sábado, 5 de abril de 2025

LIÇÃO 01 – O VERBO QUE SE TORNOU EM CARNE






Jo 1.1-14
 
 

INTRODUÇÃO
O Evangelho segundo João é ímpar entre os quatro Evangelhos. Relata muitos fatos do ministério de Jesus na Judéia e em Jerusalém que não se acham nos Sinóticos, e revela mais a fundo o ministério da sua pessoa. Nesta primeira lição, introduziremos o estudo sobre o evangelho conforme escreveu João destacando importantes informações; pontuaremos como Jesus é apresentado neste evangelho, enfatizando sua divindade, preexistência, encarnação, rejeição e aceitação. E, por fim, destacaremos sua singularidade em relação aos sinóticos.
 
 
I. O EVANGELHO DE JOÃO
1. Autoria.
Há um consenso quase unânime na história da igreja, por meio de evidências externas e internas, que essa carta foi escrita pelo apóstolo João. Muito embora o nome do apóstolo não apareça de forma explicita, no quarto evangelho, João se refere a si mesmo como: “discípulo”, “outro discípulo”, “o discípulo a quem Jesus amou”, “aquele que se reclinou sobre o peito de Jesus” e o nome João no hebraico significa: “amado de Deus”. Esse foi o caminho mais modesto de João apresentar-se. João era filho de Zebedeu, um pescador, e de Salomé (Mc 15.40; 16.1; cf. Mt 27.56). Ele recebeu o chamado para ser discípulo de Jesus Cristo (Mt. 4:21–22; Lc. 5:1–11). Jesus também o chamou e seu irmão de Boanerges, “filhos do trovão” (Mc. 3:17). Pensa-se que era mais jovem do que seu irmão, Tiago. Evidentemente, eram os membros da família de Zebedeu pessoas que detinham posses. Eles haviam contratado empregados (Mc 1.20) e, de acordo com João 19.27, João cuidou de Maria após a morte de Jesus. João fazia parte do círculo íntimo de discípulos, juntamente com seu irmão, Tiago e Pedro (Mt 17.1-8; Mc 9.2-8; Lc 9.28-36,49ss.; 22.8). Mais tarde João foi exilado na ilha de Patmos, onde ele escreveu o livro de Apocalipse (Ap. 1:9). Foi presbítero em Éfeso e morreu em idade avançada é conhecido também como o apóstolo do amor; Paulo chamava João de uma das colunas (Gl 2.9).
 
2. Propósito do Autor.
O propósito do autor é claramente declarado: “Jesus, pois, operou também, em presença de seus discípulos, muitos outros sinais, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome” (Jo 20.30-31).
 
3. Tema do livro.
João planejou intencionalmente a sua escrita selecionando e colocando em ordem os eventos e as palavras, a fim de mostrar que o Logos de Deus, o Verbo encarnado, é o cumprimento completo e final de tudo o que está prefigurado na lei e nos profetas. Embora João não registre a própria declaração de Jesus (Mt 5.17) a este respeito, ele demonstrou por “sinais” cuidadosamente escolhidos que Jesus veio para cumprir tudo o que fora dito.
 
4. Contexto e Data.
Segundo testemunhos antigos, os presbíteros da igreja da Ásia Menor pediram ao venerável ancião e apóstolo João, residente em Éfeso, que escrevesse este evangelho para contestar e refutar uma perigosa heresia concernente à natureza, pessoa e deidade de Jesus, propagada por um certo judeu de nome Cerinto. Quanto a data em que este evangelho foi escrito, evidências apontam de forma bastante consistente para uma data em torno de 95 d.C.
 
 
II. JESUS NO EVANGELHO CONFORME ESCREVEU JOÃO
O propósito de João é, claramente, advertir os leitores acerca do perigo dos falsos ensinos do gnosticismo, que ensinava que Deus, sendo o bem perfeito, não poderia ter criado o mundo físico (que é mau); portanto, o Cristo, sendo divino, não poderia ter encarnado. Contra esta heresia, João enfatiza algumas verdades sobre Jesus. Vejamos:
 
1. Ele é Deus (Jo 1.1).
Ele foi chamado de Emanuel, que significa: “Deus conosco” (Is 7.14; Mt 1.23). Pedro testificou: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16), e chamou-O de “o Santo” (At 3.14) e de “nosso Deus e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 1.1). Paulo disse que Jesus era o próprio Filho de Deus (Rm 8.32) e falou da glória do “grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo” (Tt 2.13). João escreveu que Jesus é o verdadeiro Deus (1Jo 5.20). Deve destacar-se ainda que Jesus tinha também as prerrogativas divinas, tais como: poder para perdoar pecados (Mt 9.2; Lc 7.48); receber adoração (Mt 8.2; 9.18; 15.25; Mc 5.6; 9.38; Ap 5.8; 5.13); autoexistência (Jo 5.26). Portanto Jesus não é um ser criado antes da criação de todas as coisas, como ensinou mais tarde Ário de Alexandria e como ensina hoje as “Testemunhas de Jeová”.
 
2. Ele é Criador (Jo 1.3,10).
Qual a relação de Jesus com a criação do cosmo? João afirmou que: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3); e, Paulo diz também que além de Criador é Herdeiro (Cl 1.16-b); e, Sustentador (Cl 1.17). A expressão “primogênito da criação” (Cl 1.15) ou “princípio da criação de Deus” não quer dizer que Jesus é o primeiro ser criado, mas que é herdeiro de tudo, pois o primogênito era o herdeiro (Gn 27.19); e, “princípio” significa: origem, causa primeira e Senhor de toda a criação de Deus. O Escritor aos Hebreus nos revela que Cristo é o: a) Herdeiro de tudo (Hb 1.2-a); b) Criador do mundo (Hb 1.2-b); e, c) Sustentador do universo (Hb 1.3b). O Verbo é um ser incriado (Mq 5.2; Is 9.6; Jo 8.58; Cl 1.16,17; Hb 1.10-12; Ap 1.8,11).
 
3. Ele é Luz (Jo 1.4,5,9).
Jesus, o Filho de Deus, veio ao mundo como a revelação especial de Deus: “E a luz resplandece nas trevas” (Jo 1.5a). Quando Ele nasceu, se cumpriu a profecia de Isaías que dizia: “O povo que andava em trevas, viu uma grande luz, e sobre os que habitavam na região da sombra da morte resplandeceu a luz” (Is 9.2). Confira: (Mt 4.16). Ele mesmo declarou ser a Luz do Mundo (Jo 8.12; 9.5; 12.46). A luz traz a revelação aos que estão em trevas, para que vejam suas próprias obras e decidam seguir ao Deus verdadeiro (Jo 3.21).
 
4. Ele é o Verbo.
O apóstolo João inicia o Evangelho apresentando Cristo com o termo grego “Logos” (Jo 1.1), que significa “palavra” e nos revela que, na época da criação, o Verbo já existia: “... o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus” (Jo 1.1) o que significa dizer que nunca houve um período em que o “Logos” não existisse juntamente com o Pai. O Filho Eterno era antes de sua manifestação histórica. Ele nunca passou a existir, porque ele sempre existiu em comunhão perfeita com o Pai, na harmonia do amor da trindade divina (Jo 17.24). Acerca do Verbo João nos fala sobre:
 
a) A encarnação do Verbo (Jo 1.14).
João introduz o evangelho dizendo que “o Verbo era Deus” (Jo 1.1), mas também que “o Verbo se fez carne” (Jo 1.14). O mesmo apóstolo diz que na ceia “recostara sobre o seu peito” (Jo 21.20); e, que “ouviu”, “viu”, “contemplou”, e, “tocou” o Verbo da Vida (1Jo 1.1). Paulo, por sua vez, declarou que Jesus “que, sendo em forma de Deus [...] esvaziou-se a si mesmo [...] fazendo-se semelhante aos homens” (Fp 2.6,7). Os escritores do NT deixaram claro que Jesus tinha todos os atributos físicos dos homens, a saber: ele nasceu de uma mulher (Rm 1.3; Gl 4.4); cresceu fisicamente (Lc 2.52); dormiu (Mt 8.24); comeu (Lc 24.43); sentiu fome (Lc 4.2); sede (Jo 4.7; 19.28); teve cansaço físico (Jo 4.6); chorou (Jo 11.35); sorriu (Lc 10.21) e, foi tentado (Mt 4.1; Lc 22.28; Hb 4.15). Ao se fazer homem, Jesus tornou-se tríplice, constituído de corpo (Mt 26.12; Hb 10.5), alma (Is 53.11,12; Mt 26.38; Jo 12.27), e, espírito (Mt 27.50).
 
b) A rejeição e aceitação do Verbo (Jo 1.11,12).
Ele veio para o que era seu, ou seja, o povo hebreu. Mas o resultado, a resposta deste povo à ação de Deus, foi a recusa em recebê-lo. Embora não todos (Rm 11.1-3). Na Encarnação, Deus fez a provisão adequada para que os homens tenham o direito — baseado na autoridade e no poder apropriados — de se tornarem filhos de Deus. Tal direito não é uma capacidade humana inerente, separada da graça de Deus. É dado por Deus. Somente os homens que o recebem, i.e., aqueles que têm fé, são filhos de Deus. A autorrevelação de Deus é universal; é para todos os homens, mas a resposta do homem, não. Nem todos os homens têm fé.
 
 
III. A SINGULARIDADE DO EVANGELHO DE JOÃO
Basta ler o quarto Evangelho na forma mais superficial para comprovar que é muito distinto dos outros três. Omite muitas coisas que outros incluem. O quarto Evangelho não menciona o nascimento do Jesus, seu batismo e suas tentações; Não nos diz nada a respeito da Última Ceia, nada do Getsêmani, nada sobre a Ascensão; Não diz uma só palavra a respeito da cura de pessoas possessas por demônios ou espíritos malignos. E, o que possivelmente resulta mais surpreendente não contém nenhuma parábola, nenhuma dessas histórias que Jesus contou e que formam uma parte de valor inapreciável nos outros três Evangelhos; João dá uma versão diferente da duração do ministério do Jesus. Os outros três Evangelhos implicam que o ministério de Jesus só durou um ano. Dentro do ministério só há uma Páscoa. Em João há três páscoas, uma durante a purificação do templo (João 2:13); uma próxima à alimentação dos cinco mil (João 6:4); e a última páscoa durante a qual Jesus foi crucificado.
 
A estrutura do quarto evangelho tem seu ponto culminante nesta passagem: Na verdade, fez Jesus diante dos discípulos muitos outros sinais que não estão escritos neste livro. Estes, porém foram registrados para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome (20.30,31). Daí depreendemos alguns fatos básicos: a) João sabia de outros fatos da vida de Cristo, que propositadamente ele não historiou; b) O material por ele incluído em seu evangelho visa a mostrar a deidade de Jesus; c) A deidade de Jesus integra da fé cristã. A vida eterna só pertence aos crentes na deidade de Cristo.
 
 
CONCLUSÃO
De forma distinta aos outros evangelhos, João tem a preocupação em seus escritos enfatizar a perfeita divindade e humanidade de Jesus. Os sinais que operou enfatizam que Ele é o Filho de Deus que havia de vir ao mundo. Para João, Jesus era a mesma figura divina que estava no princípio de todas as coisas, quando Deus criou o universo. Em vez de começar com o nascimento de uma criança, inicia com o nascimento do próprio mundo, como Paulo descreveu em (Cl. 1.15-17). Portanto, que neste trimestre possamos imergir na teologia, doutrina e beleza literária deste evangelho tão singular.
   
 
 
 
REFERÊNCIAS
Ø  BLOMBERG, Craig L. Introdução aos Evangelhos. VIDA NOVA.
Ø  CARLSON, D.A. O comentário de João. SHEED PUBLICAÇÕES.
Ø  CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø  OLIVEIRA, Raimundo. As Grandes Doutrinas da Bíblia. CPAD.
Ø  PEARLMAN, Myerl. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. VIDA.
Ø  SWINDOLL, Charles R. Comentário Bíblico de João. HAGNOS.
Ø  STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD. 
 
 
Por Rede Brasil de Comunicação.



 

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