sábado, 18 de abril de 2020

LIÇÃO 03 – A ELEIÇÃO E PREDESTINAÇÃO (SUBSÍDIO)





Ef 1.4-12



INTRODUÇÃO
Nesta lição estudaremos sobre a eleição e a predestinação, duas doutrinas de suma importância, que diz respeito a soteriologia; veremos o que significam esses termos à luz das Escrituras; e quais as principais distorções interpretativas sobre a eleição e predestinação e sua respectiva refutação.


I. O QUE É ELEIÇÃO
1. Definição etimológica e exegética.
O termo eleição advém do latim: “electionem” que quer dizer: “ato de eleger, escolha” (ANDRADE, 2000, p. 133). Atrelado a eleição encontramos os termos gregos: “eklektós”, que significa literalmente: “escolhido, eleito” (formado de ek, “de”, e legõ, “juntar, escolher”), e é usado para designar: a) Cristo, o escolhido de Deus, como Messias (Lc 23.55), como a principal pedra de esquina (1Pe 2.4,6); b) os anjos (1Tm 5.2); e, c) os crentes (Rm 8.33; Cl 3.12; 2Tm 2.10; Tt 1.1; 1Pe 1.2; 2.9). Como também o termo: “eklegõ”, “escolher, selecionar, eleger, escolher para si mesmo”, não implicando necessariamente a rejeição do que não é escolhido, mas escolher com as ideias subsidiárias de generosidade, favor ou amor (Jo 6.70; 13.18; 15.16,19; 1Co 1.27,28; At 13.17; 15.7; Ef 1.4; Tg 2.5) (VINE, 2002, pp. 584,608 – acréscimo nosso).

2. Definição teológica.
De acordo com Thiessen (2009, p. 246) eleição é: “o ato soberano de Deus em graça, pelo qual Ele escolheu em Jesus Cristo para a salvação todos aqueles que de antemão sabia que O aceitariam. Esta é a eleição em seu aspecto redentor”. Em termos práticos a eleição bíblica diz respeito a verdade que: “[…] pela presciência divina, Deus soube quem iria crer e perseverar em Cristo desde a eternidade e elegeu-os conforme a sua vontade e, para esses eleitos, determinou propósitos específicos” (1Pe 1.2) (BAPTISTA, 2020, p. 34). A eleição é a escolha graciosa feita por Deus daqueles que estão em Cristo para formarem o Seu povo (Ef 1.4).


II. A ELEIÇÃO À LUZ DAS ESCRITURAS
1. A eleição é cristocêntrica.
Fora de Cristo não existe eleição para nenhuma pessoa; do início ao fim a bênção de Deus é realizada “em Cristo” como vemos o apóstolo declarar: a) nos abençoou em Cristo (Ef 1.3); b) nos elegeu nEle (Ef 1.4); c) nos predestinou para filhos por Jesus Cristo (Ef 1.5); d) nos fez agradáveis a si no Amado (Ef 1.6); e) em quem temos a redenção (Ef 1.7); f) nEle fomos feitos herança (Ef 1.11). A expressão paulina “em Cristo” aparece 106 vezes nas suas epístolas. Somadas às suas equivalentes “no Senhor e nEle”, o número é 160 vezes (36 das quais apenas em Efésios) (STAMPS, 1995, p. 1807). Ficando claro que, estar em Cristo é a condição para fazer parte do povo eleito (Rm 8.1,2910,39; 1Pe 2.9 ). Todos estão entre os não-eleitos até que estejam nEle (Cristo). Estar em Cristo é estar em união redentora com Ele; e para estar nEle a condição é: a) fé (Jo 1.11,12; 3.18; At 16.31; Rm 1.16,17; 5.1; Gl 3.26; 5.6; Ef 2.8; Cl 2.12;); e, b) arrependimento (Mc 1.15; At 2.38; 3.19; 17.30).

2. A eleição é corporativa.
As Escrituras sempre que tratam da doutrina da eleição, sempre usam o plural: “nos elegeu” (Ef 1.4). Na epístola as Efésios Paulo refere-se aos eleitos sempre como um conjunto, como: a) um corpo (Ef 1.23; 2.15,16; 3.6; 4.4,12,16,25; 5.23,30); b) uma família (Ef 2.19; 3.15); e, c) um edifício (Ef 2.20-22). De modo que o foco não são indivíduos, mas o grupo, a Igreja, formada por todos aqueles que creram em Cristo e permanecerão até o fim (Ef 1.22; 3.10; 5.23-25,27,29,32).

3. A eleição é segundo a presciência de Deus.
A eleição ou escolha de Deus não é arbitrária, de forma que alguns sejam destinados à salvação e outros à perdição, sem levar em conta a disposição de cada indivíduo, como Paulo afirma: “[…] os que dantes conheceu, também os predestinou [...] (Rm 8.29). O detalhe é que estes que Deus conheceu, do grego: “proginosko” que significa: “ato de saber de  antemão”, conforme a construção da oração paulina, são: “aqueles que amam a Deus” (Rm 8.28), ou seja, Deus previu ou pré conheceu aqueles que o amariam e continuariam a amá-lo até o fim, e os predestinou a serem feitos conforme a imagem de Cristo. O apóstolo Pedro corrobora esta doutrina asseverando que: “somos eleitos, segundo a presciência de Deus Pai” (1Pe 1.2). Fica claro que a presciência vem antes da eleição  e da subsequente predestinação (DANIEL, 2017, p. 431 – acréscimo nosso). Os eleitos são constituídos, não por decreto absoluto, mas por aceitação das condições do chamado de Deus (Jo 3.16; Rm 10.13).


III. FALSAS CONCEPÇÕES A RESPEITO DA ELEIÇÃO
1. Eleição incondicional.
Para os que defendem este ponto de vista, a escolha divina se dá a um grupo seleto de forma incondicional, ou seja, que Deus desde a eternidade passada, já determinou para a salvação, sendo os demais predestinados por Deus à condenação eterna. No entanto, esta doutrina não é ensinada nas Escrituras (Ez 18.23,32; 33.11; 1Tm 2.3,4; 2Pe 3.9), que mostra claramente que Deus é bom para com todos (Sl 145.9), é inteiramente imparcial (Tg 3.17), não faz acepção de pessoas (At 10.34),  e deseja que todos sejam salvos (1Tm 2.3,4). Podemos então dizer que: todos os homens são igualmente, dignos de Sua condenação e, igualmente, indignos de Sua graça (HUNT, 2015, p. 354 – acréscimo nosso).

2. Eleição individual.
A eleição individual só aparece na Bíblia em relação a “chamados específicos” de pessoas para serviços diversos (Is 45.1-4). Deus sabendo que determinadas pessoas lhe seguirão e segundo os propósitos que Ele tem em vista serem realizados, escolhe alguns indivíduos para exercerem funções de relevância em seu Reino. Entre outros podemos citar: a) Jeremias (Jr 1.5); e, b) Paulo (At 9.15). Essa chamada é um ato soberano de Deus (Sl 105.26; 43.13; Sl 78.70-72), que escolhe, nomeia, capacita e envia (Mt 9.37,38; 20.1-14; Lc 10.2; Jo 15.16; Ef 4.8-12) a quem Ele quer (Mc 3.13,14). Vale salientar que, esta escolha de Deus, também está diretamente ligada a livre escolha de quem por ele é chamado.


IV. O QUE É PREDESTINAÇÃO
1. Definição etimológica e exegética.
O vocábulo “predestinação” vem do grego: “prooridzo”, que significa: “assinalar diante mão”. A preposição grega: “pró” trás a ideia de: “uma atividade feita de antemão”, já a expressão: “oridzo” quer dizer: “dividir com fronteira, definir” (SILVA, 1989, pp. 11,12 – acréscimo nosso). De modo que predestinação significa: “destinar com antecipação”. À luz do Novo Testamento, o termo equivalente a predestinação ocorre seis vezes, traduzido por: a) ordenou antes (1Co 2.7); b) anteriormente determinado (At 4.28); e, c) destinar (Rm 8.28,30; Ef 1.5,11). Com o passar do tempo, o vocábulo predestinação tornou-se sinônimo de “decreto divino” e com este sentido, passou a indicar um conjunto de palavras e expressões com os seguintes resultados: a) determinado conselho (At 2.23); b) beneplácito (Ef 1.9); e, c) propósito da Sua vontade (Ef 1.11) (SILVA, 1989, pp. 11,12 – acréscimo nosso).

2. Definição teológica.
Do ponto de vista teológico predestinação diz respeito a: “propósito determinado por Deus desde a eternidade para os que estão em Cristo”. Desse modo, é bom que se destaque que embora estejam intimamente relacionadas, eleição e predestinação não são uma e mesma coisa. Eleição significa escolha, enquanto predestinação tem a ver com o fim dado aos escolhidos. Eleição é o ato pelo qual Deus escolhe homens para si mesmo; predestinação é o ato determinativo de Deus quanto ao destino dos que Ele escolheu. Predestinação, na Bíblia, não tem a ver com escolha, mas com o destino dado àqueles que já foram escolhidos (DANIEL, 2017, pp. 424,425 – grifo nosso).

3. O objetivo da predestinação.
Podemos afirmar à luz dos ensinos do apóstolo Paulo, que três são os objetivos da predestinação bíblica em relação aos salvos em Cristo: a) serem filhos de adoção (Ef 1.5); b) serem coerdeiros com Cristo (Ef 1.11); e, c) serem conforme a imagem de Cristo (Rm 8.29). Predestinação à luz da Bíblia, não tem por objeto a fé (não define se alguém vai crer ou não) […] trata-se da definição divina daquilo em que aqueles que estão em Cristo se tornarão ao final (DANIEL, 2017, p. 424).


V. FALSAS CONCEPÇÕES A RESPEITO DA PREDESTINAÇÃO
A problemática a respeito da predestinação não é se ela existe ou não, como alguns pretensiosamente querem fazer pensar, pois a Bíblia deixa muito claro que a predestinação é uma doutrina bíblica (Rm 8.29,30; Ef 1.5,11), de modo que o ponto a ser considerado é como ocorre essa predestinação (OLIVEIRA, 2016, p. 17– acréscimo nosso). Vejamos, portanto, algumas falsas concepções a respeito:

1. Dupla predestinação.
A predestinação dentro desta falsa perspectiva seria: “o decreto eterno de Deus, pelo qual […] alguns são predestinados à vida eterna, e outros à condenação eterna […]”, segundo esta afirmativa, implica que: “aqueles, portanto, a quem Deus ignora, Ele reprova, e por nenhuma outra causa, senão porque Ele tem prazer de os excluir da herança que Ele predestina para seus Filhos [...]”. Tal doutrina deve ser rejeitada, visto que isso é no mínimo uma calúnia contra o caráter de Deus, dizer que rejeitar pessoas O agrada! (HUNT, 2015, pp. 390,391 – acréscimo nosso), como também contraria frontalmente as Escrituras (1Tm 2.4; ver  Jo 3.16,17; 6.37). A Bíblia não fala em lugar algum sobre predestinação dupla. Ela só fala de predestinação em um sentido: em relação aos salvos em Cristo, ou seja, o propósito determinado por Deus desde a eternidade para seu povo (Ef 1.5,11; Rm 8.29) (DANIEL, 2017, pp. 423,424).

2. Predestinação fatalista.
Fatalismo é uma crença distorcida da doutrina da predestinação, uma vez que ela atribui as ações e escolhas do homem ao “determinismo” de Deus. De modo que, se Deus não o eleger e predestinar incondicionalmente, embora querendo ser salvo não o poderá ser, pois lhe é negado essa graça. Vieram ao mundo, recebem benefícios naturais, ouvem o evangelho, mas não poderão ser salvos, uma vez que Deus decretou de antemão, a perdição deles. Tal ensino não tem base nas Escrituras, uma vez que a predestinação bíblica não é uma manipulação divina das escolhas do homem, isso o faria um fantoche, sem capacidade de escolha e de vontade, o que não se harmoniza com várias passagens bíblicas. A Bíblia deixa claro que nós podemos agir livremente, ao invés de sermos robôs programados apenas para seguir comandos pré-determinados (Gn 4.6,7; Js 25.15; Dt 28.1,15; 30.19; Jr 4.1,2; Sl 119.30; 1Pe 2.16; 5.2; Fm v.14; Gl 5.13).


CONCLUSÃO
A eleição e predestinação é um tema fundamental para a compreensão da doutrina da salvação, que percorre as Escrituras Sagradas do começo ao fim. Um Deus soberano que a todos concede o favor da salvação.



REFERÊNCIAS
Ø  ANDRADE, Claudionor de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø  BAPTISTA, Douglas. A Igreja Eleita: Redimida pelo Sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo da Promessa. CPAD.
Ø  DANIEL, Silas. Arminianismo e a Mecânica da Salvação: Uma exposição Histórica, Doutrinária e Exegética Sobre a Graça de Deus e a Responsabilidade Humana. CPAD.
Ø  HUNT, Dave. Que amor é este? A falsa representação de Deus no Calvinismo. REFLEXÃO.
Ø  OLIVEIRA, Ebenezer. A Doutrina da Predestinação em Calvino e o Caráter Moral de Deus. EDITORA BEREIA.
Ø  SILVA, Severino Pedro da. A Doutrina da Predestinação. CPAD.
Ø  STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø  THIESSEN, Clarence Henry. Palestras em Teologia Sistemática. IBR.


Por Rede Brasil de Comunicação.



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