domingo, 31 de maio de 2020

LIÇÃO 09 – O MISTÉRIO DA UNIDADE REVELADO (SUBSÍDIO)


  



Ef 3.1-13



INTRODUÇÃO
Nesta lição estudaremos a definição teológica da palavra mistério e como este esteve oculto em Deus nos séculos passados; destacaremos que aos apóstolos e profetas este mistério foi revelado, tendo como Paulo o principal receptor desta revelação; a igreja como um projeto de Deus e, por fim; veremos algumas promessas de Jesus para sua igreja.


I. DEFINIÇÃO DA PALAVRA MISTÉRIO
1. Conceito teológico da palavra mistério.
Esta palavra aparece vinte e sete vezes no NT e vem termo grego: “mysterion” e significa “segredo” ou “doutrina secreta”, trata-se de uma verdade divina, antes oculta, mas agora revelada de forma sobrenatural aos homens, e que só pode ser totalmente entendida pelos indivíduos salvos através da iluminação do Espírito Santo (WYCLIFFE, 2010, p. 1292). No texto de Efésios 3.3 o termo mistério se refere à igreja como o corpo de Cristo incluindo os judeus e os gentios. No NT esse termo também se aplica: a) a encarnação de Cristo (Cl 2.2,9; 1 Tm 3.16); b) as características do reino espiritual atual (Mt 13.11; Mc 4.11; Lc 8.10); c) a cegueira temporária de Israel (Rm 11.25) d) e a transformação do crente na volta de Cristo (1Co 15.51).


II. O MISTÉRIO DESCONHECIDO NO AT
1. Os profetas do AT não tiveram a revelação e compreensão exata deste mistério.
Paulo afirma que o mistério, que é a igreja, através dos séculos esteve oculto em Deus que tudo criou (Ef 3.5,9). Embora Deus tenha prometido a bênção universal da salvação por intermédio de Abraão (Gn 12.3), o pleno significado dessa promessa só tornou-se claro com o primeiro advento de Cristo tendo como o apóstolo Paulo o principal instrumento a quem Deus revelou este mistério: “como me foi este mistério manifestado pela revelação” (Ef 3.3a). Foulkes sinaliza que a acepção da expressão “mistério oculto” não necessariamente significa negar a existência de vislumbres do propósito de Deus quanto a este assunto no Antigo Testamento, mas reconhecer que essa verdade não era “inteiramente compreendida”, que judeus e gentios deveriam realmente se tornar um só povo […] ( apud BAPTISTA, 2020, p. 120).

2. A salvação dos gentios sempre esteve no plano Divino.
A salvação dos gentios sempre fez parte do plano salvífico e foi claramente revelada nos livros do Antigo Testamento como: na Lei, Profetas e dos Escritos (Gn 12.1-3; Dt 32.43; Is 11.10; Sl 18.49; 117.1). Na promessa feita a Abraão em Gênesis 12.3, estava exposta a intenção divina de salvar (abençoar) todos os homens, judeus e gentios. “[…] e em ti serão benditas todas as famílias da terra(Gn 12.3; Gl 3.8). Destacamos ainda, a inclusão de estrangeiros na celebração da Páscoa ou na adoração a Deus de uma maneira geral, por meio de uma condição, que era a circuncisão (Êx 12.48; Nm 15.14; 2 Cr 6.32) denotando assim, a inclusão dos gentios no plano Divino. Falando do Servo Sofredor, Isaías declarou no século VII a.C.: “Também te dei para luz dos gentios, para seres a minha salvação até à extremidade da terra” (Is 49.6b). A salvação dos gentios foi reafirmada e proclamada no Novo Testamento (Rm 1.16; Tt 2.11), o próprio Jesus ordenou: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15).


III. O APÓSTOLO DOS GENTIOS E A REVELAÇÃO DO MISTÉRIO
Paulo afirma que o mistério (a igreja) constituída de judeus e gentios, foi revelado pelo Espírito Santo aos apóstolos e profetas do NT (Ef 3.5; ver Mt 28.19,20; At 1.8). Todavia, a ele o “mínimo de todos os santos” foi lhe dado a graça de anunciar aos gentios as “riquezas incompreensíveis de Cristo” (Ef 3.8). Ele recebeu esta missão: “pelo dom da graça de Deus, que me foi dado segundo a operação do seu poder” (Ef 3.7). Vejamos algumas verdades:

1. Paulo, o prisioneiro de Cristo (Ef 3.1).
No capítulo 3 Paulo inicia falando da sua condição atual à luz da vontade e do chamado de Deus para sua vida. Embora Paulo tenha sido prisioneiro por cerca de dois anos em Cesareia e dois em Roma, ele não considerava a si mesmo como sendo prisioneiro de um governo ou pessoa e sim, um “prisioneiro de Jesus Cristo” a expressão tem o sentido de estar sujeito a Cristo, (ver Fm v.9; Rm 1.1) isto mostra o quanto ele acreditava na soberania de Cristo sobre sua vida. À luz do texto, ele não lamenta a prisão, mas inverte a situação, e torna o seu cativeiro uma oportunidade para melhor servir ao Senhor.

2. Paulo, o despenseiro da graça de Deus (Ef 3.2,3).
O apóstolo assume o seu papel mais importante na missão que recebeu de Cristo que é o de ser despenseiro da graça de Deus. A palavra “despenseiro” é a tradução do termo original grego “oikonomia”. O “oikonomos” denotava primariamente: “o administrador de uma casa ou propriedade”, formado de “oikos”, “casa”, e “nemo”, “arranjar, organizar” (VINE, 2002, p. 800). Paulo revela que seu ministério recebido da parte de Cristo era o de revelar, dispensar e mostrar o propósito da graça de Deus a todos os homens. A revelação do mistério não foi dada a Paulo para que a guardasse, mas para que a passasse adiante, particularmente aos gentios (2 Tm 1.11; 2 Co 10.1; Gl 5.2-3; Cl 1.23).

3. Paulo, o possuidor da revelação do mistério da graça de Deus (Ef 3.3-5).
Paulo afirma ter recebido por revelação divina, a graça de anunciar este mistério entre os gentios. “A graça a que Paulo se refere aqui não é a “graça salvadora” como em Efésios 2.5,8, porém a mensagem da revelação e o divino encargo que estavam envolvidos em sua ida aos gentios (Ef 3.7,8) (ARRINGTON; STRONSTAD, 2004, p. 1226 – acréscimo nosso). A designação do seu ministério aos gentios foi revelado na sua conversão por um discípulo chamado Ananias, quando o Senhor disse: “Vai, porque este é para mim um vaso escolhido para levar o meu nome diante dos gentios, e dos reis, e dos filhos de Israel” (At 9.15). Quando se reuniu com os líderes da Igreja para falar sobre sua missão entre os gentios conhecidos como “os da incircuncisão” Paulo afirma que a ele foi confiado esta missão, recebendo assim, o apoio daqueles que eram considerados como colunas da igreja “[…] deram-nos as destras, em comunhão comigo e com Barnabé, para que nós fôssemos aos gentios e eles, à circuncisão” (Gl 2.7,9).


IV. A IGREJA COMO UM PROJETO DE DEUS
Desde a eternidade, a igreja foi projetada na mente de Deus, tendo o seu ápice na história com a encarnação do verbo (Jo 1.14) estabelecendo o divisor entre o Antigo e Novo pacto, bem como as bases para a ação presente da Igreja. Notemos:

1. Um projeto com riquezas incompreensíveis (Ef 3.8).
A palavra “riquezas” não transmite quantidade, mas preciosidade. Agora, os gentios estão ouvindo a verdade gloriosa de que o Messias dos judeus também é o Salvador dos gentios. Eles também podem desfrutar as riquezas da compaixão, perdão, santificação e orientação, proporcionadas pelo Cristo ressurreto para os homens necessitados (BEACON, 2006, p. 148). “A expressão ‘incompreensíveis’ vem do grego: ‘anezichniastos’ e refere-se aos passos de Deus na revelação de seu plano para os homens sobre as riquezas de sua graça em todos os séculos que virão (Ef 2.7; 3.8,9)” (DAKE, 2010, p. 2096). Para Paulo era um privilégio pregar aos gentios a Cristo como Salvador, e declará-los incluídos como participantes e coerdeiros das bênçãos de Cristo (Ef 3.6; Rm 11.13; 15.16-21). Hoje a igreja através da ação do Espírito Santo tem a missão de abrir os tesouros das profundezas de Deus e anunciar estas riquezas ao mundo (1 Pe 2.9; Mc 16.15).

2. Um projeto que manifesta a multiforme sabedoria de Deus (Ef 3.10).
É impossível sondar a majestade e a diversidade da sabedoria de Deus em redimir o mundo (Rm 11.33). A intenção de Deus é que, pela igreja, sua multiforme sabedoria seja conhecida. A palavra Multiforme “polypoikilos” ocorre somente neste texto no Novo Testamento. Significa “matizado, de diferentes cores” (BEACON, 2006, p. 149 – grifo nosso). A sabedoria divina tem muitas facetas, e os mais variados modos de manifestação e expressão. A igreja como projeto de Deus precisa corresponder à expectativa divina e proclamar, a multiforme sabedoria de Deus. “Não se trata de mudar a mensagem ou “ajustá-la” ao modus vivendi da sociedade. Mas significa encontrar canais adequados para a realidade de hoje, pelos quais possa ela fazer fluir a água da vida, alicerçando-se sobre o verdadeiro fundamento que sustenta a sua existência (1 Co 3.10-15)” (GILBERTO inc COUTO, 2013, p. 386). Paulo destaca que esta sabedoria deve ser “conhecida dos principados e potestades nos céus” (v.10b). A respeito dos principados e potestades aqui citados, a maioria dos estudiosos da Bíblia concorda que: “a expressão se refere aos reinos celestiais, seja aos anjos bons (Cl 1.16) que anseiam por conhecer a sabedoria de Deus na redenção (1 Pe 1.12), ou pode se referir a governantes demoníacos (Ef 6.12-18; Dn 9.2-23; 2 Co 10.4,5) que há muito tempo se opõem ao ‘eterno propósito’ de Deus em Cristo (Ef 3.11)” (ARRINGTON; STRONSTAD, 2004, p.1229 - grifo nosso).


V. PROMESSAS INFALÍVEIS PARA A IGREJA
1. Ousadia, acesso e confiança (Ef 3.12).
Essas três palavras ousadia, acesso e confiança, tornam possível nossa comunhão mais profunda com Deus. Em Cristo não mais existe a “parede de separação” (Ef 2.14) que, sob o Antigo pacto, mantinha os gentios distantes de Deus e os separava dos judeus. A base de nossa ousadia e acesso é Cristo (Rm 5.1,2). É Nele que temos esta liberdade. Não podemos ir a Deus por nosso mérito próprio, mas com confiança (fé) no sacrifício de seu filho, Jesus (Hb 10.19-22).

2. Jesus permanece com a sua Igreja (Mt 28.20).
Antes de subir aos céus, após cumprir a missão redentora em favor da Igreja, Jesus prometeu aos seus discípulos que estaria com eles: “todos os dias, até a consumação dos séculos” (Mt 28.20). Esta promessa é a razão do triunfo da Igreja e, consequentemente, de cada crente em particular. Não estamos sós, não lutamossozinhos, não andamos sem companhia, aquele que edificou a Igreja é o mesmo que cuida e protege o Seu rebanho (Mt 16.18; Sl 23.1-6).

3. A igreja é invencível (Mt 16.18).
A Igreja de Cristo é invencível porque ela vive sob uma promessa divina: "[...as portas do inferno não prevalecerão contra ela]" (Mt 16.18). Nada, nem ninguém, pode destruir a Igreja de Cristo. Ela marcha triunfante e vitoriosa sob o comando daquEle que a edificou, avançando contra as hostes celestiais da maldade (Ef 6.12).


CONCLUSÃO
Em Cristo judeus e gentios constituem-se um só povo, a igreja de Deus: “Não há judeu nem grego; não há escravo nem livre; não há homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus (Gl 3.28). A igreja hoje tem a missão de revelar os mistérios da graça de Deus ao mundo (1 Pe 2.9). 



REFERÊNCIAS
Ø  ARRINGTON, FrenchL; STRONSTAD, R. (Eds.). Comentário Bíblico Pentecostal do NT. CPAD.
Ø  HARPER, A. F. Comentário Bíblico Beacon. CPAD.
Ø  DAKE. Bíblia de Estudo. EDITORA ATOS.
Ø  BAPTISTA, Douglas. A Igreja Eleita: Redimida pelo Sangue de Cristo e Selada com o Espírito Santo da Promessa. CPAD.
Ø  WYCLIFFE. Dicionário Bíblico. CPAD.
Ø  GILBERTO. Teologia Sistemática Pentecostal. CPAD. 


Por Rede Brasil de Comunicação.



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