sábado, 30 de maio de 2015

LIÇÃO 09 – AS LIMITAÇÕES DOS DISCÍPULOS





Lc 9.38-42,46-50 



INTRODUÇÃO
Professor, como anda o aprendizado de seus alunos? As dúvidas deles são sendo sanadas? Sabia que nós, professores, como qualquer ser humano normal, também possuímos nossas limitações. Por isso, se não souber responder alguma indagação no momento da aula, não fique constrangido; mas, comprometa-se a trazer a resposta na aula seguinte. Assim, a equivoca ideia de que sabemos de tudo não deve ser alimentada, o que não nos exime da responsabilidade de termos o domínio do conteúdo da lição. Portanto, esmere-se no preparo da lição para obter tal domínio (Rm 12.7). Na lição de hoje veremos que os discípulos muito falharam por serem, assim como nós, limitados, porém essas falhas e tropeços não devem ser encarados como uma via de mão única, mas, sim, como uma falha onde reside o aprendizado e o perdão. Desejo a todos uma excelente aula!


I. LIDANDO COM A DÚVIDA (Lc 9.37-43)
Por andarem com o Mestre Jesus e verem as obras maravilhosas do nosso Senhor, os discípulos de Jesus são considerados muitas vezes, não como seres humanos normais, mas como pessoas acima da média como se fossem seres humanos perfeitos. Alguns chegam a terem a ideia equivocada de que foram “super-homens”, ou melhor “super-crentes”! Bem, eles, na verdade, eram tão imperfeitos, fracos e frágeis como qualquer um de nós. O episódio do apaziguamento da tempestade (Lc 8.22-25), mostra de forma nítida Jesus advertindo os discípulos sobre a falta de fé deles, dizendo: “Onde está a vossa fé?” (Lc 8.25). Marcos, em seu evangelho, acentuou ainda mais a advertência de Jesus: “Porque sois tão tímidos? Ainda não tendes fé?” (Mc 4.40). Mas, o que é fé? Segundo Aurélio, em seu dicionário, a fé é definida como o exercício da “crença religiosa”, ou da “confiança”. O Pr. Claudionor de Andrade diz que a fé (Do heb. heemim; do gr. pisteuõ; do lat. fidem) é a confiança que depositamos em todas as providências de Deus. Porém, não há uma definição melhor de fé do que a mencionada pelo autor da epístola aos Hebreus, que diz: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a provadas coisas que se não vêem” (Hb 11.1). Assim, a fé nos faz enxergar o invisível e alcançamos o impossível (Mc 11.23,24).
Mas, essa não foi a única vez que o Senhor censurou os discípulos por não demonstrarem a fé necessária em Deus. Ao tentarem expulsar o espírito imundo de um jovem possesso (Lc 9.40), os discípulos por não conseguirem foram, outra vez, juntamente com todos ali presentes, censurados pelo Mestre: “Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco e vos sofrereis?” (Lc 9.41). Mas, como pode acontecer isto? Jesus não deu autoridades aos discípulos? Sim, concedeu! Porém, esse poder ou autoridade está intrinsicamente ligado ou condicionado a nossa comunhão com Ele (Jo 15.4,5; Mc 16.17,18). Sobre o referido episódio o Pr. José Gonçalves, diz: “A meu ver esse é um dos textos mais contundentes sobre as limitações dos discípulos de Jesus. É um texto que mostra claramente que os discípulos não eram homens perfeitos nem ilimitados. Eles foram derrotados diante de um possesso de demônio. Um desesperado pai exclama: “Roguei a teus discípulos que o expulsassem, e não puderam!” Não é que eles não tentaram! Tentaram, mas não puderam. E por que não puderam? As razões podem ser muitas. Jesus os censurou denominando-os de “geração incrédula” (Lc 9.41). Eles não apenas faziam parte de uma cultura incrédula, como também assimilaram seus valores. Foram contaminados pela cultura ao seu redor! Essa “contaminação cultural” sempre foi um perigo iminente para o povo de Deus. Na passagem paralela do Evangelho de Marcos encontramos o texto: “Quando eles se aproximaram dos discípulos, viram numerosa multidão ao redor e que os escribas discutiam com eles” (Mc 9.14). Em vez de expelir o demônio, entraram em divagações teológicas com os escribas. Perderam o foco! Quando se perde o foco, os debates teológicos se tornam mais importantes do que a missão de libertar vidas. Por outro lado, os discípulos aprenderam a viver à sombra do seu Mestre. Acostumaram apenas a assistir Jesus expulsar os demônios e agora que tinha chegado o momento deles mesmos fazerem isso, não fizeram”.
Realmente, muitos podem ser os motivos de os discípulos terem sido envergonhados, e o Pr. Gonçalves em seu comentário já cita alguns: 1) Falta de fé; 2) Associação com uma cultura contaminada; 3) Perda do foco em sua missão; e 4) Comodismo por está na companhia de Jesus. Quanto ao segundo item citado, o Apóstolo Paulo advertindo aos cristãos de sua época no que diz respeito à santidade, os exortou quanto ao perigo iminente e sutil dessa “contaminação cultural” (2 Co 6.16,17; Ef 5.1-8). Todavia, mesmo levando em consideração todos esses fatores, ainda não chegamos ao cerne da questão! Portanto, o Senhor logo revela a eles o porquê de passarem esse vexame: Por causa da vossa pequena fé. Em verdade vos digo que, se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte: Passa daqui para acolá, e ele passará. Nada vos será impossível. Mas esta casta de demônios não se expulsa senão por meio de oração e jejum” (Mt 17.20,21). Assim, por sempre estarem à sombra de Jesus, os discípulos negligenciavam a vida devocional (Mc 4.38; Mt 26.40-45), o que levava eles a terem uma vida devocional pobre. Infelizmente, muitos hoje agem da mesma forma! Acham que por entregarem suas vidas a Cristo, serem membros de uma igreja evangélica e terem uma Bíblia evangélica é o suficiente. Engano! Não basta dizer que somos de Jesus ou que andamos com Ele, não! É indispensável que assumamos nosso dever como discípulos! Os discípulos parecem ter esquecido que o ministério de libertação dependia do Espírito Santo (Mt 12.28; Lc 11.20). E que não basta recorrer ao uso de técnicas e fórmulas na solução de coisas espirituais. Antes, é preciso cultivar um relacionamento com Deus. Em outras palavras, um crente que não busca a Deus através da oração, do jejum e da meditação da Palavra de Deus não terá nenhum poder para enfrentar as forças do mal!


II. LIDANDO COM A PRIMAZIA E O EXCLUSIVISMO (Lc 9.46-48)
Mas, a questão da vida devocional pobre dos discípulos é só a primeira das muitas limitações deles. Em outra situação, quando caminhavam para Cafarnaum (Mt 17.24), indo para casa onde eles se hospedavam (Mc 9.33), os discípulos discutiam pelo caminho sobre “quem era o maior” (Lc 9.46). O adjetivo “maior” no grego é “meizon” e significa “mais forte que”. A ideia deles era realmente de primazia! Como ocorre, infelizmente, hoje em muitas igrejas, quem pregar mais do que o outro; quem cantar melhor do que a outro; quem ensina melhor do que o outro, etc. Isto são reflexos e mentalidade de uma vida ainda não convertida, pois Jesus reprendendo os discípulos disse: “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (Mt 18.3). O Dono do céu esta dizendo que se não vivermos seus ensinamentos, ninguém verá céu algum! E acrescentou: “Portanto, aquele que se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no reino dos céus” (Mt 18.4). Marcos, em seu evangelho, acrescenta dizendo: “Se alguém quiser ser o primeiro, será o último e servo de todos” (Mc 9.35). Esta lição de humildade foi ministrada por Jesus tendo a figura da criança como exemplo (Lc 9.47), porém, mais tarde, o Senhor Jesus ratificou seu ensino com seu próprio exemplo (Jo 13.4,5,12-15). Lamentavelmente, ainda tem crente que não aprendeu esta lição! Cuidado, para seu nome não ser riscado do Livro da Vida do Cordeiro!

Para exemplificar a desastrosa consequência do pecado da primazia, o Pr. Gonçalves cita em seu livro – ‘Lucas – O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito’, uma ilustração escrita pelo escritor egípcio Michael Youssef intitulada “Bispo de Alexandria”, vejamos: “O escritor egípcio Michael Youssef ilustrou como esse desejo por primazia se torna uma poderosa ferramenta nas mãos do Diabo. Youssef conta que no século V, um famoso homem santo costumava passar muito tempo orando no deserto, tal como fez Jesus. Assim como Cristo, esse homem santo sofria tentações. Tão santo era ele, que o Diabo enviou um pelotão inteiro de demônios com o intuito específico de fazê-lo tropeçar e pecar — em suma, fazer o que fosse necessário para que o homem de Deus caísse. Eles utilizaram todos os métodos usuais. Pensamentos lascivos para arrastar seu espírito para baixo. Fadiga, para impedi-lo de orar. Fome, para fazê-lo abandonar seus jejuns. Mas não importava o que eles tentassem, ou quão arduamente trabalhassem, seus esforços sempre eram inúteis. No fim, Satanás estava tão irritado com a incompetência de seus lacaios, que os afastou do projeto e assumiu ele mesmo a operação.
“O motivo do fracasso”, ensinava ele a seus seguidores, “é que vocês usaram métodos muitos toscos com aquele homem. Ele não sucumbirá a um ataque direto. Vocês precisam ser sutis e atacá-lo de surpresa. Agora, observem o mestre em ação!”
O Diabo, então, aproximou-se do homem santo de Deus e, muito suavemente, sussurrou estas palavras em seus ouvidos: “Seu irmão foi ordenado Bispo de Alexandria”.
Imediatamente, o maxilar do homem de Deus se enrijeceu. Seus olhos se apertaram. Suas narinas se dilataram. O Bispo de Alexandria! Seu irmão! Que ultraje!

Continuando, diz Yosseff, “Bem, isso é uma lenda, não uma história. Mas ela mostra um ponto importante. Observe que os demônios que tentaram o homem santo não chegaram a lugar nenhum usando os grandes pecados morais. Ele podia vê-los chegando a um quilômetro de distância, e conseguia defender-se. Então, o que fez Satanás? Usou um pecado socialmente aceitável. Ele até mesmo o adequou à fraqueza particular daquele homem. Ele sabia que o homem estava vigilante contra a tentação da carne, e que era inútil tentar emboscá-lo daquela maneira. Assim, entrou de forma sutil usando a inveja e orgulho espiritual, e o fez pensar: ‘Ei, eu sou o santo da família. Por que o meu irmão está sendo ordenado Bispo de Alexandria e não eu?

Em seguida, o Pr. Gonçalves comenta: “Querer ser o primeiro, o maior, o chefe ainda continua sendo uma poderosa tentação para muitos cristãos. Quando acontece no meio da liderança então, os seus efeitos são muito mais catastróficos. Hoje estamos vivenciando uma verdadeira fragmentação da igreja evangélica no Brasil e a causa principal é a disputa pela liderança. Ninguém quer mais ser índio, todos querem virar cacique”.

Outra mentalidade também combatida por Jesus foi a do exclusivismo. Mas, que é exclusivismo? Segundo Aurélio, é o sistema ou feitio de quem repele tudo que é contrário à sua opinião, ou quer tudo só para seu uso ou gozo pessoal. Foi exatamente o que ocorreu quando os discípulos estavam indo para Cafarnaum. Ao chegarem em Cafarnaum, João diz ao Senhor: “Mestre, vimos um homem que em teu nome expulsava demônios, e nós o proibimos de fazer isso porque não segue conosco” (Lc 9.49). Marcos também relata o fato, e tanto ele como Lucas concordam que João fora o porta-voz do grupo, mas a mentalidade exclusivista era do grupo, pois em ambos os textos o verbo acha-se no plural (Mc 9.38 cf Lc 9.49). Porém, como disse o Pr. Gonçalves, a ideia aqui não é validar crenças e práticas heréticas, mas sim de não permitir que o exclusivismo religioso nos cegue de tal forma que só venhamos a enxergar o nosso grupo. Jesus, porém, corrigindo os discípulos disse: “Não lhe proibais. Ninguém há que faça milagre em meu nome, e logo a seguir possa falar mal de mim, pois quem não é contra nós, é por nós” (Mc 9.39).
Na verdade, o exclusivismo religioso era algo típico na cultura judaica. O Apóstolo Paulo dando testemunho de sua religiosidade exclusivista, antes de conhecer o Evangelho de Jesus, disse: “Pois já ouvistes qual foi antigamente a minha conduta no judaísmo, como sobremaneira perseguia a igreja de Deus, e a assolava. E na minha nação excedia em judaísmo a muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais” (Gl 1.13,14 cf Fp 3.3-7). Após torna-se Apóstolo e devidamente livre desde mal, Paulo teve que combater o exclusivismo dentro de uma das igrejas fundada por ele – a igreja de Corinto. Nesta igreja havia vários grupos exclusivistas: os que eram de Paulo; os que eram de Apolo; os que eram de Cefas (Pedro) e os que eram de Jesus (1 Co 1.12). Paulo conseguiu solucionar o problema, porém o remédio utilizado foi amargo (1 Co 3.1-9). Portanto, devemos ter bastante cuidado não apenas com o exclusivismo, mas, também, com os demais “ismo” da vida como o legalismo, o formalismo, o fanatismo, o materialismo, o consumismo, etc. Graças a Deus que passou o tempo onde era comum, pessoas dizerem que só os crentes de determinada denominação eram salvos, como se a salvação não dependesse mais da graça de Deus, mas de determinada instituição religiosa. Num país como o Brasil, de extensão continental, é um erro não dialogarmos com outros irmãos de diferentes manifestações evangélicas que tenham compromisso com o núcleo básico da fé cristã.


III. LIDANDO COM A AVAREZA (Lc 12.22-34)
Além da vida devocional pobre dos discípulos, da busca pelo pódio (primazia) e da posição exclusivista dos mesmos, Jesus conhecendo a fragilidade humana para com a avareza (Lc 12.13,14), adverte os discípulos dizendo: “Acautelai-vos e guardai-vos da avareza; a vida de um homem não consiste na abundância dos bens que ele possui” (Lc 12.15). Mas, que é avareza? A avareza é, segundo Orlando Boyer, o desejo demasiado e sórdido de adquirir e acumular riquezas. Então, os discípulos eram mesmo avarentos? Bem, uns mais do que outros, como no caso de Judas (Jo 12.4-6). Todavia, o que chama-nos a atenção é que os promotores da teologia da prosperidade não ministram esse ensino de Jesus; por outro lado, muitos crentes preferem ouvir as mentiras desses falsos profetas do que obedecer a Jesus e guardar o seu ensino! Assim, para exemplificar seu ensino sobre a avareza, Jesus passa a narrar uma parábola (Lc 12.16-21).
Em seguida, como reforço, Jesus passa a ensinar aos discípulos a não viverem ansiosos pelas coisas desta vida (Lc 12.22-31). Mas, o que é ansiedade? A ansiedade é um estado emocional de inquietude, medo e perturbação do Sistema Nervoso Central. Ela está no topo da lista dos grandes males que afligem a sociedade dos nossos dias. Até mesmo entre os crentes em Jesus, há os que se deixam dominar pela ânsia, agitação e medo, anulando a fé em suas vidas (2 Co 5.7; Hb 10.38). A ansiedade é o caminho mais rápido de acesso ao estresse, que é o resultado de um conjunto de reações orgânicas e psíquicas do organismo humano quando exposto a estímulos como provocação, irritação, medo, etc. Vejamos, pois, no quadro abaixo algumas das causas, sintomas e tratamentos desta doença:


ANSIEDADE
É um estado emocional de inquietude, medo e perturbação do Sistema Nervoso Central.



CAUSAS

Sociais: Cuidados excessivos com a vida e com o acúmulo de bens materiais; dívidas insolúveis, saúde, etc.
Drogas: Lícitas e ilícitas (álcool, etc).
Espirituais: Fé vacilante.
Emocionais: Medo, insegurança, desesperança.


SINTOMAS

Físicos: Sudorese, fadiga, cefaleia, taquicardia, nervosismo, etc.
Emocionais: Medo, confusão mental, dificuldade para relaxar, insônia, etc.
Espirituais: Dificuldade para orar, santificar-se e ler a Bíblia.


TRATAMENTO

Medicamentoso: Há remédios para tratar a ansiedade.
Físico-emocional: Caminhada, leitura de um bom livro, etc.
Espiritual: Fé, oração, leitura bíblica e esperança em Deus.

O Pr. Geremias do Couto, utilizando o texto de Mt 6.25-34, comenta o assunto dizendo:  “Após mostrar os perigos que estão por trás do apego aos bens terrenos, o Senhor trouxe o foco de sua mensagem para ver as verdadeiras razões que levam os homem a pôr o coração nas riquezas deste mundo. Em primeiro lugar, fica implícito no texto que um desses motivos (25-31) é a ansiedade pelo consumismo, uma característica do nosso tempo, onde as pessoas são avaliadas não pelo que são, mas pelo que têm. O profeta Isaías vaticinou contra essa postura em que o deleite carnal é mais importante do que o pão de cada dia (Is 55.2). Em segundo lugar, o Senhor deixa transparecer que a ansiedade por maior abastança é outra razão para essa batalha desigual em busca pelo acúmulo de bens. Em terceiro lugar, a preocupação com o amanhã (v.34) também aparece como uma das causa para justificar a ambição pelas riquezas, na expectativa de termos um futuro bem assegurado. É óbvio que todas essas coisas nos são indispensáveis, mas o que o Senhor condena é o fato de elas tomarem o lugar de Deus em nossa vida e se tornarem a fonte de maior preocupação, pois via de regra é por aí que as riquezas acabam tornando-se o nosso algoz”.

O Pr. José Gonçalves comentando o mesmo texto usado pelo Pr. Geremias do Couto, diz: “A preocupação demasiada com as coisas desta vida demonstrou a imaturidade dos discípulos que ainda não tinham conseguido adquirir uma mentalidade diferente daquela da cultura à sua volta. Jesus deixou bem claro que os “gentios procuram todas essas coisas” (Mt 6.32). Que coisas?

1. Os gentios valorizavam mais o corpo do que a alma, mais a estética do que a ética (Mt 6.25).
2. Os gentios entesouravam na terra, mas não possuíam reservas no céu (Mt 6.26).
3. Os gentios buscavam as coisas grandes esquecendo-se das pequenas (Mt 6.28-30).
4. Os gentios priorizavam a obrigação, mas esqueciam a devoção (Mt 6.33).
5. Os gentios preocupavam-se muito com o futuro, mas esqueciam o presente (Mt 6.35).

Tudo o que escrevi tem a ver com uma cultura de consumo. O consumismo parece ser uma prática humana bem antiga, pois Jesus já advertia seus discípulos para não andarem preocupados com o dia de amanhã. O cuidado com a aparência e o estômago tem sido uma das principais preocupações da sociedade pós-moderna. Zygmunt Bauman observou acertadamente que “em uma sociedade de consumidores é muito difícil ser sujeito (gente) sem primeiro virar mercadoria”. E verdade! O desejo pelo bem-estar e a busca desenfreada pelo prazer é uma das principais marcas dessa geração.


IV. LIDANDO COM O RESSENTIMENTO (Lc 17.3,4)
Não bastasse a vida devocional pobre, a busca pela primazia e a posição exclusivista dos discípulos, agora, chegamos no ápice de tudo – o ressentimento e a ausência de perdão! É bem verdade que sob o domínio da natureza pecaminosa, ou seja, do velho homem é impossível vivermos o perdão ensinado por Jesus! Sabe por quê? Porque disse Paulo: “A inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita a lei de Deus, nem em verdade o pode ser. Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.7,8). Assim, só estando sob o domínio do Espírito Santo, ou seja, sendo guiado por Ele é que temos a capacidade concedida por Deus para vivermos o ensino do perdão e outros ensinos também (Rm 8.5,13,14; Gl 5.22,23,25). Aliás, vejamos o que Senhor Jesus ensinou sobre este tema e a sua relevância para nossas vidas. Na oração modelo também conhecida como “Oração do Pai Nosso”, Jesus foi enfático mostrando que para sermos perdoados, primeiro precisamos perdoar, Ele disse: “Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores” (Mt 6.12). Este mesmo ensino foi registrado por Marcos, assim: “E quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa contra alguém, perdoai, para que vosso Pai, que está nos céus, vos perdoe as vossas ofensas. Mas se vós não perdoardes, também vosso Pai, que está nos céus, não vos perdoará as vossas ofensas” (Mc 11.25,26). Jesus está revelando que o perdão é uma via de mão dupla. Que funciona assim: para eu ser perdoado, primeiro preciso perdoar. Em outras palavras: sem ter comunhão com meu irmão, eu também não posso ter comunhão com Deus (1 Jo 1.7; 4.20; 1 Co 12.18-27). Logo, minhas orações não serão nem ouvida por Ele, e muito menos ainda respondidas! Eis aí um dos principais motivos de muitas orações não serem respondidas! A seriedade deste ensino é tamanha que Jesus até o ilustrou por meio de uma parábola (Mt 18.23-35). Na conclusão desta parábola, o Mestre diz: “Assim, vos fará também meu Pai celeste, se de coração não perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas” (Mt 18.35).
Mas, não pára por aí, em Lc 17.3,4, o Mestre diz: “Olhai por vós mesmos. Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o e, se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se pecar contra ti sete vezes no dia, e sete vezes no dia vier ter contigo, e disser: Arrependo-me; perdoa-lhe”. Esse mesmo ensino foi registrado pelo evangelista Mateus, assim: “Ora, se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só. Se te ouvir, ganhaste a teu irmão. Mas se não te ouvir, leva contigo um ou dois, para que pela boca de duas ou três testemunhas toda palavras seja confirmada. E, se não as ouvir, dize-o à igreja; e, se também não ouvir a igreja, considera-o como gentio e cobrador de impostos” (Mt 18.15-17). Jesus mostra que a nova criatura gerada pelo Espírito de Deus por meio da Sua Palavra (Tt 3.5; 1 Pe 1.23), sempre estará, assim como Ele, disposto a perdoar. Mas, se tais frutos não forem gerados, então, esse tal continua sendo gentio (velha criatura) e precisa nascer de novo (Jo 3.5; 2 Co 5.17; Ef 4.20-24; Cl 3.8-14).
Todavia, enquanto o texto de Lucas 17.4 limita a quantidade de perdão por sete ao dia, o texto de Mateus 18.22 joga essa quantidade nas alturas. Ao dirigir-se ao Mestre, Pedro lhe faz uma pergunta: “Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?” (Mt 18.21). É interessante a indagação de Pedro, pois seguido da sua pergunta, ele já veio com a resposta, mostrando seu limite e querendo a aprovação de Jesus. Porém, o Mestre responde para surpresa de Pedro: “Não te digo que até sete vezes, mas setenta vezes sete” (Mt 18.22). Este ensino de Jesus é tão relevante na vida da igreja que, por sua ausência, muitos tipos de enfermidades têm acometido o povo de Deus. Essas doenças são espirituais, físicas e mentais, conhecidas como doenças psicossomáticas, ou seja, doenças geradas por tensão emocionais e que compromete todo o funcionamento do nosso corpo. Desse modo, não só perdemos terreno para o Inimigo como também comprometemos nosso corpo e mente. Assim, o perdão é qual bálsamo para nossa estrutura psíquica (mental), somática (física) e pneumática (espiritual). Ele é a característica fundamental daqueles que receberam de Jesus o ensinamento da mensagem do Reino de Deus. Os discípulos de Jesus foram provados nesta questão quando eles estiveram com Ele, após o nosso Senhor voltar para o Pai. Perdoar o próximo, além de necessário para a alma, é uma via de mão dupla onde o Pai trabalha por nós se tal bem for achado em nossa vida.


CONCLUSÃO
Nesta lição aprendemos que os Apóstolos do Senhor não eram pessoas infalíveis, como muitos pensam; pelo contrário, eles foram homens que aprenderam os ensinos do Mestre e nunca mais foram as mesmas pessoas, porém, eram tão limitados como qualquer um de nós. Por isso, as Escrituras em vez de apresenta-los como heróis, mostram que eles cometeram falhas e tropeços revelando, assim, suas fraquezas e fragilidades. O Apóstolo Paulo chancela essa verdade ao dizer: “Temos, porém, este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós” (2 Co 4.7). O Senhor confirma a declaração de Paulo ao dizer: “A minha graça de basta, pois o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza” (2 Co 12.9a). Portanto, tal realidade revela a grande carência que possuímos de buscamos cada vez mais ao Senhor, por meio da oração, do jejum, da leitura da Palavra e da prática da mesma e, assim, cultivarmos as verdadeiras virtudes cristãs. O perdão ainda continua sendo o melhor remédio para cura da alma! Deus abençoe a todos!



REFERÊNCIAS
Ø BOYER, Orlando. Pequena Enciclopédia Bíblica. CPAD.
Ø ANDRADE, Claudionor de. Dicionário Teológico. CPAD.
Ø GONÇALVES, José. Lucas – O Evangelho de Jesus, o Homem Perfeito. CPAD.
Ø GONÇALVES, José. Lições Bíblicas. (1º Trimestre de 2012). CPAD.
Ø COUTO, Geremias do. Lições Bíblicas. (2º Trimestre de 2001). CPAD.
Ø GABY, Wagner dos Santos. Lições Bíblicas. (3º Trimestre de 2008). CPAD.
Ø Revista Ensinador, nº 62. CPAD.


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