quinta-feira, 23 de novembro de 2023

LIÇÃO 08 – MISSIONÁRIOS FAZEDORES DE TENDAS




 
 
At 18.1-5; 1Ts 4.11,12
 
 

INTRODUÇÃO
Nesta lição faremos uma abordagem sobre o que a Bíblia diz sobre profissão ou trabalho de uma forma geral; destacaremos que o apóstolo Paulo como fazedor de tendas utilizou-se de sua aptidão para viabilizar o trabalho missionário na cidade de Corinto; e, por fim, elencaremos personagens que com sua profissão estiveram a serviço de Deus.
 
 
I. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE PROFISSÃO E TRABALHO, À LUZ DAS ESCRITURAS
1. Definição do termo profissão.
De acordo com o dicionarista Houaiss, profissão é: “trabalho que uma pessoa faz para obter os recursos necessários à sua subsistência; ocupação, ofício, emprego” (2001, p. 2306). O termo encontrado em Atos 18.3, traduzido por “do mesmo ofício”, é a expressão: “homotechnos” que quer dizer: “o que pratica o mesmo ofício ou arte profissão, comércio”.
 
2. Definição do termo trabalho.
De acordo com Houaiss (2001, p.2743) trabalho significa: “esforço incomum; luta, lida, faina; conjunto de atividades produtivas ou criativas, que o homem exerce para atingir determinado fim; atividade profissional regular, remunerada ou assalariada”. Nas Escrituras várias são as palavras usadas traduzidas como trabalho, entre estas destacamos uma das principais que é o substantivo hebraico: “maaseh” que significa: “trabalho, obra, ação, labor, labuta, comportamento”. Esse termo é usado cerca de 235 vezes no Antigo Testamento, aparecendo pela primeira vez na fala de Lameque, pai de Noé, com o sentido de trabalho agrícola (Gn 5.29). Sendo uma palavra geral para designar trabalho, “maaseh” é usada para se referir ao trabalho de um hábil: a) artífice (Êx 26.1); b) tecedor (Êx 26.26), c) joalheiro (Êx 28.11); e, d) perfumista (Êx 30.25). O termo equivalente no Novo Testamento é: “ergon” que denota: “trabalho, emprego, tarefa” (Mc 13.34; Jo 4.34; 17.4; At 13.2; Fp 2.30; 1Ts 5.13). De onde advém o termo: “ergatés” que denota: “operário de campo, agricultor (Mt 9.37,38), “ceifeiros” (Mt 20.1,2,8; Lc 10.2; Tg 5.4), “trabalhador, operário”, em sentido geral (Mt 10.10; Lc 10.7; At 19.25; 1Tm 5.18) (VINE, 2002, pp. 312,1028,1029).
 
3. O trabalho veio antes da queda do homem.
Diferente do que algumas pessoas imaginam, o trabalho não é o julgamento de Deus por causa do pecado de Adão (Gn 3.17-19; Ec 3.13). Se examinarmos corretamente as Escrituras, veremos que Deus colocou o homem no jardim do Éden para o “lavrar e o guardar”, ou seja, para trabalhar antes mesmo da desobediência ao Senhor (Gn 2.15). Adão já trabalhava antes de pecar, cuidando do jardim. Uma das consequências do pecado, além da morte, foi que o trabalho seria “penoso e suado” (Gn 3.19), e isso não significa que ele seja amaldiçoado por Deus. “Não é, pois, bom para o homem que coma e beba e que faça gozar a sua alma do bem do seu trabalho? Isto também eu vi que vem da mão de Deus” (Ec 2.24).
 
4. O trabalho não é resultado do pecado.
Desde o início da criação Deus colocou o homem no jardim para “trabalha-lo, cultivá-lo” (Gn 2.15). A maldição (Gn 3.16-17) era apenas “a dor e a fadiga” que haviam de acompanhar o trabalho (Gn 3.18), não o trabalho em si. Isso é destacado quando Lameque diz, por ocasião do nascimento de Noé, que: “este nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra que o Senhor amaldiçoou” (Gn 5.29). Sendo assim, o trabalho é uma bênção de Deus e é necessário aos homens: “Pois comerás do trabalho das tuas mãos, FELIZ SERÁS, e te irá bem” (Sl 128.2 – grifo nosso). “Em todo trabalho há proveito [...]” (Pv 14.23a).
 
5. O homem imita seu Criador quando trabalha.
Ao trabalhar seis dias e descansar ao sétimo, Israel imitava a Deus ao criar o “kosmos” (Gn 2.1-2). O profeta Isaías disse que Deus trabalha: “Porque desde a antiguidade não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de ti que trabalha para aquele que nele espera” (Is 64.4). Jesus fez também a seguinte declaração: “Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5.17). Uma vez que até dar início ao Seu ministério terreno, Jesus trabalhou como carpinteiro (Mt 13.55; Mc 6.3), nos deixando o modelo a ser seguido (Is 53.3; 1Pe 2.21). O profeta Jeremias falando sobre o trabalho disse: “Construam casas e habitem nelas; plantem jardins e comam de seus frutos” (Jr 29.5).
 
6. O trabalho dignifica o ser humano.
Os hebreus sempre tinham o trabalho em elevada consideração (Pv 22.29) e, ao contrário dos gregos e romanos, respeitavam o trabalho manual: “[...] quem a ajunta pelo trabalho [lit. pelas mãos] terá aumento” (Pv 13.11 – acréscimo nosso). Na tradição judaica, existem provérbios como os que se seguem: “Aquele que não ensina a seu filho um ofício é como se o guiasse para o roubo”; e ainda: “O trabalho deve ser grandemente premiado, pois ele exalta o trabalhador, e o sustenta” (PFEIFFER, 2007, p. 1955 – grifo nosso). No NT, o princípio de dignidade do trabalho, é proclamado pelo Senhor Jesus e permanece como uma das bases da sociedade: “[...] digno é o trabalhador do seu salário” (Lc 10.7). Diante disso, Paulo para fazer os tessalonicenses repensarem a respeito da importância do trabalho, menciona seu próprio exemplo, que mesmo tendo o direito de receber sustento da igreja (1Co 9.6-14; 2Ts 3.9), abriu mão desse direito deliberadamente, a fim de ser um exemplo aos recém convertidos, trabalhando para prover seu sustento (1Ts 2.9; 2Ts 3.8; At 18.1-3; 20.34; 1Co 4.12) e assim, estabeleceu uma lei de economia social em sua afirmação de que: “Se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2Ts 3.10 – ARA). O grave é a rejeição ao trabalho, isto não tem nada que ver com o desafortunado que não consegue encontrar trabalho (BARCLAY, sd, pp. 22,23 – grifo nosso) ou seja, aos que por razões de falta de oportunidade de emprego, estão sem trabalhar. O proverbista Salomão disse: “O trabalhador trabalha para si mesmo, porque a sua boca o incita” (Pv 16.26).
 
 
II. FAZEDOR DE TENDAS, A PROFISSÃO DO APÓSTOLO PAULO
1. Conciliando profissão e chamado missionário.
No judaísmo, a preparação teológica incluía também para Paulo a aprendizagem e o exercício prático de uma profissão. Os pais judeus ensinavam aos filhos o negócio da família, que permanecia por muitas gerações; Paulo, portanto, provavelmente aprendeu com seu pai em Tarso, o ofício de fabricar tendas e a arte de trabalhar o couro. As ferramentas requeridas para essa arte eram relativamente poucas e podiam ser facilmente transportadas pelo apóstolo (KISTEMAKER, 2006, p.208). Sua profissão é indicada em At 18.3 como: “fabricante de tendas”. Tendas e coberturas de todos os tipos (p.ex., para proteção contra o sol ou para barracas de mercado e cisternas) eram confeccionadas de linho ou de peles de animais. Tarso era de modo especial conhecida pela produção e utilização do linho. Isso ocorre em conexão com o casal Priscila e Áquila, que exerciam a mesma atividade. Os fazedores de tendas têm se tornado populares. A expressão descreve mensageiros transculturais do evangelho eu se sustentam com sua própria atividade profissional, ao mesmo tempo que se envolvem com missões [...] essa pode ser a única forma de os cristãos entrarem em países que não concedem vistos para os que se declaram “missionários” (STOTT, 2003, p. 334).
 
2.Conciliando o chamado de Deus e a necessidade de exercer a profissão.
Em suas epístolas, lemos que Paulo quis sempre trabalhar com as próprias mãos para prover às suas necessidades, mesmo durante as suas viagens missionárias (1Ts 2.9; 1Co 4.12; 2Co 11.27). Diante disso, pode-se perguntar: “um missionário dever ter um ministério sustentado por um ofício para não depender da comunidade cristã para seu sustento”? Não necessariamente, pois o Senhor Jesus ensinou que: “aos que pregam o evangelho que vivam do evangelho” (1Co 9.14; comparar com Mt 10.10; Lc 10.7; 1Tm 5.18). Mesmo assim, Paulo escreve que para evitar obstáculos à divulgação do evangelho ele se abstinha de receber o sustento material (1Co 9.12b), tonando-se um referencial de que, um missionário pode praticar um ofício e assim penetrar num mundo que seria, de outra forma fechado ao evangelho. Sendo a profissão em particular, um veículo para o ensino da Palavra de Deus (KISTEMAKER, 2006, p. 209).
 
 
III. A PROFISSÃO A SERVIÇO DO REINO DE DEUS
1. Os artesãos que construíram o tabernáculo.
A descrição detalhada do Tabernáculo, incluídos os numerosos acessórios e mobiliário exigia um toque hábil. Deus revelou o tabernáculo a Moisés (Êx 25.9), e através dele convocou Bezalel e Aoliabe e outros artífices (escultores, artesãos, carpinteiro, marceneiros e tecelões), imbuídos de devoção e sabedoria e dotados de inteligência e habilidades para elaborar o santuário, cumprindo o que fora ordenado pelo Senhor no monte Sinai (Êx 26.36).
 
2. Neemias e Esdras.
Como copeiro do homem mais importante de sua época, se colocou à disposição para ser um canal de Deus para a restauração das muralhas de Jerusalém. Liderou um grupo de exilados (Ne 2.1-10) tornou-se governador utilizando sua influência política para beneficiar seu povo. Esdras por sua vez, além de sacerdote era exímio escriba, responsável em copiar os textos sagrados, sendo um veículo para a preservação e ensino das Escrituras (Ed 7.6,10; Ne 8.1-4). Possuía uma posição de prestígio na corte persa, tanto que ele foi encarregado de exercer a função de um tipo de secretário de estado dos negócios judaicos (Ed 7.10,11,14,25; Ne 8.1-12).
 
3. Dorcas.
Tabita (o nome hebraico de Dorcas), viveu uma vida de generosidade, compaixão e serviço ao próximo, tornando-se um símbolo inspirador de como o amor divino pode se manifestar através das ações humanas. Era conhecida por sua dedicação em ajudar os necessitados, especialmente as viúvas. Ela costumava confeccionar roupas e peças de vestuário para distribuir entre os mais carentes (At 9.36-42). Quando morreu, a sala se encheu de gente dolorida, pessoas que foram ajudadas por ela. E quando ressuscitou, a notícia se pulverizou pelo povo. Deus usa grandes pregadores como Pedro e Paulo, mas também usa pessoas que têm dons de humanidade como Dorcas.
 
 
CONCLUSÃO
É incentivador saber que Deus tem chamados específicos para determinadas pessoas e para outras, embora não sejam separadas para exercerem funções de lideranças, mas, que por meio de suas atividades profissionais, podem ser uteis igualmente para auxiliar vidas a conhecerem a verdade do evangelho.
   
 
REFERÊNCIAS
Ø  KISTEMAKER, Simon. Comentário do Novo Testamento: Atos. Vol. 2. EDITORA CULTURA CRISTÃ.
Ø  PEREIRA, Shostenes. Fundamentação Bíblica para a Evangelização. BEREIA.
Ø  STOTT, John. A Mensagem de Atos: Até aos Confins da Terra. ABU EDITORA.
Ø  STAMPS, Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø  O’DONNELL, Kelly. Cuidado Integral do Missionário. Londrina: Descoberta.
Ø  PIROLO, Neal. A Missão de Enviar Hoje. Curitiba: Editora Jocum Brasil.
Ø  PRADO, Oswaldo. Do Chamado ao Campo. São Paulo: Sepal.
 
 
Por Rede Brasil de Comunicação.

 



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