Jo
13.1-10
INTRODUÇÃO
Nesta
lição, aprenderemos sobre o exemplo de humildade presente na vida de Jesus e
como poderemos colocá-lo em ação. Observaremos de igual modo que esta virtude
só terá um real significado e eficácia quando for compreendida à luz das
Escrituras e da teologia cristã. Finalmente, estudaremos o contraste existente
entre o estilo de vida sob humildade e o orgulho e suas respectivas
consequências.
I. CONCEITOS SOBRE A HUMILDADE CRISTO
1.
Definição de humildade.
Segundo
o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “humildade” é definida
como a “qualidade de quem reconhece suas próprias limitações e age com
modéstia, sem arrogância ou vaidade” (Houaiss, 2011, p. ). Essa virtude
envolve uma consciência realista de si mesmo, favorecendo o respeito e a
consideração pelos outros. Do ponto de vista etimológico, a palavra “humildade”
tem origem no latim “humilitas”, derivada de “humus”,
que significa “terra”. Essa raiz sugere uma conexão simbólica com
a ideia de estar “próximo do chão”, remetendo a uma postura de
simplicidade, sobriedade e ausência de orgulho, elementos que evidenciam a
nobreza dessa virtude. No AT encontramos o termo hebraico ‘anavah,
que significa “docilidade” ou “aflição”, oriundo de
‘anav, traduzido como “gentil”. Já no NT a humildade
assume um significado ainda mais profundo por meio do termo grego tapeinophrosýne,
que denota “humildade de mente”, e do termo praotēs,
que pode ser traduzida como “gentileza” ou “docilidade”.
Sob uma perspectiva espiritual, a humildade é descrita como uma graça enraizada
na alma, que leva a pessoa a não se considerar mais importante do que realmente
é, conforme ressaltado nas Escrituras (Ef 4.1-2, Cl 3.12, Rm 12.3) (Unger,
2017, p. 594).
2.
A humildade de Jesus.
No
Evangelho de João, temos a vida interior de nosso Senhor revelada de forma
profunda. Nele, Jesus fala com frequência sobre seu relacionamento com o Pai,
os motivos que o conduzem, bem como sua plena consciência do poder e do
Espírito com os quais age. Ainda que a palavra “humilde” não apareça, “não há
qualquer outro lugar nas Escrituras onde vemos tão claramente em que consistia
Sua humildade” (Murray, 2001, p. 18). Jesus demonstrava verdadeira humildade,
pois tinha plena consciência de quem era, e sua identidade bem definida o
livrava da necessidade de provar algo para os outros de que ele não era. É
curioso observar que esta reflexão se baseia nas palavras e ações de Cristo,
que viveu em plena submissão à vontade do Pai. Vejamos alguns registros disto:
- “O Filho nada pode fazer de Si mesmo” (Jo 5.19);
- “Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma... porque não busco a minha vontade, mas a vontade do Pai que me enviou” (Jo 5.30);
- “Eu desci do céu, não para fazer a Minha própria vontade” (Jo 6.38);
- “O Meu ensino não é Meu” (Jo 7.16);
- “As palavras que Eu vos digo, não as digo por Mim mesmo” (Jo 14.10).
É
fundamental destacar que a humildade de Cristo em nenhum momento compromete ou
diminui sua plena Divindade. Ao contrário, revela com ainda mais clareza a
grandeza de seu caráter Divino. Ao assumir a condição humana, Jesus o fez de
maneira livre, voluntária e consciente, envolvendo-se integralmente na missão
de revelar ao mundo o Filho de Deus encarnado, aquele que, sendo eterno,
escolheu servir, obedecer e se submeter até a morte, conforme declara
Filipenses 2.5. Ainda, segundo Merril F. Unger isto “não se trata de
autodepreciação, mas de uma vida modesta na avaliação de si mesmo e ausência de
vaidade, ou seja, expressa um espírito de boa vontade e obediência no qual não
há nenhuma resistência à operação de Deus” (Unger, 2017, p. 594).
II. DEUS SE OPÕE AOS ORGULHOSOS, MAS
CONCEDE GRAÇA AOS HUMILDES
1.
O orgulho se opõe à humildade.
Nos
tempos bíblicos, era comum a prática de lavar os pés ao chegar em casa,
especialmente devido ao uso de sandálias e às estradas empoeiradas. Segundo o
costume, essa tarefa era destinada aos servos ou escravos da casa. Quando um
anfitrião tomava para si esse serviço, o gesto era visto como uma demonstração
de grande humildade e honra para com seus convidados. No relato de João 13,
observamos que nenhum dos discípulos se dispôs a lavar os pés uns dos outros.
Foi então que Jesus, quebrando expectativas, assumiu o papel de servo e lavou
os pés de cada um. Diante daquele gesto de humildade, Pedro inicialmente
resistiu ao Senhor, dizendo: “Nunca me lavarás os pés” (Jo 13.8). A
reação de Pedro revela uma visão espiritual limitada, incapaz de compreender o
profundo significado daquele ato. É evidente como o orgulho pode cegar o
entendimento humano, ele não apenas impede que as bênçãos de Deus nos alcancem,
mas também retarda nosso progresso espiritual. A Bíblia é clara ao afirmar: “Deus
resiste aos soberbos” (Tg 4:6). O termo grego utilizado para “resiste” é antitássomai,
que traz a ideia de ‘opor-se firmemente’, ‘colocar-se em posição de batalha
contra’. Isso revela que o orgulhoso vive em constante oposição a Deus,
mesmo sem perceber. Não há como experimentar uma vida plena e harmoniosa com o
Senhor, e com o próximo, enquanto o orgulho e a vaidade não forem vencidos. Por
isso, devemos vigiar constantemente, para não cairmos na tentação de cultivar
um estilo de vida altivo. Jesus advertiu a Pedro com firmeza: “Se eu não
te lavar, não tens parte comigo” (Jo 13:8).
2.
A humildade transforma o orgulho em benção.
Pedro,
inicialmente resistiu ao gesto da lavagem dos pés por Jesus, dizendo: “Nunca
me lavarás os pés” (Jo 13.8), ao passo que o Mestre lhe responde “se
eu não te lavar, não tens parte comigo” (Jo 13.8). Observando a reação
do Mestre extraímos valiosas lições sobre o poder transformador da humildade. Em
primeiro lugar, o que aparentemente entendemos como uma repreensão, na
verdade, trata-se de um convite à transformação espiritual de Pedro. Ele foi
confrontado com a realidade de que, ao se opor ao serviço de Jesus, estava se
afastando da comunhão com Ele. Assim devemos estar prontos a ouvir a voz de
Deus nos corrigindo, pois seu propósito é promover edificação em nós. Em
segundo lugar, a atitude de Cristo, não apenas ensinou sobre humildade
e serviço, mas também começou a moldar o coração dos demais discípulos para o
verdadeiro caráter do Reino de Deus. Este gesto de humildade e serviço reflete
um modelo a ser seguido, um padrão a ser imitado e um estilo de fé que promover
boas obras e transforma a vida do cristão. Finalmente, em terceiro lugar,
notamos que o exemplo de Cristo influenciou de forma profunda a vida de Pedro,
que mais tarde estaria influenciando a vida dos membros da igreja pastoreada
por ele (1Pd 5.5,6), ele reconhece que somente por meio de uma vida humilde é
possível alcançar o favor Divino.
III. APRENDEI DE MIM QUE SOU MANSO E
HUMILDE
1.
Evitando a falsa humildade.
Os
cristãos de hoje enfrentam um grande desafio: viver a verdadeira humildade em
um tempo em que ela tem sido trocada por aparências. Muitos fingem piedade e
fazem da adoração um espetáculo, cheio de performances e encenações. No
entanto, Jesus foi firme ao denunciar esse tipo de falsa humildade durante todo
o Seu ministério, especialmente entre os religiosos que se achavam melhores que
os outros só porque pareciam ser mais espirituais. Precisamos voltar ao que a
Bíblia realmente ensina e não nos deixar enganar por aparências. Afinal, as
aparências enganam (2Tm 3.5). Devemos nos lembrar que o grau da nossa humildade
será medido não por aquilo que é aparente, mas pela nossa verdadeira essência.
2.
Um convite à uma vida humilde.
A
humildade sempre foi uma virtude presente na vida e no ministério de Jesus. Os
evangelhos nos oferecem ricos e variados subsídios que fundamentam a vida de
humildade vivida por Jesus Cristo. Esses registros revelam, de forma vívida,
ensinamentos e atitudes do Mestre que servem como modelo de humildade para
todos os que desejam segui-Lo. Vejamos alguns exemplos:
REFERÊNCIAS
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LIÇÕES DE HUMILDADE NA VIDA DE JESUS
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Nascimento
humilde (Lc 2.7)
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Jesus
nasceu em um estábulo e foi colocado numa manjedoura, o Salvador do mundo
vindo em simplicidade e pobreza.
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Batismo
por João (Mt 3.13-15)
|
Apesar
de ser sem pecado, Jesus se submete ao batismo de João Batista para “cumprir
toda a justiça”.
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Tentação
no deserto (Mt 4.1-11)
|
Ele
resiste às tentações de poder, fama e riqueza, escolhendo permanecer fiel e
submisso à vontade de Deus.
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Conviveu
com os marginalizados
(Lc
5.30-32)
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Jesus
anda com pecadores, cobradores de impostos e leprosos, mostrando humildade ao
se colocar ao lado dos que eram rejeitados pela sociedade.
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Entrada
em Jerusalém num jumento (Mt 21.1-11)
|
Ao
invés de um cavalo de guerra, Ele entra na cidade montado em um jumentinho —
sinal de paz e humildade.
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Finalmente sua aceitação da cruz (Fp 2.5-8 e os relatos da morte) |
A
maior expressão de humildade: Jesus aceita sofrer e morrer como um criminoso,
sem resistir, por amor aos outros.
|
O
hino de nº 126 da Harpa Cristão de forma assertiva entoa que “Quem quiser
de Deus ter a coroa assará por mais tribulação, às alturas santas ninguém voa
sem as asas da humilhação”, assim ocorre na vida daqueles que
seguem as pisadas de nosso Senhor Jesus Cristo.
CONCLUSÃO
Embora
o cristão não esteja isento das tentações de um mundo marcado pela vaidade,
egoísmo e orgulho, é plenamente possível viver uma vida de humildade seguindo o
modelo deixado por Cristo. Seu exemplo de simplicidade e serviço nunca perde o
valor e continua sendo referência atemporal para todos os que almejam alcançar
o Céu.
REFERÊNCIAS
Ø CONVENÇÃO GERAL DAS ASSEMBLEIAS DE
DEUS NO BRASIL (CGADB). Harpa Cristã. RJ: CPAD.
Ø HOUAISS, Antônio. Dicionário
Houaiss da Língua Portuguesa. RJ: Objetiva.
ØMURRAY, Andrew. Humildade: a
beleza da santidade. SP: Publicações Evangélicas Selecionadas.
Ø UNGER, Merril F. Dicionário de
Teologia. SP: Vida Nova.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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