sexta-feira, 30 de agosto de 2019

LIÇÃO 09 - A MORDOMIA DO TRABALHO (SUBSÍDIO)





2 Ts 3.6-13 



INTRODUÇÃO
Nesta lição veremos a definição da palavra trabalho à luz do Antigo e Novo Testamento; também faremos algumas considerações bíblicas a respeito do assunto; e, por fim, elencaremos alguma atitudes corretas a seguir, no que diz respeito ao cristão e a mordomia do trabalho.


I. DEFINIÇÃO DA PALAVRA TRABALHO
De acordo com Houaiss (2001, p. 2743) trabalho significa: “esforço incomum; luta, lida, faina; conjunto de atividades produtivas ou criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim; atividade profissional regular, remunerada ou assalariada”. Nas Escrituras várias são as palavras usadas traduzidas como trabalho, entre estas destacamos uma das principais que é o substantivo hebraico: “maaseh” que significa: “trabalho, obra, ação, labor, labuta, comportamento”. Esse termo é usado cerca de 235 vezes no Antigo Testamento, aparecendo pela primeira vez na fala de Lameque, pai de Noé, com o sentido de trabalho agrícola (Gn 5.29). Sendo uma palavra geral para designar trabalho, “maaseh” é usada para se referir ao trabalho de um hábil: a) artífice (Êx 26.1); b) tecedor (Êx 26.26), c) joalheiro (Êx 28.11); e, d) perfumista (Êx 30.25). O termo equivalente no Novo Testamento é: “ergon” que denota: “trabalho, emprego, tarefa” (Mc 13.34; Jo 4.34; 17.4; At 13.2; Fp 2.30; 1Ts 5.13). De onde advém o termo: “ergatés” que denota: “operário de campo, agricultor” (Mt 9.37,38), “ceifeiros” (Mt 20.1,2,8; Lc 10.2; Tg 5.4), “trabalhador, operário”, em sentido geral (Mt 10.10; Lc 10.7; At 19.25; 1Tm 5.18) (VINE, 2002, pp. 312,1028,1029).


II. O TRABALHO À LUZ DAS ESCRITURAS
1. O trabalho veio antes da queda do homem.
Diferente do que algumas pessoas imaginam, o trabalho não é o julgamento de Deus por causa do pecado de Adão (Gn 3.17-19). Se examinarmos corretamente as Escrituras, veremos que Deus colocou o homem no jardim do Éden para o “lavrar e o guardar”, ou seja, para trabalhar antes mesmo da desobediência ao Senhor (Gn 2.15). Adão já trabalhava antes de pecar, cuidando do jardim. Uma das consequências do pecado, além da morte, foi que o trabalho seria “penoso e suado” (Gn 3.19), e isso não significa que ele seja amaldiçoado por Deus. “Não é, pois, bom para o homem que coma e beba e que faça gozar a sua alma do bem do seu trabalho? Isto também eu vi que vem da mão de Deus” (Ec 2.24).

2. O trabalho não é resultado do pecado.
Desde a criação de Deus que o homem foi colocado no jardim para “trabalhá-lo”, “cultivá-lo” (Gn 2.15). A maldição (Gn 3.16-17) era apenas “a dor e a fadiga” que haviam de acompanhar o trabalho (Gn 3.18), não o trabalho em si. Isso é destacado quando Lameque diz, por ocasião do nascimento de Noé, que: “este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o Senhor amaldiçoou” (Gn 5.29). Sendo assim, o trabalho é uma bênção de Deus e é necessário aos homens: “Pois comerás do trabalho das tuas mãos, FELIZ SERÁS, e te irá bem” (Sl 128.2 – grifo nosso). “Em todo trabalho há proveito [...]” (Pv 14.23a).

3. O homem imita seu Criador quando trabalha.
Ao trabalhar seis dias e descansar ao sétimo, Israel imitava a Deus ao criar o “kosmos” (Gn 2.1-2). O profeta Isaías disse que Deus trabalha: “Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti que trabalha para aquele que nele espera” (Is 64.4). Jesus fez também a seguinte declaração: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5.17). Uma vez que até dar início ao Seu ministério terreno, Jesus trabalhou como carpinteiro (Mt 13.55; Mc 6.3), nos deixando o modelo a ser seguido (Is 53.3; 1 Pe 2.21). O profeta Jeremias falando sobre o trabalho disse: “Construam casas e habitem nelas; plantem jardins e comam de seus frutos” (Jr 29.5).

4. O trabalho dignifica o ser humano.
Os hebreus sempre tinham o trabalho em elevada consideração (Pv 22.29) e, ao contrário dos gregos e romanos, respeitavam o trabalho manual: “[...] quem a ajunta pelo trabalho [lit. pelas mãos] terá aumento” (Pv 13.11 – acréscimo nosso). Na tradição judaica, existem provérbios como os que se seguem: “Aquele que não ensina a seu filho um ofício é como se o guiasse para o roubo”; e ainda: “O trabalho deve ser grandemente premiado, pois ele exalta o trabalhador, e o sustenta” (PFEIFFER, 2007, p. 1955 – grifo nosso). No NT, o princípio de dignidade do trabalho, é proclamado pelo Senhor Jesus e permanece como uma das bases da sociedade: “[...] digno é o trabalhador do seu salário” (Lc 10.7). Diante disso, Paulo para fazer os tessalonicenses repensarem a respeito da importância do trabalho, menciona seu próprio exemplo, que mesmo tendo o direito de receber sustento da igreja (1 Co 9.6-14; 2Ts 3.9), abriu mão desse direito deliberadamente, a fim de ser um exemplo aos recém convertidos, trabalhando para prover seu sustento (1Ts 2.9; 2Ts 3.8; At 18.1-3; 20.34; 1 Co 4.12) e assim, estabeleceu uma lei de economia social em sua afirmação de que: “Se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2 Ts 3.10 – ARA). O grave é a rejeição ao trabalho, isto não tem nada que ver com o desafortunado que não consegue encontrar trabalho (BARCLAY, sd, pp.22,23 – grifo nosso), ou seja, aos que por razões de falta de oportunidade de emprego, estão sem trabalhar. O proverbista Salomão disse: “O trabalhador trabalha para si mesmo, porque a sua boca o incita” (Pv 16.26).


III. O CRISTÃO E A MORDOMIA DO TRABALHO
1. O cristão e a disposição para o trabalho.
A Bíblia é clara quanto a reprovação ao preguiçoso (Pv 6.6,9-11; Pv 23.13; 26.13). Quando Paulo escreveu sua primeira carta à igreja de Tessalônica, advertiu os crentes ociosos que eles deveriam trabalhar (1Ts 4.11), aconselhando os líderes da igreja a admoestar esses insubmissos (1Ts 5.14). Porém, estes não se arrependeram uma vez que Paulo precisou dedicar o restante de sua segunda carta para corrigir o mesmo problema, onde ele adverte quanto a uma atitude incompatível à mordomia cristã, que é a preguiça, a ociosidade (2 Ts 3.6-15). Admoestando aqueles que, provavelmente por esperarem um rápido regresso de Cristo, haviam deixado de trabalhar e eram uma carga para os demais. Existiam alguns “irmãos” que viviam supostamente “pela fé”, esses crentes permaneciam ociosos (2 Ts 3.11) e, ainda, esperavam que a igreja os sustentasse. Em relação a estes Paulo tinha um conselho explícito: “[...] que vos aparteis de todo irmão que ande desordenadamente, e não segundo a tradição que de nós recebestes (2 Ts 3.6). Para preservar padrões cristãos, os desordeiros têm de sentir a pressão do sentimento cristão contra tal conduta: “Mas, se alguém não obedecer à nossa palavra por esta carta, notai o tal e não vos mistureis com ele, para que se envergonhe (2Ts 3.14). Segundo Beacon (2010, pp. 428,429): “O texto não está falando de excomunhão ou de ostracismo total, mas de uma indiferença social que indica que um padrão foi levantado, e que violá-lo provoca a repreensão da igreja”.

2. O cristão como empregado.
Quando os escritores do Novo Testamento se referem aos “servos”, o termo refere-se, sem dúvida alguma, a escravos cristãos, já que a maioria da igreja era composta de escravos. É bom que se diga que, em nenhuma parte da Escritura se afirma que a escravidão em si mesma é uma ordenança divina como o matrimônio (Gn 2.18), a família (Gn 1.28), ou o governo humano (Rm 13.1). E, por isso mesmo, não agrada ao Senhor que um homem seja o dono de outro. Paulo não aconselhou rebelião aberta dos escravos contra seus senhores, mas tratou de mudar a estrutura social por meios pacíficos (Cl 4.9; Fm 16). A revolução espiritual transformou o contexto social e acabou com a escravidão daqueles dias. Vejamos, portanto, alguns deveres dos cristãos, no exercício da sua mordomia do trabalho:

A) Deve trabalhar com submissão e honestidade.
O cristão, justamente porque é cristão, deve ser melhor trabalhador que qualquer outro. Visto que, aos que servem a Deus, não existe bipolaridade entre o secular e o sagrado, por essa razão assim exorta o apóstolo Paulo: “Vós, servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne, com temor e tremor, na sinceridade de vosso coração, como a Cristo” (Ef 6.5). Obedecer com tremor e temor não quer dizer terror servil, mas, antes, o espírito de solicitude de quem possui o verdadeiro sentido de responsabilidade. É o cuidado de não deixar nenhum dever sem ser cumprido. “Com sinceridade de coração”, refere-se a fazer o trabalho com realismo, sem duplicidade e sem fingimento (VAUGHAN, apud, LOPES, 2009, p. 172). O empregado precisa ser honesto, precisa honrar sua empresa, seu patrão, cumprindo seu papel com fidelidade (Gn 39.3-9; Dn 6.3-5), como disse o apóstolo: “não servindo à vista, como para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração a vontade de Deus” (Ef 6.6; Cl 3.22). Quando o cristão exerce corretamente sua mordomia do trabalho sendo um bom funcionário, isso redunda em glorificação do nome do Senhor (1 Co 10.31).

B) Deve trabalhar com coerência e prudência.
O fato de tanto um empregado quanto seu patrão serem cristãos não é desculpa para que qualquer uma das partes trabalhe menos. Observemos a expressão de Paulo: “[...] servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne [...] como a Cristo” (Ef 6.5). A expressão: “como a Cristo”, quer dizer que o empregado deve encarar a obediência ao seu patrão como uma espécie de serviço prestado ao próprio Senhor Jesus. Essa é a mesma essência da submissão da esposa ao marido (Ef 5.22), dos filhos aos pais (Ef 6.1) e, dos empregados aos patrões (Cl 3.23). Eles devem obedecer porque são servos de Cristo. Eles devem ser leais aos patrões por causa do compromisso que têm com Deus. A melhor maneira de testemunhar no local de trabalho é demonstrar diligência e competência em suas atividades. Assim, o empregado deve realizar seu trabalho “de coração”, pois está servindo a Cristo e fazendo a vontade de Deus. Por vezes, aqueles servos cristãos tinham de realizar tarefas que não fossem tão confortáveis, mas, ainda assim, deviam cumpri-las, desde que não fossem contrárias à vontade de Deus; uma vez que determinadas atitudes e/ou “trabalhos” vis e desonestos, são incompatíveis com a fé cristã (Dt 23.18; Lc 19.8; 1 Co 10.23), pois, como servos de Deus só devemos realizar trabalhos honrados: “Quem furtava não furte mais; em vez disso, trabalhe arduamente, fazendo com as mãos um bom trabalho, a fim de ter algo para repartir com alguém em necessidade” (Ef 4.28).

3. O cristão como patrão.
Após falar da dedicação dos servos, Paulo volta sua atenção aos senhores: “Senhores, tratai os servos com justiça e com equidade, certos de quem também vós tendes Senhor no céu” (Cl 4.1). Paulo combate aqui a exploração dos servos e empregados pelos seus senhores e patrões. Os empregadores precisam tratar os empregados com justiça e equidade. Explorar os empregados, sonegar-lhes o salário (Tg 5.4-6), oprimi-los, ameaçá-los ou tratá-los como seres inferiores é um grave pecado contra Deus (Ef 6.9).


CONCLUSÃO
Concluímos que o cristão precisa exercer com excelência a sua mordomia do trabalho, entendendo que mais do que uma atividade pessoal, é um serviço ao Senhor.




REFERÊNCIAS
Ø  BARCLAY, William. Comentário do Novo Testamento: 2 Tessalonicenses. PDF
Ø  HOWARD, R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. RJ: CPAD, 2010.
Ø  HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. RJ: OBJETIVA, 2001.
Ø  VINE, W.E, et al (Trad. Luís Aron). Dicionário Vine. RJ: CPAD, 2002.
Ø  LOPES, Hernandes Dias. Efésios: Igreja, a noiva de Cristo. SP: HAGNOS. 2009.
Ø  PFEIFFER, F. Charles. et al (Trad. Degmar Ribas) Dicionário Bíblico Wycliffe. RJ: CPAD, 2007.
Ø  WIERSBE, W. W (Trad. Susana Klassen). Comentário Bíblico Expositivo NT. SP: GEOGRÁFICA, 2007.
Ø  STAMPS, Donald C (Trad. Gordon Chown). Bíblia de Estudo Pentecostal. RJ: CPAD, 1995.



Por Rede Brasil de Comunicação.



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