1 Sm 31.1-6
INTRODUÇÃO
Nesta lição
estudaremos sobre suicídio, assunto que recebe uma atenção especial dentro da
Ética Cristã; veremos uma definição do termo e seu conceito básico;
destacaremos algumas causas comuns que tem levado alguns a cometerem esse ato e
suas falsas justificativas; será ressaltado sobre tudo, o que a Bíblia diz
sobre esse assunto e qual a postura para se vencer esta terrível realidade
social.
I. O QUE É SUICÍDIO
A palavra
suicídio tem origem no âmbito secular, embora haja algumas versões da Bíblia
onde encontramos a expressão como tradução dos termos gregos “apokteino”,
que quer dizer: “matar o que seja de toda e qualquer maneira, destruir,
punir com a morte” (Jo 8.22 – ARA); e, “anaireo”, que
significa: “tirar do caminho, matar, assassinar um homem” (At
16.27 – ARA). O termo suicídio foi criado em 1651 pelo médico e filósofo inglês
Walter Charleton (KAISER, 2016, p. 181), e significa basicamente: “O ato
de tirar a própria vida de forma voluntária e intencional” (TYNDALE,
2015, p. 1726). De acordo com Durkheim sociólogo francês que escreveu o
primeiro tratado sociológico sobre suicídio, diz que: “Pode se considerar
suicídio todo caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato, positivo
ou negativo, realizado pela própria vítima e que ela sabia que reproduziria
este resultado” (DURKHEIM apud BAPTISTA, 2018, p. 88 – acréscimo
nosso). Suicídio em termos práticos é assassinar a si mesmo, é dar fim a
própria vida e isso de maneira consciente pelas mais variadas razões.
II. CAUSAS COMUNS E EXEMPLOS DA PRÁTICA DO SUICÍDIO NAS
ESCRITURAS
Estudiosos na
área tem destacado vários fatores ao se analisar pessoas que revelam
comportamentos suicidas (fatores culturais, genéticos, psicossociais e
ambientais) (BAPTISTA, 2018, p. 78); entre esses, dois motivos
principais para o suicídio podem ainda ser destacado: o “heroísmo” e o
desespero (ULRICH, 2009, p. 121 – acréscimo nosso). Nos casos
encontrados na Bíblia sobre tirar a própria vida, na maioria das vezes a causa
principal está vinculada ao fracasso espiritual, acompanhado de
sentimentos como orgulho, frustração e desespero; vemos que seus protagonistas foram
pessoas que deixaram de lado a voz do Senhor, e desobedeceram à sua Palavra.
Vejamos:
·
O exemplo de Abimeleque. Um dos filhos de
Gideão, Abimeleque ordenou ao seu escudeiro que o traspassasse com uma espada,
para que ninguém dissesse que ele havia morrido por uma mulher (Jz 9.50-56).
·
O exemplo de Saul. Foi um rei
fracassado, que deixou o Senhor, e foi em busca de uma médium espírita (1Sm 28.1-19;
31.1-4; 1Cr 10.13,14), e se suicidou para não morrer pelas mãos dos filisteus.
·
O exemplo de Aitofel. Foi um
conselheiro de Absalão, orgulhoso, que se matou por ver que sua palavra fora suplantada
por outro (2 Sm 17.23).
·
O exemplo de Zinri. Um rei sem
qualquer temor de Deus, que usurpou o trono por traição e matança, e que por fim
se matou, quando se viu derrotado pelo exército inimigo (1Rs 16.18,19).
·
O exemplo de Judas Iscariotes. Após trair
Jesus, foi dominado por um profundo remorso, e, em vez de pedir perdão ao
Senhor, foi-se enforcar (Mt 27.5; At 1.18).
III. FALSAS JUSTIFICATIVAS PARA O SUICÍDIO
3.1 Eliminação
da dor pessoal.
Os que advogam a
favor do suicídio como eliminação da dor pessoal, procuram justificar tal ato
como a única saída para as suas situações conflituosas. Diante do desespero, da
falta de expectativa, etc, em todos esses casos dramáticos, o suicídio parece
ser a única solução possível para a resolução de um grande problema, um pseudo ato
redentor que acabaria com o pesadelo pessoal (At 16.27), no entanto, toda vida
pertence a Deus, e apenas ele tem o direito de tomá-la (Dt 32.39; 2Rs 5.7).
Sendo Ele o doador da vida (Jó 12.10), logo, é Deus quem controla a entrada do homem
nesta terra (Gn 2.7; Sl 139.13-16; Jó 33.4), é lógico também, que Deus controla
a saída do homem desta vida, por essa razão ninguém tem o direito perante Deus,
de cometer suicídio.
3.2 O suposto “suicídio”
de Sansão.
Há muitos que
buscam amparar nas Escrituras a prática do suicídio, reportando-se ao exemplo
do personagem enigmático Sansão, que teria tirado a própria vida, e ainda sim,
ter seu nome arrolado na “galeria dos Hérois da Fé” (Hb 11.32).
Para estes, esta é a maior prova de que Deus está de acordo com o suicídio.
Entretanto, segundo Geisler (2015, pp. 131,147) “Sansão não teria cometido
suicídio, ele sacrificou-se por seu povo, há portanto uma grande diferença; o
que Sansão fez foi entregar a sua vida pelos outros - pelo seu povo e
não um suicídio propriamente dito. O soldado que se atira sobre uma granada
para salvar a vida de seus companheiros não está tirando a sua vida, não
está se suicidando; ele está dando a sua vida pelos outros”. Ele morreu na
luta contra os inimigos de seu país, tal como um soldado numa batalha perdida
(Jz 16.30) (BEACON, 2012, p.145). Sendo assim, o ato de Sansão não deveria
ser considerado como suicídio e sim com um sacrifício de guerra.
Portanto, usar o exemplo de Sansão para justificar o suicida é apenas uma falsa
conjectura (BAPTISTA, 2018, pp. 70,76).
IV. O SUICÍDIO À LUZ DA ÉTICA CRISTÃ
4.1 Viola a
sacralidade da vida humana.
A vida é sagrada
e somente Deus pode dar e tirá-la (Gn 2.7; Êx 20.13; Jo 10.18). Moisés pediu a
Deus que tirasse a sua vida (Nm 11.15), o profeta Elias também fez o mesmo (1Rs
19.4) e da mesma forma o profeta Jonas (Jn 4.3). Nos momentos de grande
desespero, esses nunca consideraram o suicídio como uma solução moralmente
viável, embora tenham almejado que Deus tirasse suas vidas, não
consideraram certo fazê-lo por si mesmos. Deus não os ouviu, pois a
vida pertence a Ele, e não a nós. Ele sabe a hora em que a vida humana deve
cessar, sendo soberano de toda a existência (Ec 3.1,2). Tirar a própria
vida é, portanto, uma rejeição tanto da soberania de Deus sobre a vida quanto
um ataque contra a santidade divina (GEISLER, 2010, p. 204).
4.2 Viola o
sexto mandamento do Decálogo.
O princípio
orientador das Escrituras, expresso no sexto mandamento do Decálogo: “Não
matarás” (Êx 20.13; Dt 5.17), condena claramente tanto a eliminação da
vida de outra pessoa, como também da própria. Apesar da insustentável
justificativa por parte de alguns, o suicídio é reprovado à luz da Bíblia e os
que a descumprem prestarão contas diante do Autor da vida (1Jo 3.15).
4.3 Viola o
propósito de Deus para vida do ser humano.
Deus ao criar o
ser humano, a coroa da criação, o fez à sua imagem e semelhança (Gn 1.27),
sendo este objeto da bênção divina (Gn 1.28-a); estabelecendo princípios para
vida humana (At 17.24-27), entre os quais, glorificar a Deus (1Co 6.20; Ef.
1.6). Somos propriedade de Deus, templo e morada do Espírito Santo (1Co 3.16;
6.19), portanto, devemos amar a Deus, ao próximo e a nós mesmos (Mt 22.38,
39;Mc 12.30,31; Lc 10.27). Não compete ao homem tirar sua vida, ao contrário,
ele deverá fazer de tudo para protegê-la. Aos que assim não fazem, resta uma
exortação: “Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá [...]” (1Co
3.17).
V. ATITUDES BÍBLICAS PARA EVITAR O SUICÍDIO
5.1 Conviver
positivamente com as tensões e angústias desta vida.
A vida com Deus
não nos isenta de enfrentarmos situações adversas (Jo 16.33; 1 Pe 4.12); o
patriarca Jó mesmo tendo perdido seu patrimônio, filhos e até a sua saúde (Jó 1.13-19;
2.7,8), e em momentos de grande pressão tenha dito que era melhor não ter
nascido (Jó 3), e até pediu que Deus tomasse sua vida (Jó 6.8-9), no entanto,
não procurou uma solução por meio do suicídio, antes, revelou sua fidelidade
para com Deus (Jó 1.20-22), e expressou sua convicção na grandeza divina e que
sua expectativa estava além da esfera física (Jó 19.25-27), nos ensinando que
nossas aflições não devem ser motivos para recorremos ao suicídio.
5.2 Crer e
confiar na providência divina.
A recomendação
das Escrituras é lançar em Deus e não na morte, a nossa confiança (Sl 18.2; 42.5,11;
91.2; 84.12; 125.1; Nm 1.7; Lm 3.25,26; 1 Pd 5.7). Devemos enfrentar os
problemas com fé em Cristo Jesus, e ele nos ajudará (Jó 13.15; Sl 9.10; 37.5;
Pv. 3.5; Is. 12.2; Mc 9.22-24). O apóstolo João exorta que é possível vencer
através da fé: “[…] e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé” (1
Jo 5.4). Diante das crises que nos cercam é natural nos preocuparmos como será
o nosso futuro; a orientação do nosso Salvador é que não devemos estar ansiosos,
mas, entender o cuidado do Pai Celestial para com seus filhos (Mt 6.25-34); bem
como devemos lembrar de que Deus suprirá as nossas necessidades (Sl 10.14;
68.10; 132.15). A este respeito disse o salmista: “Entrega o teu caminho ao
SENHOR; confia nele, e ele tudo o fará”; “Descansa no SENHOR, e espera nele
[…]” (Sl 37.5,7b); “caminho”, no texto, significa a vida, os problemas
e as decisões a tomar, que muitas vezes são conflitantes, mas, o cristão é
exortado a descansar no Senhor, e não ficar aflito e ansioso com as lutas da
vida, pois, Deus é o nosso “Jeová Jiré”, que provê todas as
coisas essenciais de que necessitamos para uma vida digna, de acordo com a sua
vontade.
5.3 Manter a
comunhão com a família e irmãos na fé.
O suicídio
geralmente resulta também de um alto nível de depressão, e esta por sua vez tem
como característica o isolamento social (1 Rs 19.3-4), e sabemos que todos
estamos sujeitos a enfrentarmos momentos de perda, decepções, sentimentos de
culpa, etc, que podem nos levar a ficar deprimidos, e nos tornarmos suscetíveis
ao desejo pelo suicídio; em contra partida, a Bíblia nos ensina a importância
da comunhão como forma de combater a tais sentimentos nocivos (Fp 2.1; Hb
10.25; 1Jo 1.7); sendo os crentes membros do mesmo corpo espiritual (Rm 12.5;
1Co 12.12,13), compartilhamos das necessidades uns dos outros (Rm 12.13),
choramos com os que choram (Rm 12.15), e carregamos as cargas mutualmente (Gl
6.2).
CONCLUSÃO
A concessão da
vida é de seu proprietário (Deus). Não é portanto da competência do homem decidir
o momento em que a vida deve ser tirada. Só Deus tem o direito de determinar
quando e como uma vida deve terminar.
REFERÊNCIAS
·
BAPTISTA,
Douglas. Valores Cristãos: Enfrentando as Questões de Nosso Tempo. CPAD.
·
BEACON.
Comentário Bíblico Josué a Ester. Vol 2. CPAD.
·
Dicionário
Bíblico Tyndale. GEOGRÁFICA.
·
GEISLER,
N. HOWE, T. Manual de Dificuldades Bíblicas. MC.
·
KAISER,
Jr. Walter. O Cristão e as Questões Éticas da Atualidade. VIDA NOVA
·
REIFLER,
Hans Ulrich. A ética dos Dez Mandamentos. VIDA NOVA.
· STAMPS, Donald C.
Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Por Rede
Brasil de Comunicação.
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