Ø  CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø  HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
Ø  STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD



Por Rede Brasil de Comunicação.


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