At 18.1-5; 1Ts
4.11,12
INTRODUÇÃO
Nesta lição
faremos uma abordagem sobre o que a Bíblia diz sobre profissão ou trabalho de
uma forma geral; destacaremos que o apóstolo Paulo como fazedor de tendas
utilizou-se de sua aptidão para viabilizar o trabalho missionário na cidade de
Corinto; e, por fim, elencaremos personagens que com sua profissão estiveram a
serviço de Deus.
I. CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE
PROFISSÃO E TRABALHO, À LUZ DAS ESCRITURAS
1. Definição do termo profissão.
De acordo com o
dicionarista Houaiss, profissão é: “trabalho
que uma pessoa faz para obter os recursos necessários à sua subsistência;
ocupação, ofício, emprego” (2001, p. 2306). O termo encontrado em Atos
18.3, traduzido por “do mesmo ofício”,
é a expressão: “homotechnos” que quer dizer: “o que pratica o mesmo ofício ou
arte profissão, comércio”.
2. Definição do termo trabalho.
De acordo com
Houaiss (2001, p.2743) trabalho significa: “esforço
incomum; luta, lida, faina; conjunto de atividades produtivas ou criativas, que
o homem exerce para atingir determinado fim; atividade profissional regular,
remunerada ou assalariada”. Nas Escrituras várias são as palavras usadas
traduzidas como trabalho, entre estas destacamos uma das principais que é o
substantivo hebraico: “maaseh” que significa: “trabalho,
obra, ação, labor, labuta, comportamento”. Esse termo é usado cerca de
235 vezes no Antigo Testamento, aparecendo pela primeira vez na fala de
Lameque, pai de Noé, com o sentido de trabalho agrícola (Gn 5.29). Sendo uma
palavra geral para designar trabalho, “maaseh”
é usada para se referir ao trabalho de um hábil: a) artífice (Êx 26.1); b)
tecedor (Êx 26.26), c) joalheiro (Êx
28.11); e, d) perfumista (Êx 30.25).
O termo equivalente no Novo Testamento é: “ergon” que denota: “trabalho,
emprego, tarefa” (Mc 13.34; Jo 4.34; 17.4; At 13.2; Fp 2.30; 1Ts 5.13).
De onde advém o termo: “ergatés” que denota: “operário
de campo, agricultor (Mt 9.37,38), “ceifeiros” (Mt 20.1,2,8; Lc 10.2; Tg
5.4), “trabalhador, operário”, em sentido geral (Mt 10.10; Lc 10.7; At
19.25; 1Tm 5.18) (VINE, 2002, pp. 312,1028,1029).
3. O trabalho veio antes da queda do
homem.
Diferente do que
algumas pessoas imaginam, o trabalho não
é o julgamento de Deus por causa do pecado de Adão (Gn 3.17-19; Ec 3.13).
Se examinarmos corretamente as Escrituras, veremos que Deus colocou o homem no
jardim do Éden para o “lavrar e o guardar”, ou seja, para
trabalhar antes mesmo da desobediência ao Senhor (Gn 2.15). Adão já
trabalhava antes de pecar, cuidando do jardim. Uma das consequências do pecado,
além da morte, foi que o trabalho seria “penoso e suado” (Gn 3.19), e isso
não significa que ele seja amaldiçoado por Deus. “Não é, pois, bom para o homem que
coma e beba e que faça gozar a sua alma do bem do seu trabalho? Isto também eu
vi que vem da mão de Deus” (Ec 2.24).
4. O trabalho não é resultado do pecado.
Desde o início da
criação Deus colocou o homem no jardim para “trabalha-lo, cultivá-lo”
(Gn 2.15). A maldição (Gn 3.16-17) era apenas “a dor e a fadiga” que
haviam de acompanhar o trabalho (Gn 3.18), não o trabalho em si. Isso é
destacado quando Lameque diz, por ocasião do nascimento de Noé, que: “este
nos consolará dos nossos trabalhos e das fadigas de nossas mãos, nesta terra
que o Senhor amaldiçoou” (Gn 5.29). Sendo assim, o trabalho é uma
bênção de Deus e é necessário aos homens: “Pois comerás do trabalho das tuas mãos,
FELIZ SERÁS, e te irá bem” (Sl 128.2 – grifo nosso). “Em
todo trabalho há proveito [...]” (Pv 14.23a).
5. O homem imita seu Criador quando
trabalha.
Ao trabalhar seis
dias e descansar ao sétimo, Israel imitava a Deus ao criar o “kosmos”
(Gn 2.1-2). O profeta Isaías disse que Deus trabalha: “Porque desde a antiguidade não se
ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um Deus além de
ti que trabalha para aquele que nele espera” (Is 64.4). Jesus fez
também a seguinte declaração: “Meu Pai trabalha até agora, e eu
trabalho também” (Jo 5.17). Uma vez que até dar início ao Seu
ministério terreno, Jesus trabalhou como carpinteiro (Mt 13.55; Mc 6.3), nos
deixando o modelo a ser seguido (Is 53.3; 1Pe 2.21). O profeta Jeremias falando
sobre o trabalho disse: “Construam casas e habitem nelas; plantem
jardins e comam de seus frutos” (Jr 29.5).
6. O trabalho dignifica o ser humano.
Os hebreus sempre
tinham o trabalho em elevada consideração (Pv 22.29) e, ao contrário dos gregos
e romanos, respeitavam o trabalho manual: “[...] quem a ajunta pelo trabalho
[lit. pelas mãos] terá aumento” (Pv 13.11 – acréscimo
nosso). Na tradição judaica, existem provérbios como os que se seguem: “Aquele que não ensina a seu filho um ofício
é como se o guiasse para o roubo”; e ainda: “O trabalho deve ser grandemente premiado, pois ele exalta o
trabalhador, e o sustenta” (PFEIFFER, 2007, p. 1955 – grifo nosso). No NT,
o princípio de dignidade do trabalho, é proclamado pelo Senhor Jesus e
permanece como uma das bases da sociedade: “[...] digno é o trabalhador do
seu salário” (Lc 10.7). Diante disso, Paulo para fazer os
tessalonicenses repensarem a respeito da importância do trabalho, menciona seu
próprio exemplo, que mesmo tendo o direito de receber sustento da igreja (1Co
9.6-14; 2Ts 3.9), abriu mão desse direito deliberadamente, a fim de ser um
exemplo aos recém convertidos, trabalhando para prover seu sustento (1Ts 2.9;
2Ts 3.8; At 18.1-3; 20.34; 1Co 4.12) e assim, estabeleceu uma lei de economia
social em sua afirmação de que: “Se alguém não quer trabalhar,
também não coma” (2Ts 3.10 – ARA). O grave é a rejeição ao trabalho,
isto não tem nada que ver com o desafortunado que não consegue encontrar
trabalho (BARCLAY, sd, pp. 22,23 – grifo nosso) ou seja, aos que por
razões de falta de oportunidade de emprego, estão sem trabalhar. O proverbista
Salomão disse: “O trabalhador trabalha para si mesmo, porque a sua boca o incita”
(Pv 16.26).
II. FAZEDOR DE
TENDAS, A PROFISSÃO DO APÓSTOLO PAULO
1. Conciliando
profissão e chamado missionário.
No judaísmo, a
preparação teológica incluía também para Paulo a aprendizagem e o exercício
prático de uma profissão. Os pais judeus ensinavam aos filhos o negócio da
família, que permanecia por muitas gerações; Paulo, portanto, provavelmente
aprendeu com seu pai em Tarso, o ofício de fabricar tendas e a arte de
trabalhar o couro. As ferramentas requeridas para essa arte eram relativamente
poucas e podiam ser facilmente transportadas pelo apóstolo (KISTEMAKER, 2006,
p.208). Sua profissão é indicada em At 18.3 como: “fabricante de tendas”.
Tendas e coberturas de todos os tipos (p.ex., para proteção contra o sol ou
para barracas de mercado e cisternas) eram confeccionadas de linho ou de peles
de animais. Tarso era de modo especial conhecida pela produção e utilização do linho.
Isso ocorre em conexão com o casal Priscila e Áquila, que exerciam a mesma
atividade. Os fazedores de tendas têm se tornado populares. A expressão
descreve mensageiros transculturais do evangelho eu se sustentam com sua
própria atividade profissional, ao mesmo tempo que se envolvem com missões
[...] essa pode ser a única forma de os cristãos entrarem em países que não
concedem vistos para os que se declaram “missionários” (STOTT, 2003, p. 334).
2.Conciliando o
chamado de Deus e a necessidade de exercer a profissão.
Em suas epístolas,
lemos que Paulo quis sempre trabalhar com as próprias mãos para prover às suas
necessidades, mesmo durante as suas viagens missionárias (1Ts 2.9; 1Co 4.12;
2Co 11.27). Diante disso, pode-se perguntar: “um missionário dever ter um ministério sustentado por um ofício para
não depender da comunidade cristã para seu sustento”? Não necessariamente,
pois o Senhor Jesus ensinou que: “aos que pregam o evangelho que vivam do
evangelho” (1Co 9.14; comparar com Mt 10.10; Lc 10.7; 1Tm 5.18). Mesmo
assim, Paulo escreve que para evitar obstáculos à divulgação do evangelho ele
se abstinha de receber o sustento material (1Co 9.12b), tonando-se um
referencial de que, um missionário pode praticar um ofício e assim penetrar num
mundo que seria, de outra forma fechado ao evangelho. Sendo a profissão em
particular, um veículo para o ensino da Palavra de Deus (KISTEMAKER, 2006, p.
209).
III. A PROFISSÃO A
SERVIÇO DO REINO DE DEUS
1. Os artesãos que
construíram o tabernáculo.
A descrição
detalhada do Tabernáculo, incluídos os numerosos acessórios e mobiliário exigia
um toque hábil. Deus revelou o tabernáculo a Moisés (Êx 25.9), e através dele
convocou Bezalel e Aoliabe e outros artífices (escultores, artesãos,
carpinteiro, marceneiros e tecelões), imbuídos de devoção e sabedoria e dotados
de inteligência e habilidades para elaborar o santuário, cumprindo o que fora
ordenado pelo Senhor no monte Sinai (Êx 26.36).
2. Neemias e Esdras.
Como copeiro do
homem mais importante de sua época, se colocou à disposição para ser um canal de
Deus para a restauração das muralhas de Jerusalém. Liderou um grupo de exilados
(Ne 2.1-10) tornou-se governador utilizando sua influência política para beneficiar
seu povo. Esdras por sua vez, além de sacerdote era exímio escriba, responsável
em copiar os textos sagrados, sendo um veículo para a preservação e ensino das
Escrituras (Ed 7.6,10; Ne 8.1-4). Possuía uma posição de prestígio na corte
persa, tanto que ele foi encarregado de exercer a função de um tipo de
secretário de estado dos negócios judaicos (Ed 7.10,11,14,25; Ne 8.1-12).
3. Dorcas.
Tabita (o nome hebraico de Dorcas), viveu uma
vida de generosidade, compaixão e serviço ao próximo, tornando-se um símbolo
inspirador de como o amor divino pode se manifestar através das ações humanas.
Era conhecida por sua dedicação em ajudar os necessitados, especialmente as
viúvas. Ela costumava confeccionar roupas e peças de vestuário para distribuir
entre os mais carentes (At 9.36-42). Quando morreu, a sala se encheu de gente
dolorida, pessoas que foram ajudadas por ela. E quando ressuscitou, a notícia
se pulverizou pelo povo. Deus usa grandes pregadores como Pedro e Paulo, mas
também usa pessoas que têm dons de humanidade como Dorcas.
CONCLUSÃO
É incentivador
saber que Deus tem chamados específicos para determinadas pessoas e para
outras, embora não sejam separadas para exercerem funções de lideranças, mas,
que por meio de suas atividades profissionais, podem ser uteis igualmente para
auxiliar vidas a conhecerem a verdade do evangelho.
REFERÊNCIAS
Ø KISTEMAKER,
Simon. Comentário do Novo Testamento: Atos. Vol. 2. EDITORA CULTURA
CRISTÃ.
Ø PEREIRA,
Shostenes. Fundamentação Bíblica para a Evangelização. BEREIA.
Ø STOTT,
John. A Mensagem de Atos: Até aos Confins da Terra. ABU EDITORA.
Ø STAMPS,
Donald C. Bíblia de Estudo Pentecostal. CPAD.
Ø O’DONNELL,
Kelly. Cuidado Integral do Missionário. Londrina: Descoberta.
Ø PIROLO,
Neal. A Missão de Enviar Hoje. Curitiba: Editora Jocum Brasil.
Ø PRADO,
Oswaldo. Do Chamado ao Campo. São Paulo: Sepal.
Por
Rede Brasil de Comunicação.
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