INTRODUÇÃO
Nesta
lição iremos analisar o significado do termo intercessão; pontuaremos sobre o
pedido de Jesus para proteção dos discípulos, refletindo o seu cuidado com a
vida espiritual deles; ainda ressaltaremos sobre Jesus intercedendo pela
santificação, guarda da unidade e serviço da evangelização que os discípulos
haveriam de executar.
I.
DEFINIÇÃO DO TERMO INTERCESSÃO
1.
Definição do termo.
De
acordo com o dicionário Houaiss da língua portuguesa, intercessão é
o ato ou efeito de interceder; pedido em favor de alguém; súplica; mediação
junto a alguém para obter um favor (2001, p. 1541). “A palavra hebraica para
interceder é paga’ originalmente significava “incidir sobre”, e
desse modo veio a significar “atacar alguém com pedidos”. Quando tal ataque era
feito em favor de outros, esta atitude era chamada de intercessão. A palavra
grega entygchano significa “apelo ou petição”. O verbo é usado
pelo menos cinco vezes no NT (At 25.24; Rm 8.27,34; 11.2; Hb 7.25). O
substantivo ocorre duas vezes (1Tm 2.1; 4.5)” (Wycliffe, 2007, pp. 978, 979).
Na Bíblia temos inúmeros relatos da prática da intercessão, a exemplo do que o
patriarca Abraão fez por Sodoma (Gn 18.23-33); Moisés fez por Israel, após o
pecado diante do bezerro de ouro (Êx 32.31,32) e a oração de Jesus pelos seus
discípulos (Jo 17.1-26). Ainda é importante destacar que o Espírito Santo
intercede a favor do crente (Rm 8.26), demonstrando assim a grandeza e
importância desse ato. O dicionário bíblico Vine (2002, p. 836) chega a afirmar
que “o Espírito Santo, sendo o intérprete exclusivo das necessidades do coração
humano, faz Sua intercessão a esse respeito”.
II.
JESUS INTERCEDE PELA PROTEÇÃO DOS DISCÍPULOS
Jesus
inicia a oração do capítulo 17 do evangelho escrito por João intercedendo por
Si mesmo, pedindo ao Pai: “glorifica a teu Filho, para que também o teu
Filho te glorifique a ti” (Jo 17.1); tendo em vista que havia “consumado
a obra” (Jo 1.4) que o Pai havia lhe dado a fazer. Ele pede para que o
Pai o glorifique “com aquela glória que tinha contigo [com o
Pai] antes que o mundo existisse” (Jo 1.5). Após interceder por Si
mesmo, o Senhor inicia uma uma intercessão em favor da proteção dos discípulos.
Vejamos:
1.
Proteção contra a perda da salvação.
O
Senhor Jesus ora ao Pai dizendo: “Manifestei o teu nome aos homens que do
mundo me deste; eram teus, e tu mos deste. Eu rogo por eles; não
rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus. [...] Tenho
guardado aqueles que tu me deste, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da
perdição, para que a Escritura se cumprisse” (Jo 17.6,9,12). Jesus se
preocupou com a firmeza dos discípulos em relação a fé depositada em Si após a
Sua partida, por isso Ele roga “por eles”, tendo em vista que o Senhor sabia
que somente aquele que “perseverar até ao fim será salvo” (Mt
24.13). Quando Jesus diz “não rogo pelo mundo” (vs. 12), não quer
dizer que Ele não se importava com a salvação das demais pessoas. De acordo com
Geisler (2010, p. 277, 278 – acréscimo nosso), “o pronome “eles” no
versículo 9 do capítulo 17 do evangelho de João é uma referência clara aos
discípulos de Cristo (vs. 6), e os calvinistas alegam que esta é uma negação
explicita feita por Jesus de que Ele oraria pelo “mundo” dos descrentes. Se isso
fosse verdade, estaríamos diante de um forte apoio ao argumento de que a
expiação está limitada aos eleitos (fazendo referência aos predestinados),
o que não é uma verdade. Vejamos:
A) Há
registros de que Jesus orou também pelas pessoas que não creram nele.
Jesus orou pelos ímpios, inicialmente, a exemplo dos descrentes
envolvidos no ato da Sua crucificação (Lc 23.34). Além disso, Lucas inclui a
oração indireta que Jesus faz pelo mundo, na qual Ele nos leva a rogar para que
“o Senhor da seara [...]envie obreiros para a sua seara” (Lc 10.2).
B) Deus
deseja salvar a todos os homens. A Bíblia demonstra claramente que o
Senhor deseja a salvação de todos os homens (Mt 11.28,29; Mt 23.37-39; 1Tm
2.4-6; 2Pe 3.9). Fica claro que a salvação é abrangente a todos os homens e,
que uma vez obtida, devemos preservá-la, pois há o risco de perdê-la (Ez 18.24;
Cl 1.21-23; 1Tm 4.1; 1Tm 6.10; Tg 5.19,20; Hb 6.4-6; 2Pe 2.20-22).
2.
Proteção contra o mundo.
Jesus
rogou ao Pai para guardar os seus discípulos do mundo: “E eu já não estou
mais no mundo; mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, GUARDA em
teu nome aqueles que me deste" (Jo 17.11). Segundo Champlin (1995, p.
577), “o motivo da urgência dessa solicitação de Jesus era que ele, na
qualidade de protetor dos discípulos, agora os estava deixando sós e por isso
poderiam vir a ser como ovelhas sem pastor, no meio de um mundo hostil. Porém,
a própria retirada para o Pai, que Cristo aqui menciona, servia de garantia de
que eles gozariam de bem-estar espiritual, ainda que o bem-estar material não
ficasse mais garantido por causa disso, posto que sua ida para o Pai traz-nos a
memória o ofício medianeiro de Cristo" (Rm 8.34; Hb 7.35).
3. Proteção contra o mal (maligno).
Jesus
rogou ao Pai para guardar os seus discípulos do mal que há no mundo: “Não
peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (Jo 17.15).
“Quando Jesus fala do mundo, precisamos saber que essa palavra tem vários
sentidos na Bíblia. Ela pode, de acordo com o contexto das Escrituras,
referir-se ao “universo criado” (Jo 17.5), como pode referir-se à humanidade
(Jo 3.16). Pode, também, referir-se ao mundo como um sistema espiritual. Quando
Cristo disse que eles não eram do mundo, significava o sistema espiritual
comandado por Satanás (Jo 17.14). Paulo disse que esse mundo é um sistema de
governo espiritual e que pertencemos a ele antes de sermos salvos por Jesus.
Nossos padrões de vida eram deste mundo, mas, como crentes em Cristo,
tornamo-nos cidadãos dos céus e não pertencemos mais a esse sistema satânico
(Ef 2.2; Fp 3.20,21). Jesus queria que o Pai guardasse seus discípulos desse
sistema satânico, no qual opera o “príncipe deste mundo” (Jo 12.31; 14.30;
16.11)” (Cabral, 2025, p. 133). A oração pela proteção espiritual mostra que os
discípulos enfrentariam oposição, perseguição e tentações (Jo 16.33).
III.
JESUS INTERCEDE PELA UNIDADE, SANTIFICAÇÃO E SERVIÇO DOS DISCÍPULOS
1. Preservação da unidade dos discípulos.
Jesus
orou para que os discípulos fossem um, assim como Ele e o Pai são um: “[...]
Pai santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, assim
como nós. Eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade”
(Jo 17.11,23). Cabral (2025, p. 131,132) enfatiza que “os dois, “Pai e Filho”,
são uma unidade, e não uma similaridade. São uma unidade indivisível no
exercício da eterna comunhão, como o texto: “O verbo estava com Deus e o
verbo era Deus” (Jo 1.1,2)”. De acordo com Champlin (1995, p. 577), “os
discípulos já tinham união; mas faltava-lhes a unidade de espírito, e isso foi
demonstrado ainda naquela mesma noite, por ocasião da ceia (Lc 22.24; Jo
13.4-15). O Senhor Jesus oferece a unidade necessária na trindade...como modelo
para ser seguido por todos os crentes”. A expressão “para que todos sejam
um, como tu, ó Pai, o és em mim” (Jo 17.21) demonstra que essa unidade
reflete a comunhão da Trindade e deve ser visível na igreja. A igreja, como
corpo de Cristo, deve manifestar a unidade espiritual que existe entre o Pai, o
Filho e o Espírito Santo (Rm 15.5,6; 1Co 12.12,13; Ef 4.4-6; Fp 2.1,2).
2. Santificação pela verdade.
Quando
o Senhor Jesus clama: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade”
(Jo 17.17), podemos entender que a Palavra de Deus é o instrumento pelo qual os
discípulos são moldados e separados para Deus. “O verbo grego hagiazo,
aqui um imperativo aoristo, significa “consagrar, dedicar, santificar, tratar
como sagrado, reverenciar, purificar” (Beacon, 2006, p. 140). De acordo com o
dicionário bíblico Wycliffe (2007, p. 1762), “as principais ideias relacionadas
a santificação são a separação daquilo que é pecaminoso, por um lado, e, por
outro, a consagração aquilo que é justo e que está de acordo com a vontade de
Deus”. Em relação aos agentes (meios) da santificação, podemos apontar: (1) agente
externo: a Palavra de Deus (Sl 19.7; Sl 119.9; Jo 15.3; Jo 17.17; 2Co 7.1; Ef
5.26,27; 2Tm 3.15); e, (2) agente interno: o Espírito Santo (Rm 8.3,4;
2Ts 2.13; 1Pe 1.2).
3.
Serviço da evangelização.
Jesus
intercede ao Pai em prol da obra que os discípulos haviam de realizar na
evangelização e por todos aqueles que haveriam de crer nEle pela pregação da
sua Palavra: “Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviei ao
mundo. Eu não rogo somente por estes, mas também por aqueles que, pela sua
palavra, hão de crer em mim” (Jo 17.18.20). “Jesus investiu nesses
homens durante quase quatro anos, e eles foram fiéis discípulos e, portanto,
devidamente preparados para dar continuidade à missão evangelizadora” (Cabral,
2025, p. 132). O serviço da evangelização é a principal missão da Igreja na
terra (Mt 28.19; Mc 13.10; Lc 24.47; Jo 20.21; Rm 10.14,15). A ordem de Jesus
foi para que eles permanecessem em Jerusalém até que fossem revestidos de poder
(Lc 24.49) e depois saíssem e fossem testemunhas do seu evangelho em todo o mundo
(At 1.8). Assim, os discípulos estariam cumprindo a ordem imperativa do Senhor:
“Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc
16.15).
4.
Perseverança em meio às adversidades.
Ao
interceder pelos seus discípulos, Jesus também ora pela preservação deles no
mundo, reconhecendo os perigos e as perseguições que enfrentariam: “Não
peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal” (Jo 17.15). A
oração de Jesus revela seu cuidado pastoral e sua consciência das pressões
externas que seus seguidores sofreriam. “Jesus reconhece que seus
discípulos continuarão expostos às influências malignas do sistema mundano, mas
suplica ao Pai que os guarde espiritualmente íntegros, livres do poder do
maligno”. A perseverança dos crentes está fundamentada na graça
sustentadora de Deus, que os fortalece diante das lutas (2Co 4.8-10; 2Ts 3.3;
1Pd 5.10). A “segurança dos cristãos não está em sua capacidade de
resistir, mas na fidelidade de Deus que os guarda até o fim”. Essa
intercessão mostra que Jesus não promete uma vida isenta de tribulações, mas
assegura a presença divina que fortalece e mantém seus discípulos firmes até o
fim (Mt 10.22; Jo 16.33; Rm 8.35-39; Ap 2.10). REFERÊNCIAS
CONCLUSÃO
A
oração sacerdotal de Jesus em João 17 revela o coração intercessor do Salvador
pelos seus discípulos. Ele roga por proteção, santificação, unidade e o serviço
da evangelização, pilares fundamentais da vida cristã. Cristo continua
intercedendo por nós à direita do Pai (Rm 8.34). Somos chamados a responder a
essa intercessão com fidelidade, compromisso e obediência, cumprindo a missão
designada pelo Mestre: fazer conhecido o Seu nome e ganhar vidas para o Seu
Reino.
REFERÊNCIAS
Ø CABRAL, Elienai. E o Verbo se Fez
Carne: Jesus sob o Olhar do Apóstolo do Amor. CPAD.
Ø CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo
Testamento Interpretado Versículo por Versículo. Vol. II. Editora Candeia.
Ø GEISLER, Norman. Teologia
Sistemática. CPAD.
Ø MAYFIELD, Joseph H et. al. Comentário
Bíblico Beacon – Vol. 7. CPAD.
Ø PFEIFFER, Charles F. et al. Dicionário
Bíblico Wyclliffe. CPAD.
Ø VINE, W. E. UNGER et. al. Dicionário
Vine. CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.