sábado, 17 de novembro de 2018

LIÇÃO 07 – PERDOAMOS PORQUE FOMOS PERDOADOS


  




Lc 18.21-35





INTRODUÇÃO
Respondendo um questionamento de um dos discípulos sobre o perdão, Jesus contou a parábola denominada de “credor incompassivo”, cujo ensinamento principal foi de que assim como Deus perdoa as nossas iniquidades, de forma semelhante devemos exercer misericórdia de forma ilimitada para com aqueles que pecam contra nós.


I. INFORMAÇÕES A RESPEITO DESTA PARÁBOLA
1.1 Curiosidades.
Esta parábola destaca-se entre as demais pelas seguintes características: a) ela só é encontrada no Evangelho de Mateus (Mt 18.23-35); b) está entre as classificadas “parábolas do Reino” (Mt 18.23); e, c) é uma das poucas parábolas que trata acerca do perdão (Mt 18.35), a outra está em Lucas 7.41,42.

1.2 Pano de fundo.
O pano de fundo que levou Jesus a contar esta parábola, foi para responder uma pergunta do apóstolo Pedro. Ele queria saber quantas vezes tinha que perdoar esse irmão: “Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei?” (Mt 18.21-b). O Talmude judaico baseado em Amós caps 1 e 2, ensinava que não se devia perdoar ao ofensor além de três vezes (BEACON, 2008, p. 131 – acréscimo nosso). Talvez querendo mostrar-se generoso, Pedro sugeriu: “Até sete?” (Mt 18.21-c), quem sabe aproveitando uma fala de Jesus em outra ocasião, quando disse que devia se perdoar o irmão até “sete vezes no dia” (Lc 17.3,4). No entanto, a resposta de Jesus foi extremamente confrontadora a perspectiva humana sobre o perdão, mostrando que não deve haver limites para exercê-lo: “Não te digo que até sete; mas, até setenta vezes sete” (Mt 18.22). Se sete é um número que representa completude, setenta vezes sete deve ser plenitude absoluta (BOYER, 2009, p. 383).


II. OS PERSONAGENS DA PARÁBOLA
Embora a narrativa parabólica seja fictícia os personagens são figuras presentes do cotidiano de Israel. Vejamos quais os personagens desta parábola:

2.1 O rei (Mt 18.23).
Jesus iniciou esta parábola falando do primeiro personagem: “o reino dos céus pode comparar-se a um certo rei […]” (Mt 18.23-a). É dito que este rei resolveu ajustar as contas com seus servos, a quem ele havia emprestado um dinheiro (Mt 18.23); que ele era generoso (Mt 18.26,33); mas, também justo (Mt 18.32-34).

2.2 Um servo (Mt 18.23,24).
Quando o rei iniciou o trabalho de prestação de contas entre os seus servos “foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos” (Mt 18.24-b). Sua dívida era muito grande visto que “um talento era o valor equivalente a seis mil denários, o que equivalia a seis mil dias úteis de trabalho ou trinta anos de trabalho. Um único talento era quase a renda de uma vida inteira” (ROBERTSON, 2011, p. 209). Na parábola é dito que ele não tinha com que pagar (Mt 18.25-a). Diante disso, o rei, valendo-se da Lei de Moisés (Êx 22.3; Lv 25.39,47), ordenou que este servo e toda a sua família fossem seus servos a fim de quitar a dívida (Mt 18.25). Ao saber que ele toda a família serviriam ao rei, este servo prostrou-se diante do rei e apelou para a sua misericórdia, rogando-lhe que lhe desse mais tempo para salvar a dívida completamente (Mt 18.26). Diante do pedido do servo, o rei, movido de íntima compaixão, decidiu perdoá-lo da dívida: “Então o senhor daquele servo, movido de íntima compaixão, soltou-o e perdoou-lhe a dívida” (Mt 18.27). Sobre este servo é dito que era apto a pedir misericórdia, mas não de exercer misericórdia (Mt 18.26,33). Por causa dessa atitude ele é chamado pelo rei de “servo malvado” (Mt 18.32a).

2.3 O conservo (Mt 18.28).
Ao sair da presença do rei com a sua dívida perdoada, o servo encontrou-se com um dos seus  conservos (Mt 18.28); e, ao abordá-lo cobrou lhe os “cem dinheiros” ou “cem denários”, que este lhe devia: “e, lançando mão dele, sufocava-o, dizendo: Paga-me o que me deves” (Mt 18.28-b). O denário equivalia a um dia de trabalho (Mt 20.2) (CHAMPLIN, 2004, p. 474). O conservo diante da cobrança se humilhou e rogou misericórdia para poder saldar o seu débito “[...] prostrando-se a seus pés, rogava-lhe, dizendo: Sê generoso para comigo, e tudo te pagarei” (Mt 18.29). No entanto, seu pedido por generosidade foi negado, e ele foi sentenciado a prisão, até que quitasse a dívida (Mt 18.30). Embora estivesse em seu poder perdoar o conservo, este homem o negou: “Ele, porém, não quis […]” (Mt 18.30). Vejamos abaixo as diferenças entre o servo e o conservo:


SERVO
CONSERVO
Foi chamado pelo rei para prestar contas (Mt 18.23,24)
Foi abordado com violência pelo seu senhor (Mt 18.28)
Devia dez mil talentos (Mt 18.24)
Devia cem dinheiros (Mt 18.28)
Prostrou-se para pedir tempo para pagar e foi perdoado (Mt 18.25-27)
Prostrou-se para pedir tempo para pagar e foi preso (Mt 18.29,30)

  
III. ENTENDENDO QUEM OS PERSONAGENS REPRESENTAM
Nem sempre os personagens de uma parábola tem significação. No entanto, nesta, percebemos que Cristo lhes dá um sentido. Vejamos:

3.1 Deus é o rei (Mt 18.35).
Embora nem sempre nas parábolas cada personagem tenha um significado, nesta especificamente, fica claro que o “rei” é uma figura de Deus, como o próprio Jesus aplica (Mt 18.35). O rei é o principal chefe ou governante de uma tribo ou nação” (CHAMPLIN, 2004, p. 617). O título de rei, nas Escrituras, tanto é aplicado ao Pai (Sl 10.16; 145.13; Jr 10.10) como ao Filho (Ap 17.14; 19.16). O monarca desta parábola retrata o caráter divino pois é apresentado como um rei que: (a) se compadece: “movido de íntima compaixão” (Ef 2.4,5; Tt 3.5; 1 Pd 2.10; Sl 103.13; Rm 12.1); (b) liberta: “soltou-o” (Ef 1.7; 1 Pd 1.18,19; Lv 17.11); e, (c) perdoa: “e perdoou-lhe a dívida” (Is 55.7; 1 Jo 1.9). Sua bondade em perdoar o servo de sua dívida e sua justiça e juízo de puní-lo por negar misericórdia ao conservo retratam perfeitamente o caráter divino que está disposto a perdoar o pecador arrependido (Mt 9.13; Lc 5.32; Rm 11.32), mas também de punir ao pecador perdoado que se recusa liberar perdão (Mt 6.15; 18.34,35; Mc 11.26).

3.2 Nós somos os servos (Mt 18.23,35).
Os servos do rei são todos aqueles que se submeteram a Cristo como Senhor e Salvador. Isto fica evidente no início da parábola, quando Jesus está falando do Reino de Deus aos súditos desse Reino, ou seja, seus discípulos (Mt 18.23). Assim como este servo tinha uma dívida da qual não tinha condições de pagar ao rei e clamando por misericórdia foi perdoado, ele retrata a nossa condição de pecadores diante de Deus (Rm 3.23) que somente por Sua imensurável graça poderíamos ser restaurados, pois o pecado é uma dívida que o homem contrai, para a qual o único recurso é o perdão (Cl 2.13; 1 Jo 1.9; 2.12).

3.3 O conservo é o nosso irmão (Mt 18.28,35).
O conservo da parábola é o nosso irmão, isto fica claro, a luz do contexto, ou seja, do texto que precede a parábola, quando vemos Jesus falar sobre o tratamento que se deve a “um irmão que peca contra o outro” (Mt 18.15). O rei perdoou o servo a sua dívida e esperava que ao menos o servo perdoado pudesse fazer o mesmo com o seu conservo, por isso disse “Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu companheiro, como eu também tive misericórdia de ti?” (Mt 18.33). Não podemos agir com o nosso irmão diferente da forma como Deus age conosco (Lc 10.27). Isto Jesus ensinou quando disse “e, quando estiverdes orando, perdoai, se tendes alguma coisa contra alguém, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas” (Mc 11.25). O apóstolo Paulo também firmou: “como Cristo vos perdoou, assim fazei vós também” (Cl 3.13; Ef 4.32); os demais apóstolos transmitiram o mesmo ensino (1 Pd 2.21; 1 Jo 1.7; 4.7).


IV. O PRINCIPAL ENSINAMENTO DESTA PARÁBOLA: O PERDÃO
Mateus registrou os ensinamentos de Jesus mais diretamente relacionados com a conduta dos seus discípulos como membros do Reino trazido à terra por Ele. O reino dos céus tem valores essencialmente diferentes dos que caracterizam as
instituições terrenas e as organizações seculares. A sociedade dos perdoados fica sem sentido, se os que são perdoados não perdoam (TASKER, 2006, p. 138). O verbo “perdoar” significa: “renunciar a punir; desculpar; poupar; ver com bons olhos” (HOUAISS, 2001 p. 2185). Sobre o perdão, Jesus ensinou que:

4.1 O perdão não deve ser limitado (Mt 18.21,22).
A resposta de Jesus a pergunta de Pedro quantas vezes se devia perdoar o irmão ofensor com a sugestão de “até sete” (Mt 18.21-c), teve como resposta do Mestre “até setenta vezes sete” (Mt 18.22), o que significa dizer: de forma ilimitada. Assim como Deus amou o mundo de maneira ilimitada (Jo 3.16), devemos reproduzir este amor nos nossos relacionamentos (1 Jo 3.16).

4.2 O perdão não deve ser negado (Mt 18.35a).
Jesus ensinou que não podemos negar o perdão aquele que arrependido nos rogar, tendo como base o caráter generoso do próprio Deus, que sempre nos perdoa quando sinceramente lhe pedimos. A Bíblia diz que Ele “está pronto a perdoar” (Sl 86.5); e, que é “grandioso em perdoar” (Is 55.7). Veja ainda: (2 Cr 7.14; Pv 28.13; 55.7; 1 Jo 2.1). Portanto, quando perdoamos nos assemelhamos a Deus (Lc 6.36; Ef 4.32 Cl 2.13; 1 Jo 1.9; 2.12).

4.3 O perdão não deve ser superficial (Mt 18.35b).
Perdoar é mais que palavras (1 Jo 3.18). Jesus ensinou que é preciso que o perdão brote do coração, ou seja, do íntimo do nosso ser (Mt 18.35-b). A Bíblia diz que não podemos guardar ira no coração (Ef 4.26; Tg 3.14), nem permitir que nele brote raiz de amargura (Ef 4.31; Hb 12.15). Como é nele que pode se formar o ódio, é nele que o perdão deve nascer a fim de curar o mal em sua nascente. Ainda sobre o perdão é preciso destacar que: a) é uma condição para permanecermos em comunhão Deus (Mt 6.12,14-15; 18.35; Mc 11.25,26); b) ele revela se somos autênticos cristãos (Mt 3.8; 7.20; 12.33; Lc 6.44; Gl 5.22); e, c) ele é condição para Deus receber a nossa oferta (Mt 5.23,24).


CONCLUSÃO
Jesus ensinou que as ofensas que os homens cometem uns contra os outros são mínimas em comparação às ofensas que todos cometem contra Deus. Se Ele nos perdoa por Sua graça, devemos tratar o nosso próximo com a mesma graça.



REFERÊNCIAS
Ø  BOYER, Orlando. Espada Cortante. CPAD.
Ø  CHAMPLIN, R. N. Dicionário de Bíblia, Teologia e Filosofia. HAGNOS.
Ø  HOUAISS, Antônio. Dicionário da Língua Portuguesa. OBJETIVA.
Ø  HOWARD, R.E, et al. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Ø  ROBERTSON, A.T. Comentário de Mateus e Marcos. CPAD.
Ø  STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.



Por Rede Brasil de Comunicação.



Nenhum comentário:

Postar um comentário