At
11.19-30
INTRODUÇÃO
Nesta
lição iremos aprender sobre missão, a obra de expansão na proclamação do
evangelho; apontaremos a realização da missão local e transcultural no livro de
Atos; ressaltaremos sobre a atuação da Igreja em Jerusalém no envio e apoio ao
trabalho missionário em Antioquia.
I. MISSÃO: A EXPANSÃO DO EVANGELHO
De
acordo com Gonçalves (2025, p. 135), o capítulo 11 de Atos “trata de um assunto
importantíssimo para a história do cristianismo: o início da missão
transcultural da Igreja. Até esse ponto do livro de Atos, o evangelho estava
circunscrito a Jerusalém e as suas adjacências. Nesse ponto da missão da
Igreja, os “confins” da terra começam a ser alcançados. Dizendo isso de outra
forma, a igreja dá início à sua missão transcultural”.
1.
Missão: uma vocação da Igreja.
De
acordo com o dicionário online de Houaiss, “missão” é a
incumbência que alguém deve executar a pedido ou por ordem de outrem; encargo;
comissão ou conjunto de pessoas a quem se confere uma tarefa, frequentemente em
outro local ou país; trabalho dos missionários. Segundo Wycliffe (2007, p.
1356), em relação a missão da Igreja, “Isaías profetizou que Deus encarregaria
o Messias de ser a luz para as nações, a fim de que sua salvação pudesse
alcançar até os confins da terra (Is 49.6; 42.1-6). Quando o Senhor Jesus veio,
afirmou claramente: “Ainda tenho outras ovelhas que não são deste
aprisco; também me convém agregar estas, e elas ouvirão a minha voz, e haverá
um rebanho e um Pastor” (Jo 10.16). Ele ensinou aos discípulos que o
evangelho deveria ser pregado ao mundo todo como testemunho a todas as nações e
a todas as gentes”.
2.
A Grande Comissão.
Do
latim “comissionem” [encargo], a Grande Comissão é a incumbência
de se evangelizar o mundo que o Senhor Jesus Cristo entregou aos seus
discípulos. A Grande Comissão envolve um tríplice encargo: evangelizar,
discipular e batizar (Andrade, 2000, p. 85). Segundo Geisler (2010, p. 64), “É
possível a alguém conhecer sobre o céu pela observação da revelação geral, mas
ele não pode saber como se chega até este céu, pois “em nenhum outro
[além de Cristo] há salvação, porque também debaixo do céu nenhum outro nome
há, dado entre os homens, pelo qual devamos ser salvos” (At 4.12). Para
serem salvas, as pessoas precisam confessar que “Jesus é o Senhor” e crer no
seu coração que “Deus o ressuscitou dos mortos” (Jo 17.3; Rm
10.9). Só que elas não podem clamar por alguém de quem nunca ouviram falar, e “como
ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10.14). Dessa forma, a pregação do
evangelho para o mundo todo é a Grande Comissão do cristão (Mt 28.18-20)”.
3.
A perseguição como instrumento missionário.
A
perseguição em Jerusalém após o martírio de Estêvão (At 6.8-14; 7.58-60) não
silenciou os cristãos, pelo contrário, os espalhou, levando o evangelho a
outros lugares: “Mas os que andavam dispersos iam por toda parte
anunciando a palavra” (At 8.4). E assim o fizeram, levando a Palavra de
Deus a novos territórios (At 8.1; At 11.19). Henry (2008, p. 81 – acréscimo
nosso) diz que “eles, lembrando-se da regra de nosso Mestre quando,
pois, vos perseguirem, nesta cidade, fugi para outra” (Mt 10.23), se
dispersaram por comum acordo pelas terras da Judéia e da Samaria... [eles] entenderam
que essa grande perseguição era indicação da providência para que eles se
espalhassem. Eles fizeram um trabalho muito bom em Jerusalém, e agora estava na
hora de pensar nas necessidades de outros lugares. O Mestre lhes dissera que
seriam suas testemunhas primeiramente em Jerusalém, e depois em toda a Judéia e
Samaria e até aos confins da terra (At 1.8)”. Assim, a Igreja aprende que as
adversidades podem servir para o cumprimento da missão (Rm 8.28).
II. A MISSÃO LOCAL E TRANSCULTURAL
A
missão da proclamação do Evangelho foi ordenada pelo Senhor Jesus, conforme
Marcos 16.15: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura”.
Os discípulos assim o fizeram, seguindo a orientação do Mestre de serem “testemunhas
tanto em Jerusalém como em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra”
(At 1.8). Aqui aponta para a missão, tanto no seu aspecto local, mas também
transcultural. Vejamos:
1.
Missão local.
De
acordo com Beacon (2006, p. 208), Atos 1.8 indica as três principais divisões
do livro de Atos: 1) O testemunho em Jerusalém (caps. 1-7); 2) O
testemunho em toda a Judéia e Samaria (caps. 8 -12); e por fim, 3) O
testemunho no mundo gentio
(caps. 12-28). Assim, a Igreja seguiu a sua missão, dada pelo próprio Senhor,
iniciando a proclamação do Evangelho de forma local, em Jerusalém (At 2.14; At
2.22; At 3.12; At 3.19; At 4.2; At 5.28; At 5.42; At 6.7; At 7.2).
Semelhantemente, os capítulos 8 a 12 descrevem a expansão dos testemunhos por
toda a Judéia e Samaria (At 8.1; At 8.4,5; At 8.14,15; At 9.31). No capítulo 8,
Filipe vai em direção ao Norte, até Samaria, e então para o Sul, em direção a
Gaza (o Sul da Judéia). No capítulo 9, Saulo é convertido e Pedro evangeliza
Lida e Jope (a oeste da Judéia, perto do Mediterrâneo). No capítulo 10, Pedro
tem uma visão em Jope e ministra em Cesaréia — ambas na costa do mar
Mediterrâneo (Cesaréia era a capital romana da Judéia). No capítulo 11, Pedro
se apresenta em Jerusalém e uma igreja é fundada em Antioquia, na Síria (fora
da Judéia e Samaria). 2.
Missão transcultural.
Atos
11.19,20 diz que: “os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu
por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não
anunciando a ninguém a palavra senão somente aos judeus. 20E havia entre eles
alguns varões de Chipre e de Cirene, os quais, entrando em Antioquia,
falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus”. “Os cristãos
dispersos viajaram para o norte até a Fenícia (as cidades de Tiro e Sidom), o
Líbano moderno, na costa norte da Palestina, Chipre — a maior ilha da
extremidade leste do mar Mediterrâneo — e Antioquia. Esta cidade, fundada em
300 a.C., tinha se tornado a terceira maior cidade do Império Romano, superada
apenas por Roma e Alexandria” (Beacon, 2006, p. 289). De acordo com Gonçalves
(2025, p. 140) “praticamente todas as denominações do cristianismo histórico e
do movimento pentecostal lançaram-se na missão transcultural”.
III. JERUSALÉM: UMA IGREJA QUE ENVIA
E APOIA OS MISSIONÁRIOS
1.
O envio de Barnabé a Antioquia.
Antioquia
teve uma grande relevância no início da missão transcultural, ao ponto de que
um “grande número creu e se converteu ao Senhor. E chegou a fama destas
coisas aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém; e enviaram Barnabé até
Antioquia” (At 11.21,22). De acordo com Beacon (2006, p. 289), “a fama
do que estava acontecendo em Antioquia chegou aos ouvidos da igreja que estava
em Jerusalém. Preocupados quanto a esta evangelização dos gentios estar de
acordo com a ordem divina, os líderes enviaram Barnabé até Antioquia. Isto pode
implicar que ele verificaria o trabalho na Fenícia no seu caminho para o
Norte”. “Barnabé ficou maravilhosamente satisfeito quando chegou e viu que o
evangelho ganhava terreno, e que alguns dos seus compatriotas, homens de Chipre
(de cujo pais ele era - At 4.36), foram os instrumentos para isso” (Henry,
2008, p. 120).
2.
Cooperação ministerial: a busca por Paulo.
Havia,
a partir de então, na nova igreja em Antioquia, a necessidade de acompanhamento
pastoral e missionário, principalmente, para o ensino da Palavra. Diante disso,
Wiersbe (2008, p. 333) aponta que “Barnabé, cheio do Espírito, sabia que Deus
comissionara Paulo para pregar o evangelho para os gentios (At 9:15,27)”.
Segundo Henry (2006, p. 121), esta atitude mostra que Barnabé era o tipo do
homem que: 1) Se empenhou muito para tirar da obscuridade um homem útil
e ativo; e, 2) Trouxe Saulo a Antioquia, o qual, sendo o principal
portador da palavra (At 14.12) e provavelmente pregador mais popular, teria a
probabilidade de ofuscá-lo, excedendo-o em brilho. Aqui aprendemos que, se
Deus, por sua graça, nos inclina a fazer algo, de acordo com a habilidade que
temos, devemos nos alegrar se outros que tenham uma capacidade maior, também
tenham oportunidades maiores e façam melhor do que podemos fazer.
3.
A formação de uma base missionária em Antioquia.
“A
obra de implantar igrejas precisa não apenas da presença dos missionários
implantadores, mas também do suporte que lhes é dado. Sem apoio ao trabalho
missionário, este está fadado ao fracasso. Esse fato era de conhecimento da
igreja de Jerusalém” (Gonçalves, 2025, p. 146). Todo o apoio foi dado a Igreja
em Antioquia, de forma que Paulo e Barnabé desenvolveram um importante trabalho
de ensino naquela Igreja: “E partiu Barnabé para Tarso, a buscar Saulo;
e, achando-o, o conduziu para Antioquia. E sucedeu que todo um ano se reuniram
naquela igreja e ensinaram muita gente” (At 11.25,26). A Igreja em
Antioquia, influenciada pela sua origem, logo também envia missionários (At
13.1-3). Uma igreja bíblica têm missões em seu coração! “Esse foi o modelo em
Antioquia e deve ser, portanto, o modelo hoje “ (Gonçalves, 2025, p. 147).
4.
A solidariedade missionária: o sustento aos irmãos necessitados.
A
missão não se resume apenas ao envio e proclamação do Evangelho, mas também ao
cuidado prático com as necessidades do povo de Deus. Em Atos 11.27-30, vemos
que a Igreja em Antioquia, instruída pelos profetas que anunciaram uma grande
fome, enviou ajuda financeira aos irmãos da Judéia. Esse gesto demonstra que a
obra missionária também envolve a partilha de recursos e o suporte material.
Segundo Stott (2003, p. 209), “o cristianismo sempre se caracterizou pela
compaixão e pela solidariedade com os necessitados, pois a missão da Igreja é
integral, cuidando do corpo e da alma”. Assim, aprendemos que igrejas
verdadeiramente missionárias não apenas pregam, mas também repartem, sustentam
e demonstram amor prático como testemunho do Evangelho (Tg 2.15,16; 1Jo 3.17,18).
CONCLUSÃO
O
relato de Atos 11.19–30 mostra-nos que a Igreja de Jerusalém (e posteriormente,
também a Igreja de Antioquia) possuía um caráter missionário marcado por
evangelização, envio e discipulado dos novos cristãos. Esse modelo continua
sendo a base da missão cristã em todos os tempos. Somos chamados a viver uma fé
que ultrapassa fronteiras, sustenta obreiros e forma discípulos.
REFERÊNCIAS
Ø EARLE, Ralph et. al. Comentário
Bíblico Beacon – Vol. 7, CPAD.
Ø GEISLER, Norman. Teologia
Sistemática. CPAD.
Ø GONÇALVES, José. A Igreja em
Jerusalém. Doutrina, Comunhão e Fé. CPAD.
Ø HENRY, Matthew. Comentário
Bíblico Matthew Henry – Vol. 6. CPAD.
Ø PFEIFFER, Charles F. et al. Dicionário
Bíblico Wyclliffe. CPAD.
Ø WIERSBE, Warren W. Comentário
Bíblico Novo Testamento. Geográfica Editora.
Ø STAMPS, Donald C. Bíblia de
Estudo Pentecostal. CPAD.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
Nenhum comentário:
Postar um comentário