terça-feira, 12 de agosto de 2014

LIÇÃO 06 – A VERDADEIRA FÉ NÃO FAZ ACEPÇÃO DE PESSOAS



Tg 2.1-13.



INTRODUÇÃO
Em nossa cultura, é comum encontramos exemplos de acepção de pessoas em todas as áreas da sociedade. Todavia, toda a humanidade foi criada por Deus e tem origem comum em Adão. Por isso, para Deus não há privilégios, favoritismo ou discriminação de pessoas; contempla a todos com Suas bênçãos. O evangelho é a mensagem que dá respeito e dignidade ao ser humano. Portanto, humilhar e preterir o pobre, ou ao menos favorecido, é condenável diante de Deus (Dt 19.15). Que o Senhor nos ajude, de modo que, nas igrejas não haja distinção de pessoas pela condição econômica, social, de raça ou de sexo. Que aceitamos a todos como filhos de Deus, amados e salvos em Cristo Jesus. Desejo a todos uma excelente aula!! 


I. DEUS CONDENA A ACEPÇÃO DE PESSOAS
A prática da acepção de pessoas é um ato que vai contra a natureza e a essência de Deus, visto que Ele não apenas condena tal pratica (Dt 10.17; Jó 34.19; At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9), como também não quer que a pratiquemos (2 Cr 19.7; Jó 13.10; 32.21; Ml 2.9; Tg 2.9), já que somos participantes de Sua natureza (2 Pe 1.4; Tt 3.5). Assim, vale observar que, tal pratica constitui-se pecado (Tg 2.9).

1. O que é acepção de pessoas.
a) Conceito Etimológico.
Segundo a Champlin, o termo “acepção de pessoas”, que no grego é “prosõpolepteõ”, é traduzido literalmente como “recepção de face”, dando a entender quem “age com parcialidade”. Assim, os termos ‘favoritismo’ e ‘parcialidade’ são os melhores para definirem etimologicamente o referido termo.

b) Conceito Secular.
Segundo a Wikcionário, a acepção de pessoas é a escolha, predileção por alguém; inclinação, tendência em favor de pessoa (s) por sua classe social, privilégios, títulos etc. O Pr. Elinaldo Renovato define como ato de agir com parcialidade, isto é: tomar partido, facção.

c) Conceito Bíblico.
Segundo Orlando Boyer, a acepção de pessoas é a preferência de pessoas ou pessoas, em atenção à classe, qualidade, títulos ou privilégios.

2. Toda e qualquer forma de acepção é, por Deus, condenável.
Dentre as muitas formas e tipos de acepções cometidas pelos homens, citaremos algumas:
 
a) Com relação a raças ou nacionalidades.
Deus não faz acepção de pessoas, não levando em conta a raça ou etnia, nação, povo, ou língua. Pedro, ao chegar à casa de Cornélio, iniciou a pregação, dizendo: “Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; mas que lhe é agradável aquele que, em qualquer nação, o teme e faz o que é justo” (At 10.34,35). Israel rejeitou a salvação de Deus. O Verbo Divino foi enviado (Jo 1.1,9,10), de modo que “...a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; aos que crêem no seu nome” (Jo 1.12). Não tem o mínimo sentido dizer que os negros, os africanos, foram pessoas escolhidas para serem rejeitadas por Deus, como queriam (e querem) alguns adeptos do apartheid, ou da discriminação racial e de cor. João viu “uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro...” (Ap 7.9).

b) Com relação à obediência.
Deus “recompensará cada um segundo as suas obras”, dando “vida eterna aos que, perseverança em fazer o bem, procuram glória, e honra e incorrupção” (Rm 2.6,7); dando, porém, “indignação e ira aos que são contenciosos e desobedientes à verdade e obedientes à iniquidade” (Rm 2.8); e, ainda, dando “glória, porém, e honra e paz a qualquer que faz o bem; primeiramente ao judeu e também ao grego” (Rm 2.10); “porque, para com Deus, não há acepção de pessoas”. A escolha dos judeus foi apenas prioridade e não acepção de pessoas, como lemos em Rm 2.10: “primeiramente ao judeu...”. Na verdade. “Deus amou o mundo...” (Jo 3.16a), e não somente a Israel. O que interessa para Deus é a aceitação de Sua Palavra, com obediência, em qualquer lugar do mundo.

c) Com relação à condição social.
Os vv.2,3 alertam para a discriminação entre pobres e ricos na igreja, tomando o exemplo de alguém que, chegando à congregação, com anel no dedo, vestidos preciosos, é chamado “para cima”, enquanto o pobre é mandado ficar “lá embaixo”. Paulo, exortando aos senhores e patrões de Éfeso, quanto ao tratamento que deveriam dar aos servos, lhes ordenou, com a autoridade do Espírito Santo: “E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando as ameaças, sabendo que o Senhor deles e vosso está no céu e que para com ele não há acepção de pessoas” (Ef 6.9). Senhores e servos ou escravos dividiam a sociedade. Mas o evangelho levou a mensagem do respeito à dignidade humana, como nenhuma outra filosofia o fez. Paulo, em sua carta a Filemom, (Fm v.16), roga que o patrão, crente, receba o escravo fugitivo, mas convertido, não como escravo, mas como irmão em Cristo (vv.15,16). Só um cristão poderia conceber esse comportamento. Hoje, é importante que os patrões crentes tenham seus empregados (domésticos, funcionários, etc.) em respeito e honra, para testemunho do amor de Deus em seus corações.

d) Com relação à distinção por sexo.
Ensinando sobre as mulheres no culto, Paulo diz que “...nem o varão é sem a mulher, nem a mulher, sem o varão, no Senhor. Porque, como a mulher provém do varão, assim também o varão provém da mulher, mas tudo vem de Deus” (1 Co 11.11,12). Em Gl 3.27,28, diz o apóstolo que entre os que foram revestidos de Cristo, “...não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus”. No Antigo Testamento, havia discriminação de sexo, não por orientação de Deus, mas pela influência da cultura oriental. Entre os judeus, a mulher era considerada inferior na vida religiosa. Josefo, historiador judeu, diz que naquele tempo entre os judeus, “uma centena de mulheres não vale mais do que dois homens”. Um rabino disse: “Eu te agradeço porque não nasci escravo, nem gentio, nem mulher”. Machismo puro. Quão diferente é no Cristianismo. Jesus valorizou o trabalho feminino (ver Mt 27.55; Mc 15.41; Lc 8.2,3). Nas epístolas paulinas, temos mulheres em destaque (ver 2 Tm 1.5; Rm 16.117).

e) Com relação à salvação.
Há igrejas que pregam que Deus predestinou pessoas para serem salvas e outras, para serem irremediavelmente perdidas. O teólogo João Calvino ensinava que “é o decreto de Deus... para alguns é preordenada a vida eterna, e para outros, a condenação eterna”. Isso vai de encontro ao caráter de Deus, revelado na Bíblia, que diz, como vimos acima, que Deus não faz acepção de pessoas” (cf. Dt 10.17; Jó 34.19; At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9,25; 1 Pe 1.17).  


II. A VERDADEIRA FÉ NÃO FAZ ACEPÇÃO DE PESSOAS
Tiago inicia o segundo capítulo de sua epístola com uma exortação: Meus irmãos, não tenhais a fé de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor da glória, em acepção de pessoas” (v.1). Ora, o Dr. Davidson enfatiza que no referido texto existe uma inferência que, se assim fazemos, não somos realmente cristãos. E, Champlin comenta que: “a fé como virtude, que consiste de uma qualidade espiritual, na qual mostramos nossa confiança e nossa entrega aos cuidados de Cristo. Essa é a subjetiva, isto é, a outorga pessoal da alma a Cristo, o que confere ao crente uma vida dedicada”. Essa é a fé referida neste versículo, e que normalmente aparece nas páginas do Novo Testamento. Este aspecto da fé é, por exemplo, amplamente comentado em Hebreus 11, conhecido como “a galeria dos heróis da fé”, com poemas ilustrativos. Portanto, a outorga inicial da alma a Cristo é vivida na vida diária e vai sendo aprimorada, porquanto a vida inteira do crente visa uma dedicação sempre crescente a Cristo, quando vamos recebendo sua própria imagem e natureza (Rm 8.29; 2 Co 3.18). Por isso, podemos destacar algumas características da autêntica fé, que são:

1. A autêntica fé é imparcial.
Depois de exemplificar o que ocorria na prática, no momento do culto a Deus (vv.2,3), Tiago faz a seguinte indagação: “Porventura não fizestes distinção dentro de vós mesmos e não vos fizestes juízes de maus pensamentos?” (v.4). Segundo Champlin, é usado em Tiago 2.4, o termo grego “diakrino” que literalmente significa “fazer distinção”, “separar”, mas que no referido texto possui sentido moral significando “exercer duplicidade mental”, tornar-se culpado de discriminação e de preconceitos contra homens que são tão justos como quaisquer outros, favorecendo a outros que, em si mesmos, não são melhores que os demais. No entanto, o Evangelho de Cristo em momento algum nos ensina a agir com parcialidade, favoritismo, discriminação ou preconceito; pelo contrário, Jesus nos ensinou por meio de seu exemplo de vida a jamais agir dessa maneira (Mt 22.16; Mc 12.14; Lc 20.21). E asseverou: “Não julgueis segundo a aparência, mas julgai segundo a reta justiça” (Jo 7.24). O Apóstolo Paulo compreendia, também, este ensino de modo que instruiu o jovem pastor Timóteo, dizendo: “Conjuro-te diante de Deus, e de Cristo Jesus, e dos anjos eleitos, que sem prevenção guardes essas coisas, nada fazendo com parcialidades” (1Tm 5.21). Portanto, cabe agora a nós, imitarmos o exemplo de imparcialidade ensinada por Jesus (Jo 13.15; Cl 2.6; 1 Jo 1.6).

2. A autêntica fé visa realizar a vontade de Deus.
Tiago, posteriormente, mostra nos versículos 5 ao 7 que aqueles crentes estavam cometendo uma grave injustiça social, e portanto, agindo contra a vontade de Deus, pelo fato de eles estarem desonrando o pobre (Sl 41.1; 82.3; Pv 19.17; 28.27; Jr 22.16; Mt 19.21; Gl 2.10). Além disto, e mais grave ainda, eles estavam promovendo a discriminação social dentro da própria igreja. Por isso, se eles realmente desejavam fazer a vontade de Deus deveriam atentar para admoestação de Tiago: “Todavia, se cumprirdes, conforme a Escritura, a lei real” (v.8a). Cumprir a Escritura, ou seja, viver a Palavra de Deus é essencial para que a vontade de Deus seja realizada em nós e por nós (Mt 5.46,47; Jo 3.21; 14.21; Tg 1.22). Champlin diz que ao usar o termo “Escritura”, Tiago estava fazendo uma alusão ao Antigo Testamento e que, neste caso, referia-se ao texto de Lv 19.18. Ele ainda diz que, há evidências que o uso da referida expressão “Escritura” indique algo “obrigatório”, desde os primitivos tempos cristãos. Ora, o judaísmo tinha dez mandamentos centrais, e mais de seiscentos outros mandamentos, alguns dos quais, com a passagem do tempo, adquiriram importância primária, pelo menos para alguns judeus, como os fariseus. Porém, há uma lei real ou régia, que forma a base de toda a verdadeira lei moral, sem a qual a observância da lei não é agradável aos olhos de Deus – e essa lei é a lei do amor. Portanto, guardar a Palavra de Deus é imprescindível para fazermos a Sua vontade, pois Jesus já nos advertiu dizendo: “Nem todo o que me diz: Senhor! Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” (Mt 7.21). É bom atentarmos para esta verdade!

3. A autêntica fé tem como seu alicerce o amor.
Após mostrar a relevância de uma fé imparcial e da finalidade desta fé que é fazer a vontade de Deus, Tiago chega ao ápice de seu ensino dizendo: “...se cumprirdes ...Amarás a teu próximo como a ti mesmo, em fazeis” (v.8b). Tiago, agora, mostra a base e o alicerce da fé que é o amor (Mt 22.40; 1 Co 13.13; Rm 13.8,9; Gl 5.14). Champlin ao comentar o assunto diz que a lei e os profetas, em sua inteireza, se baseavam sobre esses dois preceitos basilares: amor a Deus e amor ao próximo. Amar ao próximo é apenas uma outra forma de amar a Deus, um principio bem ilustrado em Mt 25.35ss. Por essa razão é que Paulo, em Romanos 13.10, mostra que “o amor é o cumprimento da lei”. Essa lei do amor não consiste no afrouxamento das obrigações morais; bem pelo contrário, empresta significado a toda ação moral, exigindo que haja nela certa qualidade espiritual e íntima, a fim de que a obediência não seja meramente ritualista, legalista ou cerimonial. O Senhor Jesus deixou esta verdade explicita ao dizer: “Novo mandamento vos dou: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos amei a vós, assim também deveis amar uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13.34,35). Portanto, conclui-se que quem anda na lei do amor não faz acepção de pessoas!


III. RAZÕES PARA NÃO SE FAZER ACEPÇÃO DE PESSOAS
Dentre as muitas razões para não se praticar a acepção de pessoas, já que podemos enumerar várias razões, citaremos apenas duas que consideramos serem as essenciais, que são:

1. Somos, em Cristo, novas criaturas (2 Co 5.17).
Se somos realmente, hoje, novas criaturas, não podemos mais continuar a agirmos com atitudes de acepção, favoritismo, preconceitos e de discriminação, pois  “fomos sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo ressurgiu dentre os mortos, pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida” (Rm 6.4). Andar em novidade de vida implica não procedermos mais como velhas criaturas que éramos, pois “quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano; e vos renoveis no espírito do vosso entendimento, e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4.22-24). Assim, se somos novas criaturas e estamos andando em novidade de vida, não devemos mais agir com atitudes de pessoas que ainda não passaram pelo processo do novo nascimento (Jo 3.5), “pois já vos despistes do velho homem com seus feitos, e vos vestistes do novo, que se renova para o conhecimento, segundo a imagem daquele que o criou. Aqui não há grego nem judeu, circuncisão nem incircuncisão, bárbaro, cita, servo ou livre, mas Cristo é tudo em todos” (Cl 3.9-11). Em Cristo, como novas criaturas, procedamos sem parcialidade, mas com amor (1 Co 13.5)!


2. Devemos, em Cristo, praticar boas obras (Ef 2.10).
Se hoje fomos alcançados pela graça de Deus é porque houve um propósito, certo? Então, qual seria este propósito? O Senhor Jesus responde a esta questão assim: “Colhem-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Do mesmo modo, toda árvore boa produz bons frutos, e toda árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa produzir maus frutos, nem a árvore má produzir frutos bons” (Mt 7.16-18). O que você é hoje? Uma árvore boa ou uma árvore má? Por certo, hoje, em Cristo, somos árvores boas! Então, você e eu, sabemos o que devemos produzir, não é mesmo!? O apóstolo Paulo compreendia o ensino do Mestre, por isso disse: “Porque outrora éreis trevas, mas agora sois luz no Senhor. Andai como filhos da luz” (Ef 5.8). Somos salvos pelo Senhor Jesus para, como boas árvores e como filhos da luz, praticarmos boas obras; pois ele disse: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16).  Paulo, por sua vez, disse: “Portanto, como eleitos de Deus, santos e amados, revesti-vos de compaixão, de benignidade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros, perdoai-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outrem. Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós. E, sobre tudo isto, revesti-vos de amor, que é o vínculo da perfeição” (Cl 3.12-14). Portanto, como boas árvores, não devemos produzir a acepção de pessoas, nem o favoritismo ou a parcialidade, muito menos a discriminação ou o preconceito; mas, e principalmente, o amor que gera em nós a perfeição de Deus e glorifica o nome do Senhor!    


CONCLUSÃO
Diante do exposto aprendemos que a acepção de pessoas por condição social, econômica, familiar ou de outra ordem é comportamento incompatível com o caráter inclusivo do Evangelho. Jesus veio trazer salvação, amor e paz para todos os que crêem, em qualquer nação, raça, ou povo do mundo. Que Deus nos abençoe, não permitindo a discriminação de pessoas tanto em nosso meio como fora dele. Portanto, para combater a acepção de pessoas, precisamos atentar para três coisas: amar a todos igualmente (inclusive os não crentes); tratar a todos com equidade e mostrar que os preconceitos são contrários a Deus. Que Deus em Cristo vos Abençoe! Amém!! 



REFERÊNCIAS
Ø  CHAMPLIN, Russell Norman, O Novo Testamento Interpretado versículo por versículo. HAGNOS.
Ø  DAVIDSON, Francis. O Novo Comentário da Bíblia. VIDA NOVA.
Ø  LIMA, Elinaldo Renovato de. Lições Bíblicas. (1º Trimestre de 1999). CPAD.
Ø  Site: http://pt.wiktionary.org/wiki/acep%C3%A7%C3%A3o



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